sábado, 31 de julho de 2010

Encanto Sedutor - Carol Marinelli



Sofisticação e sensualidade em cenários internacionais.

Levander Kolovsky tem um passado sombrio e pe¬rigoso. Ele confia apenas em si mesmo e não quer dar seu nome a nenhuma mulher ou filho.
Millie voltou à Austrália para reencontrar Levander. Afinal, eles tiveram uma noite inesquecível juntos... E agora, ela vem lhe contar um segredo: está espe¬rando um filho dele...
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Capítulo Um

Estavam terminando, concluiu Millie.
Ou melhor dizendo, ele estava terminando com ela.
Para evitar que sua cabeça congelasse enquanto ser¬via aos clientes naquele restaurante fino em Lembourne, Millie Andrews inventava um cenário para cada uma das mesas que atendia.
E agora, já depois de meia-noite, só havia três mesas a servir.
Uma delas era um jantar de celebração regado a be¬bidas, que felizmente começava a se dispersar agora que o bar estava fechando. A segunda era um casal bas¬tante estressado. A mulher tinha cumprido a obrigação de comer peixe com salada, e era evidente que estava desconfortável dentro do vestido de veludo negro, mui¬to apertado. Millie concluiu que ela devia ter tido filho recentemente e sentia-se constrangida de sair com o marido bonitão.
— Você não quer mesmo sobremesa, não é, querida?
E por fim havia o casal bonito.
Loura, esbelta, agitada, uma mulher formidável im¬plorava a seu companheiro de mesa:
— Por favor, escute. — Seu tom de voz era pre¬mente, e ela procurava a mão dele.
Millie não conseguia decifrar. Marido, noivo... Não parecia. Namorado? Amante, talvez... Ele estava lá sentado, ouvindo impassível, praticamente imóvel aos ape¬los desesperados da mulher.
— Por favor, se você me ouvisse...
Eram tão ricos que nem sequer notaram a garçonete que retirara os pratos praticamente intocados, espi¬chando os ouvidos para escutar a bela loura imploran¬do uma chance, com os olhos azuis brilhando de lágri¬mas, engasgando-se com as palavras e procurando as mãos dele de novo.
— Antes de você dizer que não pode ser, escute o que tenho a lhe dizer primeiro, por favor.
— Talvez você deva tentar ouvir. — grunhiu ele. Tinha uma voz profunda e baixa, com sotaque, mas até então as únicas palavras que dissera a Millie eram:
— Bife malpassado e salada de tomates. Assim, não conseguia identificar o sotaque.
— A noite toda estou lhe dizendo que não, e você ainda insiste.
— Por que acha que insisto, Levander?
Russo, Millie reconheceu por fim, demorando-se bas¬tante ao retirar os pratos da mesa. Ele mal havia tocado a salada; tinha comido só metade do bife. Para obede¬cer ao protocolo, deveria ter lhe perguntado se estava satisfeito, se havia algum problema com a refeição dele, mas a conversa intensa e o estado de espírito dele não incentivavam nenhuma interrupção, e uma vez que era sua última noite em Melbourne, o protocolo que se danasse.
— Você insiste porque tem esperanças de que eu mude de idéia. Quantas vezes você vai ter que me ouvir dizer que não vou mudar de idéia?
Apesar de saber que a cozinha tinha fechado há al¬gum tempo, Millie estava tentada a oferecer o cardápio de sobremesa. Queria continuar ouvindo.
Eles a fascinavam.
Estava em êxtase desde que entraram.
Fascinada por ele.
Ao passar pela porta, reto, pensativo e vagamente fa¬miliar num terno cinza, afrouxando a gravata enquanto seus olhos exprimiam desagrado pelo ambiente, um murmúrio se espalhou e todas as cabeças se voltaram, especialmente a de Millie, que tentou, mas não conse¬guiu acomodá-lo numa mesa. Ross, o gerente correu na frente e os guiou para a mesa mais reservada nos fundos do restaurante, e depois preveniu Millie antes de despa¬chá-la para atendê-los:
— Faça tudo que eles pedirem, está bem?
Sua acompanhante era linda, sim, mas se apagava porque ele era extraordinário.
Como artista, Millie constantemente tinha que res¬ponder à pergunta sobre a origem de sua inspiração, e aqui estava parte da resposta.
A inspiração vinha dos lugares e nos momentos mais inesperados. Doze horas antes de deixar a Austrália para voltar para casa, em Londres, sua cabeça deveria estar cheia com a lista de "coisas para fazer". Deveria es¬tar contando a gorjeta, imaginando se ia poder pagar pela noite em Singapura que tinha reservado no cami¬nho. Em vez disso, estava consumida pelo homem fas¬cinante. Sua beleza era, literalmente, inspiradora.
Sua estrutura óssea era impecável e suas feições fa¬ziam com que seus dedos procurassem por um papel de desenho para capturá-la: em perfeita simetria, como em todas as belezas verdadeiras, os ossos da face contorna¬vam seu rosto, um queixo forte, com a barba por fazer, que contrastava com a pele clara. A cabeleira longa e densa era da cor de carvão, e seus olhos tinham a mesma beleza encantadora, de cor negra profunda e mais bri¬lhante.
Sua companheira era deslumbrante — possivelmen¬te uma das mulheres mais bonitas que Millie havia vis¬to —, mas apagava-se a seu lado. A luz de todo o res¬taurante foi um pouco ofuscada, e ela queria capturar aquilo, fazer dele o único foco — como as infindáveis bonecas russas, Millie meditou, vendo o embrião da pintura que ela criava na mente: ele, o maior destaque, e o resto — sua acompanhante, os outros clientes, o quadro de funcionários, a rua lá fora, objetos diminuin¬do gradativamente, até que não houvesse mais nada.
— Você é um filho-da-mãe frio — sibilou a acompa¬nhante do outro lado da mesa, quase cuspindo as pala¬vras. Mas Millie notou que ele nem sequer vacilou nem tentou contestá-la.
— Deve ser hereditário.
— Então é isso? Depois de tudo que eu disse você fica aí sentado?
Ele continuou sem responder, entediado. Teve a au¬dácia de bocejar enquanto ela explodia em lágrimas.
— Você nem vai pensar sobre isso?
Novamente ele não respondeu, e apesar de Millie ain¬da não ter conseguido saber qual era o status dela, ainda soluçando e de certa forma elegante, a loura retirou-se cambaleante do restaurante. Estava claro que perdera o cargo que tinha há poucos minutos. Nesse momento era uma ex.
— Ela agora espera que eu vá correndo atrás dela...
Aqueles olhos escuros a encararam, seus cílios tão espessos, seu olhar tão intenso que, por um segundo, o mundo de Millie parou.
Eu esperaria, pensou Millie, atordoada porque ele es¬tava falando com ela, porque não parecia nem um pouco perturbado por ela ter presenciado esse momento tão pessoal.
— Vou ficar sentado aqui mais um pouco, espero que ela entenda a mensagem e vá para casa.
— Ou talvez ela ligue para você no celular — Millie disse corando, porque apesar de parecer uma conversa inocente, era inapropriado que ela, uma humilde garçonete, fizesse comentários. As ordens da gerência eram claras: deveria sorrir educadamente e seguir em frente.
Só que não foi isso que ela fez.
Optou pelo caminho das boas maneiras. Os olhos dele cravaram-se nela e o impacto da proximidade, de estar conversando com ele, foi devastador. Ele certamente sa¬bia disso, porque em vez de olhar para o outro lado, em vez de dispensá-la, respondeu com uma pergunta:
— Você esperaria?
— Talvez.
Quando conseguiu falar, a voz saiu sem que pudesse respirar. Sua blusa de repente estava tão apertada que lutava para encher os pulmões de ar, sua pele ardia e não porque Ross, seu gerente, a estava olhando e fran¬zindo a testa por vê-la de conversa com um cliente.
— Quando eu me acalmasse, quando eu...
Ela não terminou porque, coincidentemente, o celu¬lar dele tocou. E naquele momento Millie foi além dos limites. Em vez de se virar e sair discretamente, em vez de voltar para o bar para deixá-lo atender à ligação, ela ficou ali, observando-o pegar o telefone com dedos tão longos, pálidos e finos que Millie se perguntou se ele também era pintor — imaginando se aquela seria a ra¬zão pela qual estava tão atraída por ele.
— Obrigado pelo aviso — disse ele, desligando o telefone.
— De nada — respondeu Millie, com o rosto arden¬do de excitação, e pela primeira vez íntima do sorriso sem pudor que lhe aflorou no rosto.
— Outro.
Ele apontou para o copo e Millie quase disse que não, que o bar tinha fechado há dez minutos. Mas dando uma olhada para seu chefe, e balançando furiosamente a ca¬beça, ela sorriu e dirigiu-se ao balcão.
— O que estava acontecendo? — perguntou Ross logo que ela se aproximou.
— O quê?
— Vamos, Millie, não brinque comigo. Que conversa íntima era aquela que você estava tendo com Levander?
— Ele só estava falando.
Millie corou, não só por ter sido flagrada flertando, até seu nome era sexy.
— Foi você quem disse que tinha de atender à mesa em tudo. Teria sido indelicado eu me retirar.
— Você sabe como lidar com isso. — Ross olhou-a ameaçadoramente.
— Você quer que eu leve esse drinque para ele?
— Claro que não.
— Millie balançou a cabeça, mudando rapidamente de assunto enquanto Ross colocava uma generosa por¬ção de vodca no copo.
— Quer que eu sirva o vinho do porto que aqueles executivos queriam? Podem ficar frustrados se nos vi¬rem servindo outro cliente.
— O bar está fechado — disse Ross, colocando o drinque para que Millie o levasse. — Pelo menos para qualquer um que não seja um Kolovsky.
— Kolovsky?
Millie franziu o cenho, esperando que ele explicasse, mas Ross só deu um sorriso.
— É dinheiro em russo!
Colocando o drinque na frente do homem, Millie fi¬cou curiosamente desapontada quando ele não olhou para ela, nem deu um distraído obrigado. Em vez disso, olhou fixamente para o outro lado do salão e para a rua lá fora, tamborilando os dedos. Ela nunca levou tanto tempo para servir um drinque, pegar alguns copos va¬zios e esperar — até que ele a trouxesse para o foco, para mais uma vez, ainda que por um momento, ser a mulher que chamou sua atenção.
Só que ele não fez nada disso.
— É melhor você ir para casa, Millie.
Ross se aproximou enquanto o último executivo de¬sordeiro finalmente se retirava, mas as palavras tão ansiosamente esperadas não soaram tão doces agora. Apesar de seu cansaço, apesar de uma mala vazia es¬perando para ser feita e um vôo para pegar de volta para Londres pela manhã, de repente não queria ir. Olhando para a mesa, observava-o recostando-se na cadeira, tomando um lento gole do seu drinque. Ross fez o mesmo.
— É melhor eu começar a fechar a contabilidade. Pa¬rece que já terminou por hoje.
Millie não pôde fazer nada, mas ficou chateada — ser¬vir um drinque extra para um cliente especial era uma coisa, mas Ross sentar-se e esperar uma ou duas horas era inusitado. Dessa vez Ross ficou feliz em explicar:
— Ele dá uma gorjeta muito boa, como você vai ver.
De uma pasta de veludo preto, retirou uma quantida¬de enorme de notas, ficou com a sua parte e entregou o resto a Millie.
— Parece que você vai acabar ficando em Singapura!
— Meu Deus.
— Você merece. Você tem sido uma excelente fun¬cionária, de grande ajuda para o restaurante.
Foi até a gaveta da registradora e lhe entregou um envelope.
— Aqui está sua gorjeta e seu salário, com uma carta de referência, também. Se você voltar um dia para Melbourne, saiba que sempre haverá um lugar para você aqui.
Millie odiava despedidas, mas do que qualquer coi¬sa. Ross não era tão amigo, mesmo assim lágrimas sur¬giram em seus olhos ao pegar o envelope. Talvez fosse a emoção tomando conta, talvez fosse o fato de que ela nunca voltaria, sua viagem dos sonhos para a Austrália para mostrar sua arte tinha sido um grande fiasco, mas, seja lá por qual razão, ela lhe deu um abraço.
Sem esse emprego ela teria ido para casa semanas antes. Sem esse emprego ela ainda estaria se perguntan¬do se teria dado certo.
Gostasse ou não, pelo menos agora ela sabia a res¬posta.
Havia milhões de coisas que ela tinha de fazer, mas, em vez de dobrar à esquerda ao sair do restaurante, Millie dobrou à direita, velozmente pela rua Collins, com sapatos de saltos gastos, quase que sem olhar para as lojas, dirigindo-se à galeria para uma olhadela final no seu trabalho que estava na vitrine.
E então ela viu aquilo. Sua cabeça se virou tão abrup¬tamente que Millie teve um torcicolo ao correlacionar um rosto muito bonito com um nome muito pomposo.
Casa de Kolovsky.
A fachada azul da cor do céu e as letras douradas, em relevo, eram conhecidas em todo o mundo — ainda que esse mundo fosse tão distante de Millie que até o mo¬mento ela não tinha notado o edifício. Incapaz de resis¬tir agora, entretanto, ela balançou para a frente olhando demoradamente para a vitrine magnífica, enfeitada com muita seda, que era a marca registrada de Kolovsky, com opalas do tamanho de ovos de gaivota jogados apa¬rentemente ao acaso, mas com efeito tão impressionante que Millie tinha certeza de que cada jóia havia sido colocada ali com precisão militar, junto com as mi¬núsculas lâmpadas que cintilavam, capturando a cor leve do tecido.
Kolovsky era famoso por suas impressionantes cole¬ções de moda, assim como pelos tecidos em si: seda rica, pesada, com o mesmo efeito mágico das opalas — capturando a luz e, comentava-se, até mudando de cor de acordo com o humor da mulher. Millie não acreditara quando leu a informação numa revista, mas com o nariz praticamente de encontro à vitrine, observando o peso dos tons fabulosos e a atenção luxuosa aos detalhes, Mille quase se convencera. O que achava difícil acredi¬tar, entretanto, era o que havia acontecido mais cedo. Tinha flertado com Levander Kolovsky em pessoa.
Ela o havia visto antes, lembrava-se agora: playboy notório, o queridinho dos tablóides em Melbourne, todos os seus movimentos, comentários, cada encontro seu, infalivelmente registrado de forma caluniosa.
Millie deu uma gargalhada. Ela flertara com o maior libertino de Melbourne. Espere só até ela contar para Anton!
Afastando-se da vitrine, Millie se permitiu um último vislumbre. Teria adorado vestir-se com algo tão requin¬tado. Não que pudesse se dar ao luxo de ter um. Suspi¬rou, recomeçando seu caminho e passando pelas poucas portas até a galeria. Não podia se permitir nada nesse momento, que era como um artista atormentado tinha que começar, Mille repetiu para si mesma. Mas esse in¬centivo estava começando a perder força, a realidade fria batendo enquanto ela permanecia na calçada do lado de fora da galeria.
Logo em seguida ela não seria mais uma artista esfor¬çada.
Em vez disso, seria professora.
Percebendo uma luz acesa do lado de dentro, Millie ficou bem para trás, não querendo que Anton, o dono, visse suas lágrimas ao dar adeus aos seus sonhos.
— Qual deles é o seu?
Quanto tempo ficara lá admirando, Millie não fazia idéia. Estava tão perdida em seu mundo que não notou alguém se aproximar. Somente agora percebera que es¬tava perto dela, e cada nervo fervia com a consciência disso.
— Aquele.
Millie apontou com mão trêmula para um pequeno quadro a óleo, imaginando que valor ele teria. Era um campo de flores e grama, cada folha sorrindo, cada flor com uma expressão diferente e, no meio, havia uma criança de madeira, sem rosto — era simplesmente sua peça favorita, evocando nela tamanha emoção e lem¬branças que na verdade lhe machucaria muito se fosse vendido. No entanto, era aquele que tinha esperança que lançasse sua carreira.
— Você estava drogada quando pintou isso?
— Não.
Millie deu um sorrisinho, não só pela pergunta, mas da maneira como foi pronunciado. Seu inglês, apesar de excelente, era carregado com um pouco de um sotaque, e um comentário ofensivo parece de algum modo sexy era certamente positivo para ele.
Ela deu uma olhada para ele. Seu rosto estava cola¬do à vitrine e ele examinava seu trabalho. Para um ar¬tista era, na verdade, um elogio — alguém tentando se aprofundar no seu trabalho, em vez de olhá-lo de for¬ma rápida e superficial para em seguida olhar o pró¬ximo.
— Meu irmão é autista. Quando era jovem, lembro-me do médico explicando que a razão pela qual ele não abraçava nem beijava ou demonstrava afeição era a ma¬neira como via o mundo. As nuvens, as árvores, a grama e animais eram para ele tão importantes quanto nós. Para ele, as pessoas eram objetos inanimados. Aquela sou eu. — Ela apontou para o objeto congelado e sem vida no meio. Ele examinava a pintura.
— Conheci uma vez uma criança. Gritava quando tinha de ir para a cama. Não só gritava...
Os olhos acinzentados se voltaram para os dela e Millie se sentiu perdida.
— Toda noite era como se estivesse aterrorizado. Você acha que para ele a cama era real? Que talvez pen¬sasse que a machucaria.
— Talvez.
Millie estava perturbada, imaginando a quem ele estava se referindo, querendo saber mais. Mas não im¬portava de qualquer maneira. Porém seu trabalho ter provocado tal questionamento era gratificante por si só.
— Não sei, mas acho que é possível.
— E posso perguntar o nome da artista?
— Pode. É Millie. — Ela sorriu — Millie Andrews.
— Seu sotaque? Inglaterra? Londres?
— Isso mesmo.
— Você está aqui de férias?
— Férias a trabalho. Millie deu um sorriso triste.
— Vou para casa amanhã.
— Pena.
Ela havia sido abordada em muitas ocasiões, mas nun¬ca tão ostensivamente e nunca por alguém tão divino.
— Millie? — ponderou seu nome por um momento. — Não me é familiar. É alguma abreviação?
— Temos que falar disso?
— Como disse?
— Millicent.
Ela fez uma careta.
— Meus pais devem ter sido... — Não chegou a ter¬minar.
Anton estava acenando freneticamente, reconhecendo-a quando chegou à vitrine, acenando para que en¬trasse. Teria sido indelicado dizer que não e continuar naquela deliciosa conversa. Então, extremamente relu¬tante, voltou-se para despedir-se de Levander.
Claramente ele tinha outras idéias. Quando a porta se abriu, em vez de ir embora, ele dirigiu-se à porta, permi¬tindo que ela entrasse primeiro, sua mão segurando em seu cotovelo. Não foi só a sua ousadia que surpreendeu Millie, mas sim o contato — o inacreditável contato fir¬me e afetuoso de macho que a fez ficar mais excitada do que se atrevia a admitir.
— Pronta para o segredo? — A voz efeminada de Anton ressoou no momento em que a abraçava, mas quase instantaneamente ele a soltou, assim que avistou seu acompanhante. — Minha nossa, Millie. E pensei que você estava trabalhando essa noite.
— Estou, estou — gaguejou Millie. — Estava. An¬ton, este é...
— Eu sei quem ele é. — Anton sorriu. — Bem-vin¬do, bem-vindo, Levander e posso dizer que amei sua nova coleção?
— Não é minha coleção. — Levander também sor¬riu. — Cuido do negócio, não da moda.
— Bem, adorei de qualquer maneira — Anton falou com afetação, mas Levander não o ouvia.
Em vez disso, perambulava pela galeria, estreitando os olhos ao se aproximar dos quadros. Alguns atraíam sua atenção, ou¬tros não mereciam nem um olhar superficial.
— Você o conhece? — Millie cochichou rude, mas ela precisava saber mais a respeito dele.
— Todos sabem quem são os Kolovsky.
— Quero saber se você conhece ele.
— Adoraria — suspirou Anton. — A loja pode ficar algumas portas depois da minha, mas os Kolovsky estão a um milhão de quilômetros de distância. Costumava conversar com os gêmeos, entretanto... — Anton sorriu da surpresa dela. — São tão lindos quanto ele. Millie, você tem idéia de quem é essa pessoa? São praticamen¬te uma família real por aqui — Anton respirou —, e seu namorado é o primeiro da linha.
O tom de sua voz decresceu com a aproximação de Levander, e Anton desfez o embaraço ao olhar para ele.
— Estou repreendendo Millie por se atrever a apa¬recer na sua frente com seu uniforme de garçonete; imagino que já a tenha visto quando não está traba-lhando?
— Ainda não.
Levander virou-se e olhou Millie lenta e demoradamente, tirando sua roupa com olhos despudorados du¬rante momentos indecentes, enquanto ela se contorcia. Mesmo sem se voltar para Anton, continuou a falar:
— Porém gostaria muito que isto acontecesse.
— Bem, não fique muito excitado — Anton suspirou.
— Notei que você só tem um quadro de Millie na vitrine. Outros artistas têm dois.
— Os outros artistas venderam.
Anton colocou as palmas das mãos para cima num gesto de impotência.
— Na verdade, Millie, querida... — Pestanejou le¬vemente. — Não vou colocar você para fora da galeria, mas espaço está raro, e com essa nova exposição vou ter de mover.
— Tem mais trabalhos da Millie? — Levander inter¬rompeu. — Gostaria de vê-los, se puder.
— Claro.
Anton arregalou os olhos para Millie enquanto apon¬tava para os fundos da galeria, um espaço pequeno onde, por enquanto, estava o seu trabalho.
— Seu preço é muito baixo.
Levander deu uma rápida olhada pelo trabalho de Millie e meneou a cabeça negativamente.
— E você parece muito desesperada, agradecida de¬mais quando alguém simplesmente se detém para ver seu trabalho, sem pensar em comprá-lo. Precisa aumen¬tar seu preço.
— Estava mais alto — respondeu Millie — e não vendeu.
— Essa é uma galeria de luxo, não é?
Levander esperou pelo assentimento hesitante de Anton.
— As pessoas não querem lixo nas suas paredes, e com esses preços é isso que pensam que estão comprando.
— Ela é uma desconhecida.
Anton baixou a crista vendo que o seu julgamento foi contestado, mas Levander se manteve firme.
— Hoje ela é uma desconhecida.
Virou-se para Millie.
— Mude-os antes de sair. Reescreva sua bio...
Ele virou a página do folheto.
— Cada quadro custa agora o preço da sua passagem aérea, o preço que você pagou para compartilhar o seu talento.
— Não vai funcionar.
— Então não perdeu nada. E ela devia ter pelo me¬nos dois na vitrine.
— Levander.
Anton estava ficando vermelho, flertando, e tentando ser positivo, tudo ao mesmo tempo.
— Millie já teve três meses de exposição na vitrine. Não posso simplesmente.
— Quando é essa exposição que você mencionou? — Levander interrompeu. — Lembro que minha ma¬drasta queria uma outra peça para a loja. Talvez eu deva sugerir que ela venha dar uma olhada?
— Já enviei um convite — Anton disse — e, como sempre, foi educadamente recusado.
— Nina não deve nem ter visto o convite — disse Levander, encerrando o assunto. — Deve ter sido sua assistente que declinou em seu lugar. Se eu falar com ela pessoalmente, posso garantir que virá, e possivelmente meu pai, também. Não tenho certeza se eu estarei dispo¬nível.
Anton estava certo. Millie não imaginava quanto. A simples menção de que eles viriam para a abertura deixa¬ra Anton transtornado, despachando-a logo para escolher outra peça para colocar na vitrine antes que um Levander "agora aborrecido" a tomasse pela mão e a levasse em¬bora.
— Você não tinha que fazer isto. — gaguejou Millie, assim que chegaram à rua.
— Ninguém tem de fazer nada. — Levander deu de ombros. — Seu trabalho merece uma chance.
— Obrigada. Sua madrasta virá à exposição? — per¬guntou ela. — Detestaria ver Anton desapontado, espe¬cialmente se ele me der uma posição de destaque. Ele tem sido mais do que generoso.
— Ela virá — disse confiante. — Não vai querer vir, é claro, mas quando eu disser que está sendo esperada, que aceitei em seu nome, não terá outra saída senão vir.
— Como assim?
— Seria descortês não aparecer, e na minha família aparência é tudo.
— Bem, obrigada. — disse Millie. — Você não faz a menor idéia do que isto significa para mim.
— Sei exatamente o que significa — Levander a corrigiu. — Sei como é importante essa primeira venda, e sim, eu poderia ter comprado seu quadro, dado o selo de aprovação para todo mundo ver, mas isso seria uma fraude, não é?
Em todos os sentidos Millie se deu conta, olhando firmemente para ele. Sua pele era clara na luz da rua, contrastando com as sombras profundas de seu rosto, seus olhos, duas escuras e impenetráveis piscinas.
— Vai vender. Algumas coisas verdadeiramente be¬las nem sempre chamam atenção na primeira vez. — Sua voz era uma carícia. —Algumas vezes você tem de dar uma nova olhada.
Ele estava certamente dando uma boa olhada agora. Seu olhar fixo era tão intenso, seu rosto tão perto que podia sentir o calor da respiração dele no próprio rosto. Pensou por um segundo de felicidade que ele ia beijá-la, mas em vez disso sua voz, rica e profunda, tomou-lhe os sentidos, seus olhos zombeteiros enquanto a avaliava.
— Então parte amanhã?
— Pela manhã.
— E aproveitou seu tempo em Melbourne?
— Na verdade não vi muita coisa. Estive em algu¬mas galerias, alguns shows, mas estava trabalhando.
Sua voz foi diminuindo, sua simples resposta de al¬guma maneira deu uma abertura involuntária.
— Então é melhor começarmos. Venha. Apontou para uma charrete puxada por um pônei que estava parando do outro lado da rua, os turistas descen¬do, o condutor cansado a ponto de desmontar e ir para casa. Ele balançou negativamente a cabeça quando Levander gritou para que esperasse.
— Sinto muito, companheiro. Essa foi a última via¬gem da noite. Estarei de volta amanhã.
— Falo com ele.
— Não faz mal. Já é tarde. — Millie tentou detê-lo, debatendo-se numa areia movediça ao olhar fixamente seus olhos. — E tenho um vôo para pegar amanhã.
— Bastante tempo para dormir no avião, então. Mas um apelo à razão a invadiu. Estava brincando com fogo e seu julgamento era baseado não só no que havia lido. Anton também a havia avisado e a própria companhia dele no jantar não era boa referência.
— Você é um filho-da-mãe frio...
A dor na sua voz era real, a emoção era espontânea — e a resposta de Levander não fez nada para mudar a acusação.
Que diabos ela estava fazendo?
Seria loucura sair com aquele homem.
— Realmente... — Millie engoliu em seco. — Pro¬vavelmente não é uma boa idéia. Eu tenho tanto que fazer e você... bem, você...
— Não se preocupe comigo.
— Você acabou de terminar com a namorada, Le¬vander. Ela não estava para brincadeiras. Você prova¬velmente está se sentindo um pouco.
— Você não tem a menor idéia de como estou me sentindo.
Em vez de se afastar, ele aproximou-se, pegou o ros¬to de Millie nas mãos, sua pele morna na verdade es¬friou em contato com o rosto dela.
— E não terminei com minha namorada. Annika é minha meia-irmã.
— Era com a sua meia-irmã que você estava bri¬gando?
Levander consentiu, seus olhos se estreitando.
— O que você ouviu?
— Nada.
Millie ficou ruborizada. A única coisa que ela ouviu foi que ele era um filho-da-mãe frio, mas não poderia lhe dizer isso.
— Só a vi saindo.
— Só isso?
Depois de uma pequena hesitação ela assentiu com a cabeça.
— Briga de irmãos.
Sua respiração se misturou com a dela, e aquela boca cínica estava tão perto que Millie podia quase sentir-lhe o gosto — como um bolo de chocolate no forno, mexen¬do com seus sentidos.
— Ela é mesmo sua meia-irmã? — Millie perguntou, querendo acreditar, mas ao mesmo tempo temerosa.
Queria que ele a beijasse, mas temia que o fizesse.
— A quem mais permitiria que falasse comigo da¬quela maneira? — respondeu Levander. —Agora, espe¬re aqui.
O que ela havia escutado?
As antenas de Levander ficaram em pé, sua mente cor¬ria, já que se lembrava não só da conversa com Annika, mas também das vezes que Milhe esteve presente.
No começo ele quase não notou sua presença — uma garçonete não merecia nem uma olhada dele, especial¬mente com o assunto tenso que vinha chamando-lhe a atenção — e então ela aproximou-se para tirar o prato.
Seu perfume tinha chegado a ele, seu sorriso um pou¬co desconcertado quando o olhar dele cruzou o dela e daquele segundo em diante Levander agradeceu-lhe pela distração.
Estava agradecido a essa desconhecida que havia dei¬xado sua mente desviar-se desde que Anikka lhe deu a notícia fatal e ditou as exigências dele.
Muito mais prazeroso olhar por sobre os ombros de Annika e observar a mulher, a pele rosada de seu rosto, seus cachos louros, acompanhando cada passada pela porta da cozinha, sua ligeira exasperação ao lidar com a mesa em desordem. Sentira um prazer surpreendente ao observá-la morder a ponta da caneta enquanto esperava para escrever o pedido. E depois, quando Annika ainda insistia, quando tudo era exagerado — sua batalha para manter a calma aparente apesar das emoções batendo dentro dele — foi um alivio quando ela retornou à mesa.
Sua fragrância suave contrastava com o amargo almíscar do perfume dos Kolovsky que Annika usava — um delicado aroma de baunilha e alguma coisa que ele não conseguia definir, como uma lufada de vento fresco — e, ao se debruçar para limpar a mesa, ele havia tentado, mas não conseguiu não notar sua blusa esticada ao se comprimir contra os seios. Na verdade teve de olhar para outro lado quando ela inclinou-se para a frente para pegar um guardanapo caído e percebeu um vislumbre da pele sedosa, do espaço entre seus seios.
Ele a queria.
Entregando ao condutor da charrete um considerável maço de notas, comprou para eles um pouco mais de tempo — mas de alguma maneira sabia que não era su¬ficiente. Que se ele fizesse uma investida muito cedo ela correria como um esquilo subindo numa árvore.
E, no entanto, se fosse sexo o que queria, havia ma¬neiras mais fáceis. Poderia voltar para o hotel, retornar qualquer das inúmeras mensagens que estariam, sem dúvida, na sua caixa de mensagens e se soltar naquela noite.
E como ele queria se soltar.
Como um juiz, ele avaliou amargamente a conversa en¬tre ele e Annika — as exigências da família que foram des¬feridas pelo mais doce, o mais vulnerável deles todos.
Seu pai estava morrendo.
O que, segundo a família, significava que agora não havia maneira de Levander sair — nenhuma maneira de dar as costas às pessoas que, aparentemente, deram a ele tudo o que possuía.
Mais cinco anos de inferno, era o que eles estavam exigindo.
Levander rangeu os dentes diante dessa perspectiva, mas a sentença não terminava aí — uma mulher e uma criança foram adicionadas ao período de liberdade con¬dicional.
Bem, eles todos podiam ir para o inferno!
Ele mais do que cumpriu sua pena; salvara a Casa dos Kolovsky do suicídio financeiro desde o momento em que entrou na empresa. Que agora tivessem a audácia de pensar que ele na verdade devia alguma coisa a eles fez o estômago de Levander se revoltar com repugnância.
Pensar que aquele bastardo, depois de tudo que ele havia feito.
— Ei! — A voz doce interrompeu-lhe os pensamen¬tos sombrios, seu sorriso, seu rosto confiante contrasta¬vam com os das mulheres orgulhosas que ele estava acostumado a lidar.
— Você conseguiu persuadi-la?
— Claro — Levander respondeu calmamente. — Sou persuasivo.
Observou seus olhos se arregalarem um pouco, regis¬trou o pequeno movimento no pescoço à menor provo¬cação e queria desesperadamente beijá-la, empurrar aquele corpo macio de encontro a uma parede, pressio¬nar os lábios contra os dela, sentir sua pele macia e chei¬rosa, levá-la para o hotel e fazer amor com ela.
Para de alguma maneira se refugiar da tempestade de seus pensamentos. Mas, estranhamente para Levan¬der, isso não era tudo que ele queria dela.
Pela primeira vez Levander queria mais do que a pai¬xão de uma mulher para preencher sua noite.
Queria sua companhia

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O HOMEM PERFEITO - Anne Gracie



Quem leu o 1º livro da série Irmãs Merridew deve estar curioso para saber o que aconte com as outras irmãs, este é o segundo livro dessa série emocionante. Quem se emocionou e se divertiu com as aventuras de Prudence, não deve perder a continuação, dessa vez a historia é da Hope.

Londres, 1818

Ele queria uma noiva... e encontrou o amor!

Os salões de baile londrinos não são o ambiente adequado para um pária da sociedade como Sebastian Reyne. Mas suas irmãs mais novas precisam urgentemente de alguém que cuide delas, e por isso Sebastian está à procura de uma moça ajuizada e responsável com quem possa se casar. Certamente, não alguém como Hope Merridew, uma jovem linda, mas impetuosa e atrevida!
Hope nota o evidente interesse de Sebastian, e se sente atraída por seu charme sedutor. Para ela,
Sebastian Reyne parece um príncipe encantado, o homem que tem tudo para realizar seu sonho de dançar a valsa perfeita! Mas quem poderia imaginar que uma simples dança acenderia a chama de uma paixão tão intensa, que os envolveria numa emocionante intriga de sensualidade e desejo?
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Prólogo



Manchester, Inglaterra, Março de 1818

A irmãzinha de Sebastian Reyne estava prestes a fazer um mergulho fatal no pavimento de pedras frias e escurecidas pelo tempo.
— Não pule, Cassie! Fique parada! — Ele tentava falar com calma, descendo do cavalo e passando as rédeas ao serviçal.
Mas, afinal, o que Cassie fazia no telhado?!
— Não se mova. Já estou subindo para salvá-la.
— Não quero ser salva! — Cassie gritou e deu um pequeno passo para a frente, confirmando suas intenções.
— Nesse caso, volte para dentro agora mesmo.
— Não enquanto aquela velha rabugenta estiver lá! — A menina avançou um milímetro, e todos estremeceram quando seu pezinho escorregou.
Uma telha se desfez em pedaços no chão.
Sebastian seguiu o olhar de Cassie para a janela onde a governanta, a srta. Thringstone, se debruçava. Quando a senhora o viu, soltou um som que parecia mais um ganido agudo e furioso:
— Ela me desafiou! Na verdade, me bateu! Essas garotas são incontroláveis...
— Aguarde-me em meu escritório, srta. Thringstone! Falarei com a senhora depois que Cassie estiver em segurança dentro da residência.
A governanta hesitou por um segundo, para, com toda a dignidade, se retirar.
Em seguida, Cassie quis saber:
— Ela se foi?
— Sim. — Sebastian a fitava com severidade. — E se tiver o mínimo de consciência do que é melhor para você, sairá já daí!
— Não vou entrar para levar uma surra de você também!
Também?
— Não vou bater em você, Cassie, mas terá de me dar explicações. E, se for o caso, será punida.
Com o coração aos saltos, Sebastian olhava Cassie se movendo devagar na direção do cume da casa. Outra telha se espatifou. Ela seguiu na direção da janela do sótão, e Sebastian respirou, aliviado.
— Agora a mocinha vai me explicar o que significou aquela cena.
— Não aconteceu nada, Sebastian. Eu nem sequer caí.
— Desafiou a srta. Thringstone? Cassie balançou a cabeça com rebeldia.
— Sim, desafiei! Sei que não deveria, mas não ligo. Odeio aquela mulher! — Cassie pôs o braço sobre o ombro da irmã caçula. — Nós duas a odiamos.
Pelo menos ela admitira ter feito algo errado. Já era alguma coisa. Sebastian deu uma olhada para a pequena de onze anos, Dorie, que, cabisbaixa, encolhia-se de medo.
— A função da srta. Thringstone é ensinar-lhes boas maneiras, Cassie. Sei que não deve ser fácil encarar todas as mudanças. Mas a governanta está aqui para ajudá-las.
— Nós detestamos aquela bruxa velha, e não vamos aprender nada com ela!
Sebastian ignorou o linguajar. Cassie estava fora de si, e nos últimos quatro meses ele percebeu que, se tivesse paciência para ouvi-la, na certa ela lhe daria um motivo — não necessariamente bom — para aquela atitude despropositada.
— Por que bateu nela, Cassie?
— Porque ela bateu em Dorie!
Sebastian fez uma careta. Quando as irmãs chegaram àquela casa, não passavam de duas maltrapilhas magricelas; Dorie, calada e trêmula, e Cassie, hostil e fingindo indiferença. Ele jurou, então, que daquele dia em diante elas nunca mais seriam espancadas de novo. A governanta recebera instruções claras de que, não importasse o que acontecesse, jamais poderia bater nas meninas. Em hipótese alguma. E que deveria informar a Sebastian qualquer desvio de comportamento.
— A srta. Thringstone bateu em você, Dorie? Mas por quê? Cassie se adiantou:
— Ela deu um tapa no rosto de Dorie porque ela se recusou a responder a uma pergunta!
Sebastian se enfureceu. Dorie mostrou-lhe a face, expondo a marca vermelha.
Ele ergueu a mão para tocar nos cabelos dela, mas as duas se retesaram diante do gesto.
— Subam para lavar o rosto. Cassie, você fez bem em proteger sua irmã. Portanto não receberá punição.



— Uma boa surra de vez em quando não fará mal àquelas garotas! — a srta. Thringstone declarou. — Elas não têm disciplina, respeito e bons modos!
— Creio que fui bem claro quanto à proibição de qualquer tipo de castigo físico. — Sebastian puxou uma folha de uma pilha de papéis que estava sobre a escrivaninha, entre elas uma carta de referências que a descrevia como a melhor governanta do país. Retomou a carta de demissão que escrevia.
— Se não apanharem, aquelas duas não aprenderão nunca a se comportar em sociedade. O senhor pode esquecer suas aspirações de transformá-las em damas.
— As meninas, em breve, serão apresentadas para a mais fina sociedade londrina — suas palavras foram a afirmação de um fato.
A srta. Thringstone não se intimidou. Bem-nascida e de boa educação, já havia trabalhado para as famílias mais ricas da Inglaterra. Com um tom que demonstrava seu desprezo pelo novo-rico, respondeu:
— Sr. Reyne, tenho certeza de que sua origem não lhe permite saber quais são as qualidades que uma dama refinada deve ter. Berço e criação são coisas que o dinheiro não pode comprar.
As sobrancelhas dele se curvaram com sarcasmo.
— É mesmo?
A governanta bateu o pé.
— Posso ensinar qualquer mocinha a se transformar numa perfeita lady, desde que ela tenha potencial, o que não acontece neste caso. Cassandra é selvagem, desobediente, argumentativa e usa um linguajar de sarjeta. — A mulher tremeu. — Nós já discutimos sobre aquele artefato que ela carrega!
Sebastian inclinou a cabeça.
— Garanto que ela deve ter seus motivos. Com o tempo, Cassie se sentirá segura o suficiente para se desfazer daquilo.
— Permitir que uma garota indisciplinada carregue aquilo... Bem, senhor, isso beira a insanidade!
Sebastian franziu a tesa.
— Cassie disse que a senhora bateu em Dorie porque ela não respondeu a uma pergunta.
A mulher ficou vermelha.
— Ela me desafiou.
— Teria sido mesmo um desafio?
— À maneira dela, sim. Eudora é quase tão teimosa e desobediente quanto a irmã; e continua com seus pequenos furtos.
— Pegar comida em sua própria casa não é roubo.
— Servir-se escondida da própria mesa talvez não seja. Mas entrar sorrateira na cozinha no meio da noite para apanhar o que quer que seja é roubo!
— Não nos falta o que comer. Dorie abandonará esse hábito quando entender que não passará mais fome.
— O mordomo disse que os ratos estão se tornando um problema.
— Sim, já fui informado.
— Se Eudora não for punida pelos pequenos delitos, com o tempo passará a furtar artigos de mais valor.
— Isso não acontecerá.
— O senhor será o culpado por suas irmãs não se ajustarem à sociedade! Não se importa com o mau comportamento delas, sr. Reyne!
— É claro que me importo, srta. Thringstone. Se não me importasse, eu permitiria que a senhora as surrasse. — Seus olhos azuis a fitaram com frieza. — O desafio é grande, mas estou acostumado a ultrapassar todos os obstáculos que surgem em minha vida. As meninas aprenderão a se comportar como verdadeiras damas.
— Encare os fatos, sr. Reyne. Nem com toda a fortuna do mundo o senhor conseguirá tornar aceitável à alta sociedade uma gata selvagem desbocada que carrega uma faca amarrada na coxa e uma garota que, apesar das doces feições, é mentalmente deficiente e não consegue falar.
Ela recuou sem querer diante da expressão dele, imaginando que iria levar um soco. Mas a entonação de Sebastian não se alterou:
— A senhora está demitida, srta. Thringstone. Deixe esta casa neste instante.
A governanta saiu da biblioteca. Sebastian sentou-se em sua cadeira e respirou fundo. Era a sétima governanta em quatro meses. Ele precisava de uma nova solução. Esticando-se, puxou o cordão da sineta.
— Mande entregar este bilhete para Morton Black — Sebastian ordenou assim que um criado veio atendê-lo.
Quarenta minutos depois, o administrador de Sebastian, Morton Black, chegava com seu passo manco devido à perna de pau que substituía a que fora perdida na batalha de Waterloo.
— Outra missão confidencial, Black, que envolverá uma viagem a Londres.
Black se mostrou surpreso.
— Muito bem, senhor. De que se trata desta vez?
— Preciso de uma esposa. De um tipo específico que não será fácil encontrar. Coloquei por escrito as especificações necessárias. — Entregou uma lista a Black.
O administrador deu uma rápida passada de olhos no papel.
— O senhor não diz nada quanto à aparência dela.
— Isso não importa. O caráter é que conta. A beleza desaparece, o caráter se fortalece.
— Mas o senhor é jovem...
— As instruções não estão claras, Black?
— Sim, senhor, sem dúvida. Começarei a procura agora mesmo. Antes que Black partisse, Sebastian escreveu uma missiva para seu velho amigo, Giles Bemerton. Teria necessidade da esperteza e do conhecimento de mundo de Giles para ajudá-lo naquela empreitada.
A princípio, não lhe passara pela cabeça tornar a se casar. Mas Sebastian Reyne não era homem de fugir a suas obrigações.




Capítulo I



Londres, Inglaterra, Abril de 1818

Mas ela não tem seios! Como você pode querer se casar com uma mulher que não tem seios?! Sebastian Reyne deu de ombros.
— De acordo com o relatório de Black, a fama preenche todos os requisitos necessários. Além do mais, é claro que lady Elinore tem seios. É uma mulher, não é?
— Quem pode ter certeza? — Giles Bemerton meneou a cabeça, sombrio. — Envolta em mil camadas de roupas como costuma andar, quem poderia garantir?
— O que está dizendo é bobagem, Giles.
Os dois conversavam numa sala minúscula que era parte da residência de solteiro que Giles costumava ocupar quando estava em Londres. Era tarde, e o fogo da lareira quase se extinguira.
— Além do mais, Elinore é quase dez anos mais velha que você.
— Apenas seis. — Sebastian tomou um gole de seu conhaque.
— Ela foge das pessoas e do casamento e, apesar da aparência, deve até ter recebido alguns pedidos. O pai da dama deve ter deixado uma boa herança. Por que Elinore iria querer mudar de idéia agora?
— Porque não tem opção. A mãe morreu no ano passado, deixando-a sozinha no mundo, e Elinore só receberá a fortuna paterna depois de três anos de casamento.
— Entendo. Mas você não precisa do dinheiro. Sendo assim, por que se unir a uma solteirona como lady Elinore? Sabia que já dancei com ela? Na ocasião, Elinore fez questão de deixar bem claro que me achou repugnante!
Sebastian conteve o riso. Giles era bem apanhado e costumava fazer muito sucesso com as mulheres.
— Outro ponto a favor. A lady demonstra ter bom senso.
— É excêntrica, isso sim! A única paixão dela é o trabalho com órfãs e necessitados. — Giles se arrepiou. — Eu lhe digo, isso é loucura. Por que alguém iria querer se casar com lady Elinore Whitelaw, enquanto o mercado está repleto de mocinhas alegres e bonitas?
Sebastian se encontrara com lady Elinore na semana anterior. O assunto girou em torno de trabalhos de caridade, e as respostas dela confirmaram sua escolha. Lady Elinore dedicara grande parte de sua vida a um trabalho com crianças órfãs. Sem dúvida era a pessoa certa para seus propósitos.
— Basta, Giles. Minha decisão está tomada. Quero uma mulher séria e corajosa para lidar com minhas irmãs, e não uma garota bonita que só pensa em bailes e diversões.
— Mas vocês não têm nada em comum, Sebastian.
— Não me importo. O importante é ter uma esposa que me ajude a oferecer um lar e uma família estáveis para minhas irmãs. Tenho de recuperar a confiança delas.
— O que quer dizer com isso? Você é a pessoa mais confiável que conheço.
— Obrigado, meu amigo. Mas as duas passaram por experiências que deixaram marcas profundas.
— Sinto muito, Sebastian. Sei o quanto você se preocupa com aquelas meninas.
Ninguém imaginava o quanto doía em Sebastian o fato de suas irmãs não confiarem nele.
— Conto com a experiência e o bom senso de lady Elinore para me auxiliar nesse propósito.
— Bom senso! — Giles fez um esgar. — E quanto ao amor?
— Amor é uma mentira contada para as crianças.
— Não, Sebastian; trata-se de um jogo muito divertido, isso sim.
Sebastian esboçou um sorriso cheio de sarcasmo.
— Você perdeu o romantismo, e tudo por culpa de sua falecida e do pai dela.
— Faça o favor de se referir com mais respeito a meu sogro e a minha mulher. Se não fosse por eles, nada disto poderia estar acontecendo. Temos de aceitar os altos e baixos da vida.
— Sei disso, mas, mesmo assim, depois de tudo o que eles lhe fizeram...
— Sim, e eu sou uma flor de pessoa. Agora pare com essa história, Giles.
— Meu Deus, como você é teimoso! Sebastian deu risada.
— Afinal, vai ou não me ensinar a cortejar uma dama da sociedade londrina?
— Eu não perderia isso por nada no mundo!
— Sabia que podia contar com você, Giles. — Sebastian pousou a taça vazia e se espreguiçou. — Bem, tenho um compromisso amanhã, bem cedo. Aulas de dança de salão.
Giles soltou uma gargalhada.
— Creio que não posso perder isso.
— Experimente correr o risco, Bemerton!
— O mundo todo veio parar aqui! — Giles dizia, dez dias depois, ao entrar com Sebastian no salão de baile da Frampton House.
Ele ia indicando todas as pessoas interessantes, e Sebastian ouvia sem o menor interesse, pois estava lá por um único motivo.
— Você viu lady Elinore?
— Sim, sim, logo ali — Giles respondeu, impaciente.
— Ótimo. Não percamos mais tempo. Rápido, Sebastian foi ao encontro dela.
— Um pouco mais de sutileza, caro Sebastian, é só o que lhe peço — Giles sussurrou, ao ser arrastado pelo amigo em meio à multidão. — Tenho uma reputação de homem fino a zelar. Portanto, devagar!
Sebastian sorriu, sem diminuir o passo. Queria acabar com aquela etapa o quanto antes e voltar para o que sabia fazer melhor: trabalhar.
— Lady Elinore? — Sebastian se inclinou, fazendo uma reverência.
De soslaio, viu Giles lançando um olhar para lembrá-lo da conversa que haviam tido e, sem pensar, Sebastian a analisou. Giles tinha razão: ela parecia não ter seios.
— A senhorita está encantadora, milady.
Tanto ela quanto Giles estampavam um certo estranhamento no semblante. Lady Elinore era uma mulher pequena, muito pálida e magra, com cabelos acinzentados presos para trás num coque apertado e coberto com um chapeuzinho estranho. Naquela ocasião, usava um vestido liso cinza-escuro. A tonalidade roubava toda a cor de sua pele, e o corte reto e severo do traje não valorizava seus contornos.
— Como o senhor tem passado, sr. Reyne? — lady Elinore murmurou. — Espero que esteja melhor, hoje. — Acrescentou Giles.
— Ah, sim, meu amigo, o sr. Giles Bemerton. Creio que vocês já se conhecem.
Lady Elinore cumprimentou Giles com uma frieza desconcertante.
— Acho que não.
Era evidente que lady Elinore não se lembrava de já ter dançado com Giles. Sebastian assistiu a seu amigo engolindo a humilhação e se inclinando com graça.
Para poupar Giles de maiores embaraços, Sebastian convidou Elinore para a próxima dança.
Sebastian percorria o salão de dança, impaciente. Fazer a corte era uma tarefa cansativa, e aquele mundo de gente elegante e fútil o deixava exausto.
Era um mundo de beleza e frivolidade, onde as pessoas eram superficiais e não faziam a menor idéia da luta que a maioria dos seres humanos tinha de enfrentar em prol da sobrevivência. Seus corpos eram robustos e bem alimentados, sem sinais de fome e mutilações por longas horas de serviço repetitivo numa fábrica.
Sebastian não pertencia àquele meio. Não fazia parte da alta sociedade. Não tivera uma infância encantadora como a maioria dos ali presentes.
Olhou para suas mãos calejadas, para seus dois dedos deformados da mão esquerda. Giles o avisara para que usasse luvas o tempo todo, mas Sebastian não quis. Recusava-se a esconder sua verdadeira imagem.
No intervalo entre uma dança e outra, Sebastian foi surpreendido por algo inesperado.
— Quem é aquela, Giles?
— Até que enfim! Quero dizer: excelente! Existem dúzias de mulheres bonitas aqui. Não que você esteja interessado em nenhuma outra além de lady Elinore, pelo que sei. Mas não dói nada admirar. Qual delas lhe chamou a atenção?
Qual delas?, Sebastian se indagou. Havia apenas uma. Giles podia achar que existiam dúzias de belas mulheres naquele salão, e estava certo. Mas aquela que via não era apenas formosa; era estonteante.
A jovem dançava, deslizando pela pista num deslumbrante vestido azul-celeste, e por um instante seu olhar se encontrou com o de Sebastian, que ficou sem fôlego. De estatura média, suas formas eram delgadas e perfeitas. Os cabelos, dourados, não amarelos, com cachos macios em torno da cabeça. A pele, alva e tenra. A distância, não era possível ver a cor de seus olhos, mas eram grandes, e Sebastian imaginou que seriam azuis. Quanto ao rosto, não tinha palavras para descrevê-lo; era sem dúvida o mais lindo que já vira.
Uma face de anjo, sem a presunção e a calma artificial que os anjos das pinturas costumam ter. Aquele a sua frente possuía o brilho da vida, com um delicioso quê de travessura somado à alegria de viver.
Sebastian a observava, fascinado. Era uma bela lady, mimada e protegida de todo o mal do mundo, que fora criada para o prazer e a alegria. Bastava um simples olhar para se perceber que a jovem só queria dançar, se divertir.
Ao contrário de Sebastian, que passara a maior parte de seus dias no meio da fumaça, do barulho, da sujeira e da privação. Mesmo tendo se tornado rico, ainda pertencia àquele meio. A única razão que o levara a entrar no ambiente esplêndido da sociedade londrina foi a necessidade de encontrar uma esposa.
Tinha de ser uma mulher forte, que conhecesse as agruras da existência, cujo companheirismo permitisse que ela superasse os obstáculos junto dele.
Aquela fada perfeita e jovial nem de longe seria essa companheira.
Ninguém tinha o direito de arrasar com aquele espírito virtuoso. Se ele a arrastasse para seu mundo triste, a alegria e vivacidade dela seriam esmagadas, e a moça morreria de desilusão como a mãe dele. Nenhum homem poderia passar por aquilo duas vezes. Com certeza, Sebastian não. Sua porção de culpa era o suficiente.
Porém, não havia mal nenhum em continuar apenas se deleitando. Se um gato podia ficar olhando para uma rainha, Sebastian Reyne poderia fazer o mesmo com aquele anjo.
Com um cutucão, Giles o despertou para a realidade. Sebastian tossiu e ajeitou a gravata.
— Podemos ver tudo daqui. — Ele estalou os dedos para um garçom que passava e pediu uma bebida. — Agora me diga, Sebastian, qual das moças lhe chamou a atenção? Ah, já sei! Deve estar encantado com uma das gêmeas virtuosas. Elas são lindas, e tão parecidas como o reflexo de um espelho.
Sebastian meneou a cabeça. A garota que vira era única.
— Só perguntei por curiosidade, Giles. Você sabe que só estou aqui por causa de lady Elinore.
— O curioso é que uma delas é destra, e a outra, canhota. Só não sei quem é quem. A canhota não gosta que saibam desse pormenor. Mas me disseram que a diferença marcante está na personalidade delas. Faith é a mais quieta, e Hope, a mais alegre. Não que eu tenha muita intimidade. Garotas de respeito que estão à procura de um marido não fazem meu tipo, você sabe.
— Sim, eu sei. Mas isso não importa, Giles. Já fiz minha escolha.
— Em qual das duas está de olho? Na que está dançando ou naquela ao lado de lady Augusta? Lady Augusta é uma senhora encantadora. Sir Oswald Merridew, o sujeito que está dançando com uma das gêmeas, é enamorado da lady. Soube que ele a pediu em casamento inúmeras vezes, mas ela sempre recusa.
Sebastian bufava, enquanto Giles tagarelava. Não podia estar menos interessado se a exuberante lady tinha um namorado ou não. Seu único interesse era saber o nome da bela criatura de azul.
— Afinal, Giles, qual o nome da dama de azul?
— Uma das gêmeas, então. Mas ambas estão de azul. Você tem bom gosto, Bas. Ambas são criaturas gloriosas. Muito sensíveis, sérias e respeitosas. Mas a qual das duas se refere?
Sebastian franziu o cenho. Elas eram idênticas. Giles tomou a cutucá-lo, impaciente.
— A de vestido azul-celeste ou a de anil? Houve uma longa pausa.
— A que dança com aquele senhor.
— Certo. O cavalheiro que a conduz é sir Oswald Merridew, tio-avô dela. Creio que é a srta. Hope. Não posso garantir.
— Srta. Hope?
— Ou talvez seja a srta. Faith. Já disse que confundo as duas.
— Entendo.
Hope era o nome dela. Ou Faith. Com esforço, Sebastian desviou-se para a irmã, que não estava dançando. De fato a semelhança impressionava, mas sua fada tinha um brilho especial.
— Qual o sobrenome das moças?
— É Merridew, da família Norfolk Merridew. Elas têm ainda outras irmãs: Prudence, que agora é lady Carradice; e Charity, que se casou com o duque de Dinstable; e acho que ainda tem mais uma chamada Grace, a caçula. As gêmeas vivem com sir Oswald.
Giles esfregou as mãos.
— Bem, siga-me, vamos dar um jeito de apresentá-lo. Sebastian segurou o braço do amigo.
— Não, obrigado. Só estava curioso.
— Não quer ser apresentado às gêmeas virtuosas? Não se trata de uma beleza comum. Elas são encantadoras. A srta. Faith é doce e suave, e a srta. Hope... tenho quase certeza de que é a que está dançando... é muito alegre. Veja por você mesmo.
— Posso perceber. — Sebastian se esforçava por demonstrar indiferença. — Ela chamou minha atenção pela maneira como se movimenta. Com uma certa... exuberância.
— Ah, sim... Isto é verdade. Ela é mesmo muito exuberante. Mas com muita decência. De um modo muito sensível e extremamente racional. Não frívola.
— Pare com isso, Giles! Giles riu.
— Na realidade, acho que você deveria conhecê-las. Aquelas garotas são diferentes. Não fingem tédio só para impressionar. Quando gostam de algo, elas demonstram!
— Sei. — Sebastian observava a fada de azul rodopiando na pista e deixando todos os homens boquiabertos. — Como você mesmo disse, posso ver que se trata de uma moça de sorriso fácil, que o lança para todos os homens que estiverem a sua frente. Creio que é esse tipo de comportamento que a sociedade tanto admira.
Sebastian virou-se de costas para ela, fingindo desinteresse. Tinha de ignorá-la. Aquela dama era tudo o que ele não queria como esposa. Lady Elinore Whitelaw, sim, era perfeita para suas necessidades.
— Você me entendeu mal, Bas! São garotas de respeito, e não daquelas...
— Isso não faz diferença, Giles. Sabe muito bem que estou aqui para fazer a corte a lady Elinore, e não para conhecer bonequinhas mimadas e acostumadas a terem tudo o que querem. Lady Elinore é um mulher madura, e não se compara a essas irmãs Merridew. Agora, chega dessa história. Vamos circular um pouco. Você veio para apreciar as beldades em exibição, não é?
Giles piscou, sarcástico.
— Posso aceitar sua falta de sutileza, apesar de saber que você sabe ser sutil quando quer. Mas, Bas em exibição? Isto chega ser vulgar!
Sebastian arqueou as sobrancelhas.
— Ei, Giles! Vai começar a quadrilha. Você prometeu dançar com lady Elinore, não foi?
Giles deu uma guinada e se apressou na direção de lady Elinore. Sebastian quase sorriu, observando a dupla se preparando: Giles cheio de graça e charme em seus trajes impecáveis, e lady Elinore rígida e cheia de formalidade em seu vestido sem graça.



— Sra. Jenner, quem é aquele cavalheiro? — Hope Merridew se dirigia a sua acompanhante, uma senhora de meia-idade muito bem vestida.
Hope o notara durante os últimos acordes da melodia. Seu olhar penetrante pareceu tocá-la fisicamente, com uma força tão intensa que a deixou arrepiada.
Alto e musculoso, ele exibia o tipo de solidez e vigor que a assustava. Após uma infância sob o jugo de seu alto, poderoso e insano avô, Hope jurara para si mesma que jamais se colocaria nas mãos de um homem como aquele outra vez.
Um estremecimento a percorreu. Não que estivesse com medo, pois desde que ela e Faith escaparam da truculenta custódia do avô nada mais a assustava com facilidade. Mas havia algo de tão... peculiar na maneira como o desconhecido a encarava!
Desde que chegara a Londres, Hope se acostumara aos olhares curiosos. As pessoas têm um certo fascínio por gêmeos; e as irmãs sempre foram alvo de olhares e comparações em busca de diferenças e semelhanças entre elas.
Mas aquele homem a fez sentir-se diferente de alguma forma. Como se ele não estivesse analisando as gêmeas; olhava apenas para ela.
Sebastian — pois outro não era se não ele — se inclinou e disse algo a Giles. O contraste entre os dois homens era divertido; o sr. Bemerton era magro e elegante, com uma aparência reluzente. Sebastian, grande e enigmático, tinha traços fortes e um semblante meditativo e melancólico.
A bela e a fera, diria Hope. Não que ele fosse uma fera de fato, mas a vida havia deixado marcas em seu rosto. Mesmo à distância dava para ver que seu nariz fora quebrado uma vez. No entanto, não foi seu olhar severo e triste que tanto intrigou Hope, mas sim a maneira indiferente como ele se movimentava, parecendo um príncipe guerreiro em meio à civilização. Não com uma pomposa arrogância, mas com uma segurança serena.
— Hum... Qual deles, minha querida? — A sra. Jenner olhava ao redor.
— Aquele alto, que parece estar vestido para um funeral e circula pelo salão de cenho franzido. Creio que nunca o vi antes.
Decerto jamais o vira. Afinal, quem poderia esquecer alguém assim?
A sra. Jenner ergueu o monóculo.
— Para um funeral você disse? Metade dos jovens de hoje se vestem desse jeito, minha bela. Em meu tempo eles se trajavam como jovens pavões, em calças de cetim e casacas maravilhosamente bordadas. Ah, céus, aquele rapaz! O garoto sapeca, Giles Bemerton, está introduzindo o sujeito nas melhores rodas, apesar de eu não ter certeza de que deveria.
— E por que não?
— O homem parece um estivador! — A sra. Jenner suspirou. — Não me espanta. Com sua origem...
Como se tivesse percebido que era o tema da conversa, Sebastian girou o pescoço de leve e as encarou. Mais precisamente Hope. Não havia nenhuma sutileza no olhar dele. Era uma expressão clara e direta de desejo.
Sem forças para quebrar o encanto, Hope sentiu uma quentura súbita percorrê-la por inteiro.
A sra. Jenner estalou os dedos.
— Não olhe, minha querida! Aquele sujeito não serve para você.
A breve troca de olhares a abalou muitíssimo, e a atingiu de uma maneira nunca imaginada. Hope queria passar perto dele, olhar dentro de seus olhos, ouvir sua voz, tocar suas mãos.
Seria o homem de seus sonhos? Não podia ser. O destino não poderia ser tão cruel. Não queria um homem forte e com jeito autoritário, que lembrasse seu avô.
Desfilando pelo salão, elas encontram um lugar para sentar. Com os joelhos trêmulos, Hope se acomodou com graça. A sra. Jenner despachou alguns jovens que se aproximaram, e, em seguida, sentou-se ao lado da srta. Faith.
— Deixe-nos descansar um pouco, por favor, cavalheiros. As garotas e eu temos de recuperar o fôlego.
Os rapazes se afastaram, sem jeito.
Mesmo de longe, Hope continuava observando Sebastian. A estatura dele facilitava. O sr. Bemerton cumprimentava vários conhecidos aqui e ali, apresentando seu amigo, que respondia com educação, apesar dos ares de tédio.
Ele se abaixou e fez alguns comentários com o sr. Bemerton, que tombou a cabeça para trás e riu. O olhar feroz desapareceu, dando lugar à ironia e ao humor. Era mais jovem do que Hope supusera. Quase da mesma idade de Giles Bemerton; algo em torno de trinta anos. Estranho como pareceu-lhe mais velho antes, como se carregasse um fardo.
Uma amizade interessante, Hope concluiu. Não conhecia o sr. Bemerton muito bem, mas ele sempre pareceu-lhe uma pessoa alegre, um bon vivant, como a sra. Jenner diria, com algo de libertino. Era difícil crer que pudesse ter amizade com alguém tão sério e fechado.
Tomando um refresco, Hope retomou seu tom casual:
— Sra. Jenner, por favor me diga: quem é ele? Confesso que estou curiosa. O cavalheiro me parece deslocado, mas ao mesmo tempo demonstra não se importar.
A sra. Jenner suspirou, hesitou, então falou entre os dentes:
— Ele é um cogumelo. Hope deu risada.
— Um cogumelo bem grande, a senhora não acha? Deve ter mais de um metro e oitenta.
— Quieta! Sabe bem o que eu quis dizer, Hope. Trata-se de um forasteiro, um novo-rico! Mais: o homem não serve para uma lady. Giles Bemerton precisa ser advertido! Aquele safado deve ter persuadido o pobre rapaz a apresentá-lo à sociedade. Não há outra explicação, pois o sr. Giles pertence a uma família tradicional, e tenho certeza de que em hipótese alguma se envolveria com um desclassificado como aquele.
— É mesmo? — Faith indagou. — A senhora acha que o tal chantageou o sr. Bemerton para alcançar seus propósitos?
— Como eu poderia estar a par desses detalhes sórdidos? Mas deve ter alguma coisa envolvida, como dívida de jogo ou aposta. Guarde minhas palavras.
— Eu não teria tanta certeza. — Hope julgava os dois homens, pensativa. Dava para ver que existia um afeto sincero entre eles.
E, além do mais, para alguém que talvez tivesse comprado seu ingresso naquele meio, ele não parecia se esforçar muito para se integrar. Os novos-ricos faziam de tudo para agradar. A menos que o cavalheiro imaginasse que demonstrar aborrecimento e impaciência fosse uma atitude encantadora.
— Como a senhora disse que se chama?
— Eu não disse. — A sra. Jenner tomou um gole de seu ponche. — A decoração não está uma beleza?
— Sim, muito elegante. O nome dele é...
A determinação de sua acompanhante em mudar de assunto era irritante. Hope sabia que tio Oswald esperava que ela e Faith fizessem um ótimo casamento, de preferência com um duque ou um marquês.
A sra. Jenner abriu o leque e se abanou com vigor.
— É lógico que é encantador da parte dos Frampton terem convidado todas essas pessoas, mas, meu Deus, está muito quente aqui!
— Sim, muito quente — Hope disse, amável —, mas a brisa que entra pela janela é bem refrescante, não é? Posso descobrir como o estranho se chama com outra pessoa, sra. Jenner. Tenho certeza de que uma dúzia de convidados ficaria muito feliz em me dizer. Todos adoram um mexerico, não é mesmo?
— Muito bem! É Sebastian Reyne. Sebastian Reyne. Combinava à perfeição.
— E o que mais a senhora sabe sobre o sr. Reyne? A sra. Jenner fitou o teto.
— Ele surgiu do nada, tem muito dinheiro, apesar de sua riqueza ser procedente da... lama.
— O sr. Reyne não tem família?
— A família Reyne é muito conhecida, mas Sebastian não é considerado parente.
— Quer dizer que ele é ilegítimo? Se for isso, é uma lástima, mas não vejo razão para que seja estigmatizado por isso. Conhecemos várias pessoas que são ilegítimas. Não é segredo algum.
— Hope ficara indignada.
— Menina! Não ouse compará-lo a nossa gente! Tudo o que falei foi que a família Reyne não o conhece. Qualquer um pode usar um sobrenome. Se Sebastian tem o direito é outra história.
— Bem, por que é tão indesejado, então? — Faith perguntou.
— Parece-me meio sinistro, e não deixa de ser intimidante. Sinistro era um pouco forte demais, na opinião de Hope. Intimidante, sim. Sebastian continuava a olhando e dava a impressão de que a qualquer momento iria apanhá-la e levá-la dali.
Hope imaginou como seria ser carregada por um homem como aquele. Ah, sim, seria muito bom! A sra. Jenner meneou a cabeça.
— Não estou dando minha opinião baseada nas aparências, apesar de concordar com você, querida; ele é nojento.
— Nojento! — Hope se voltou para ela. — Não concordo, de modo algum. Muito sério, sem dúvida, mas há uma certa... masculinidade nele que o torna atraente.
Ela sentiu os olhares surpresos da irmã e de sua acompanhante.
— Eu não quis dizer... Você me conhece muito bem, Faith.
Sebastian não faz meu gênero. Mas não há como negar que é interessante.
Muito mais que isso, na verdade. Era forte, másculo, excitante e a olhava com uma fome e um desejo que Hope nunca vira nos olhos de nenhum homem, até então.
— Sra. Jenner, não se preocupe. Hope nunca se interessaria por alguém como aquele rapaz.
— Por que diz isso, Faith? — a sra. Jenner indagou, espantada. Faith sorriu.
— É óbvio. Mude um pouco os traços dele e o imagine com mais cinqüenta anos, e a senhora estará olhando para vovô.
— Faith! Sebastian não tem nada a ver com vovô!
— Repare bem, Hope. É tão alto, forte e carrancudo quanto nosso avô.
Hope foi obrigada a admitir que a irmã tinha razão. Por fora, o sr. Reyne lembrava mesmo o avô.
Mas, apesar das palavras de Faith, a sra. Jenner continuou de olho em Hope como um falcão. Do outro lado do salão, Sebastian continuava observando; um predador muito maior. A provocação era irresistível.
Hope esperou que ele a fitasse de novo, e então abanou o leque com um tom de flerte, não o suficiente para parecer um convite explícito, mas um sinal discreto de que também o observava.
Sebastian endureceu a expressão e deu-lhe as costas. Hope sorriu consigo mesma. Então o sr. Reyne não aprovou o flerte dela...
A sra. Jenner segurou seu braço e a repreendeu:
— Não brinque com fogo, senhorita, pois aquele homem é perigoso! Dizem que está à procura de uma esposa, e tenho dó da pobrezinha que for apanhada.
— Por quê? — Hope ficou um tanto perturbada com o que acabou de ouvir. — Por que dó?
Contudo, quando a sra. Jenner ia explicar, dois rapazes se aproximaram das gêmeas para convidá-las para dançar.
Rodopiando na pista Hope, podia ver que Sebastian voltara a observá-la, e assim continuou durante toda aquela música.
Todavia, o alerta da sra. Jenner ainda a perturbava.
Hope não se considerava mais uma mocinha ingênua que precisava contar com os pareceres da sra. Jenner, mas depois que suas irmãs Prudence e Charity se casaram, tio Oswald decidiu que seria bom ter alguém para ajudá-lo a tomar conta das gêmeas; enquanto ele se concentrava em seu namoro com lady Augusta Montigua Del Fuego. A escolhida foi a sra. Jenner. Ela era uma prima distante e, apesar de ser um tanto tola, conhecia toda a nata da sociedade londrina. O que seria muito útil!

A próxima dança estava prestes a começar, mas a atenção de Sebastian não era mais para Hope. Ele conversava com uma mulher. Hope se levantou para ver melhor e se espantou ao constatar que Sebastian falava com lady Elinore Whitelaw.
Hope piscou várias vezes. Lady Elinore? Quem imaginaria que um cavalheiro viril como aquele estaria interessado numa solteirona convicta como lady Elinore?
No entanto, suas conjecturas foram interrompidas por um jovem que veio tirá-la para dançar.
Na pista, os olhinhos de Hope acompanhavam o casal inusitado. Os dois juntos faziam um contraste estranho. Ele, muito alto, moreno e ameaçador. Ela era pequena, pálida e sem graça.
Assim que o número terminou, Sebastian conduziu Elinore para a sala de jantar. Os dois compartilhavam a mesa com o sr. Bemerton e sua parceira, uma dama muito bonita, com um vestido de seda verde.
Após o jantar, Hope voltou para a pista de dança, várias vezes, deslizando com sua altivez e beleza de sempre. E se estava mais quieta do que de costume, seus parceiros não se haviam dado conta, pois se achavam alegres demais por terem a honra de dançar com uma das gêmeas.
Mas à medida que a noite ia chegando ao fim, Hope foi perdendo as esperanças de ser procurada pelo sr. Reyne. Aborrecida, disse a si mesma que havia feito papel de boba, olhando para um sujeito que não se dera sequer ao trabalho de vir lhe falar pessoalmente. Além do mais, a última valsa já ia começar, e Hope teria de escolher quem seria o felizardo a tirá-la para dançar.
A última valsa era a preferida de Hope, e tudo por causa de um sonho que ela e Faith tiveram. Um sonho encantado, de amor e destino, que elas acreditavam ter-lhes sido enviado pela falecida mãe. Quando ambas despertaram, de madrugada, e conversaram foi sensacional: tinham sonhado a mesma coisa, porém com algumas diferenças sutis.
No de Hope, ela se viu envolvida na luz fria do luar, cercada por sombras ameaçadoras. Sentia-se desesperada e com muito medo, quando então um homem surgiu, ergueu-a em seus braços e de repente eles estavam valsando. Apesar de não ter visto o rosto dele, Hope nunca se esqueceu desse sonho e da maravilhosa sensação que teve ao valsar com seu herói desconhecido.
O de Faith era muito semelhante, com a diferença que o herói dela, em vez de dançar valsa, tocava uma música maravilhosa e contagiante.
O poder do que sonharam era tão forte que nenhuma delas pôde se esquecer. E as nutriu de esperança enquanto viveram com o avô. E, desde que chegaram a Londres, Hope adquiria o hábito de nunca reservar a última valsa para ninguém; deixando sempre para escolher o parceiro no último segundo. Quem sabe aquele seria seu momento mágico?
O costume já era conhecido por todos. Apesar de não saberem o motivo, o resultado era sempre um pequeno aglomerado de cavalheiros que se aproximavam, no final do evento, torcendo por serem escolhidos.
Uma voz suave se fez ouvir:
— Srta. Merridew, gostaria de lhe apresentar um amigo que adoraria ter a honra de dançar a valsa com a senhorita.
— Quem sabe... — Hope respondeu, muito alegre, e levou um susto quando, ao se virar, deparou com o ilustre cavalheiro em questão.
Por um momento, ela mal pôde respirar. O olhar dele a devorava. Hope o encarou, encantada.
— Sr. Giles, que bom vê-lo — a sra. Jenner cumprimentou, com um largo sorriso. — Como vai sua mãe? — A senhora sorriu mais uma vez. — Então você quer dançar com a srta. Hope, meu rapaz?
Ela pôs a mão de Hope sobre o braço de Giles.
— É claro que dou minha permissão.
Mas Giles, muito esperto, transferiu de imediato a mãozinha da dama para o braço de Sebastian.
— É o sr. Reyne quem deseja dançar com a srta. Merridew. Sebastian conduziu Hope para a pista, e a sra. Jenner, sem poder fazer mais nada, seguia com Giles, que a conduziu a um local distante dali.
De perto, o sr. Reyne parecia ainda mais alto e muito mais intimidante. E era bem mais bonito também.
— Então, srta. Merridew... me dará a honra da próxima dança? Hope hesitou, olhando para a poderosa mão que Sebastian lhe estendia, cheia de cicatrizes. A presença física dele era potente e desconcertante. Na verdade havia algo naquele homem que a intrigava. Os cavalheiros ao redor notaram a incerteza, e já se aproximavam para tentar a sorte, quando ela afirmou:
— Sim, sr. Reyne. Eu aceito.
Sebastian sentiu-se um ogro esmagando os dedinhos de uma fada. Então, pousou a outra mão em torno da cintura dela, experimentando, sobre o delicado tecido do vestido, a saliência quente de sua carne.
Como conseguiria dançar quando o desejo era de abraçá-la? Temendo perder o controle, segurou Hope com firmeza a uma distância segura e deu o primeiro passo, como se estivesse saltando para um desfiladeiro. Sem olhar para baixo.
E Sebastian Reyne não costumava agir por instinto, e sim pela lógica e pelo bom senso.
Porém, o que sentia naquele momento era volúpia, e volúpia nunca vinha acompanhada da lógica e do bom senso.
— É costume conversar enquanto dançamos, sr. Reyne.
Conversar?, Sebastian pensou. Mas como seria possível encontrar algo para dizer com uma mulher como aquela em seus braços?!
Mesmo que soubesse o que dizer, não podia garantir que sua voz iria sair. Sua boca estava seca, a língua, grossa, e toda sua anatomia reagia a Hope.
— Ah, é claro! Pode falar, então — foi a saída dele.
Uma risada macia flutuou no ar, que soou como água na fonte, como gotas de chuva e diamantes.
Sebastian se arrepiou, e sua imaginação o fez ver-se apertando-a e beijando-a até que eles perdessem os sentidos.
Mas achavam-se no meio do salão de baile. Um, dois, três. Um dois, três, Sebastian contava mentalmente.
— Nunca o vi num baile antes. O senhor é novo em Londres?
— Sim, eu sou.
— Pretende passar muito tempo aqui?
— Não muito.
Apenas o necessário para se casar com lady Elinore.
— Que pena... Há tantas coisas boas para aproveitar em Londres! — exclamou.
Havia muita coisa boa para aproveitar nos braços dela, naquele momento.
Sebastian continuava tentando se concentrar, mas o delicado perfume de Hope o inebriava. Era um delicado cheiro de mulher com um toque de... rosas? Baunilha?
O salão estava repleto, lotado de gente aquecida e mil perfumes diferentes. Como então podia estar sentindo o aroma dela? Mas o fato era que podia. Que delícia a delicada fragrância daqueles cachos dourados!
Hope se apoiou nele, entregando-se por completo ao condutor, respondendo a cada movimento dele como uma pluma pairando ao vento. Os lábios dela estavam entreabertos, e os olhos, meio fechados. Ela suspirou.
— A valsa é uma dança divina. O senhor não acha, sr. Reyne?
— Não, não acho — Sebastian resmungou, sem conseguir tirar os olhos dos lábios dela.
Tão perto... e tão longe. O castigo de Tânatos.
Os olhos dela se arregalaram, surpresos, e Hope sorriu.
— O senhor me intriga. Se não gosta da valsa, por que me tirou para dançar?
Um casal vinha na direção deles, e o choque seria inevitável. O homem, um camarada obeso vestindo uma calça roxa e um casaco brilhante, dava a impressão de estar bêbado, e mesmo depois de Sebastian o alertar com um olhar frio, o sujeito titubeou. A parceira dele tentou segurá-lo, mas o peso fui muito para ela, que o soltou.
Sebastian puxou Hope contra o peito e virou-se de costas, formando um círculo de proteção, impedindo com um braço que o homem se chocasse contra eles.
Sebastian segurou o estranho pelo colarinho e o jogou longe.
— Desculpe-me, companheiro. Escorreguei. Esse chão encerado é uma desgraça! — dizia o bêbado, muito sem jeito.
— Devia ser proibido por lei um cavalheiro se deixar levar pelo conhaque dessa maneira. — E Sebastian retomou a dança com Hope. — A senhorita está bem?
— Obrigada, estou sim. — Hope ficou corada, mas não fez nenhum movimento para tentar se livrar do abraço de Sebastian. — Mas e o senhor? Tudo certo? O choque foi violento.
— Imagine, senhorita. Seria necessário muito mais do que o encontrão de um senhor ébrio para me derrubar.
Ela franziu a testa como se não estivesse convencida, e sua preocupação chamou a atenção dele. Desejando tranqüilizá-la, Sebastian flexionou o braço umas duas vezes.
— Viu? Nenhum dano.
Hope o fitava com um sorriso no rosto, sentindo-se aquecida contra o tórax dele.
Talvez estivesse mais trêmula do que queria admitir. Moças bem-nascidas tinham de ser muitíssimo delicadas. A srta. Hope era bela e esbelta e parecia ser frágil o suficiente para se quebrar. Sem dúvida fora superprotegida durante toda a vida. A trombada com o lorde bêbado devia tê-la deixado zonza. Era por isso que estava recostada contra ele, sem se dar conta do ato impróprio. Só poderia ser essa a razão. Uma dama como aquela jamais encorajaria os avanços de alguém como ele.
O lado primitivo de Sebastian queria se aproveitar da distração dela, mantê-la ali, aninhada contra si por mais tempo; de preferência para sempre. Contudo, a parte sensata sabia que aquilo era uma fantasia tola e o lembrava de que sua obrigação era proteger a reputação dela, assim como o corpo da jovem. Desse modo, Sebastian se afastou, dizendo, gentil:
— A senhorita está tremendo. Devo trazer-lhe um refresco? Ou prefere se sentar?
Hope riu.
— Oh, céus, não! Não sou uma criatura tão fraquinha quanto pareço. E não desperdiçaria nem um segundo da nossa primeira valsa. — Lançou um sorriso estonteante e disse: — Estou adorando. E o senhor?
Sebastian tropeçou e ficou contando mentalmente: Um, dois, três. Um dois, três...
Nossa primeira valsa...
Sebastian precisou de alguns minutos para recuperar o ritmo. O jeito dela e suas palavras impediam-no de fixar a atenção ao que fazia. Mas se havia algo de que se orgulhava era de seu autocontrole, e logo eles já voltavam a rodopiar, com toda a segurança.
Intrigado com a colocação dela, afirmando que aquela era a primeira valsa deles, Sebastian buscou-lhe o olhar, na esperança de achar alguma pista sobre o que ela quisera dizer com aquilo. E, para sua surpresa, Hope também o observava. E a beleza dela o deixou zonzo. O rosto de seu anjo resplandecia de alegria.
— Tudo bem. Não me importo que o senhor volte a ficar calado. É difícil dançar e falar ao mesmo tempo. Eu entendo, e prometo que não o incomodarei. Quando dancei em meu primeiro baile, estava tão apavorada que pisei nos pés de meu par.
Hope falava de maneira calorosa e compreensiva, mas a concessão incomodou Sebastian.
— Este não é meu primeiro baile, senhorita.
— O segundo, talvez?
A dama tinha razão, mas ele não iria admitir assim tão fácil.
— Aprendi a valsar há pouco. Monsieur Lefarge quase se desesperou com minha falta de jeito. Eu não conseguia pegar o ritmo, sou muito desajeitado.
Hope ficou surpresa. Como assim? É ridículo imaginar um homem assim magnífico como um desajeitado...
— Por muito tempo tive de fazer a marcação baixinho: um, dois, três, um dois, três. — Os olhos muito azuis de Hope brilhavam. — Foi uma tristeza descobrir que era uma dançarina bem ruim. Sempre quis muito aprender a valsar. Vir a Londres e rodopiar junto de um cavalheiro elegante sempre foi meu maior sonho. — Suas faces coraram.
O efeito nele foi instantâneo. Excitante.
Sebastian ficou horrorizado. Aquilo nunca lhe acontecera em público; pelo menos desde que era ainda muito jovem. Cerrou as pálpebras, esforçando-se para afastar de si os pensamentos mais tentadores.
Para disfarçar, perguntou:
— Seu nome é Faith ou Hope?

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IRRESISTÍVEL DESEJO - Susan Crosby



Fiéis ao último pedido de um amigo, seis solteiros descobrem o verdadeiro valor da amizade… e do amor.

Milionário do mês: Devlin Campbell

Origem da fortuna: Herdeiro de um banco

Lema: Faça a coisa certa

O milionário Devlin Campbell jamais poderia imaginar que a noite de intensa paixão que passara com a misteriosa Nicole em Atlantic City teria conseqüências. Mas ao reencontrar Nicole muito longe dali, Devlin descobre que ela carrega um filho seu, e decide fazer o que julga correto. Mas será que dois completos estranhos conseguirão transformar a atração ardente em algo mais profundo?
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AS CHANCES


De conhecer um homem atraente num cassino: 1:1
De decidir impulsivamente passar a noite com o tal homem atraente: 1:5
De se apaixonar pelo novo amante: 1:10
De engravidar com uma noite de sexo: 1:100
De ele encontrá-la do outro lado do país: 1:10.000
De ele ser um milionário: 1:500.000
De ele se oferecer para se casar com você: 1:1.000.000

De ele se apaixonar por você: 1:??????????????????





PRÓLOGO

2 de janeiro, Sterling Palace Hotel e Cassino, Atlantic City, Nova Jersey

Devlin Campbell jogava 21 havia duas horas e perdia milhares de dólares, já que sua mente não estava no jogo, mas em uma carta guardada no bolso interno do paletó desde a manhã.
Não era fácil abalar Dev, mas a correspondência de uma página, impressa em um papel de uma firma de advogados da Califórnia, causara-lhe um choque intenso que ainda repercutia. Era impossível esquecer a carta, por isso, tentara ignorá-la da melhor maneira possível.
Tomou de uma vez seu quarto uísque com água, depois olhou de relance a mulher em pé, junto a seu ombro, que o olhava em silêncio. Mesmo antes de ficar meio embriagado, ela lhe parecera muito bonita. Seus cabelos eram longos, castanho-claros brilhantes, o corpo curvilíneo e tentador, mas o sorriso não lhe chegava aos belos olhos azuis. Estranhamente, a tristeza o atraíra tanto quanto seu corpo. Não sabia o nome dela, apenas que lhe dera sorte desde que a vira pela primeira vez, mais de uma hora atrás.
Estava perdendo quando a vira caminhando em direção à sua mesa e imediatamente ficara alerta, tudo nela o chamando, atraindo-o.
Parará para falar com um funcionário que passava e que apontou para algum lugar a distância. Olhara na direção apontada e então diretamente para ele, e congelara. Os olhos dela se abriram e, por alguns segundos, ambos se olharam fixamente. O carteador lhe chamara a atenção para o jogo e ele ganhou a mão.
Quando olhou de novo, ela estava passando por ele, bem perto.
— Espere — disse, segurando-lhe o braço, o contato parecendo queimar. — Você é meu talismã da sorte.
Ela parou. Tentou ir embora diversas vezes na hora seguinte, ele lhe implorara que ficasse, mais com os olhos do que com palavras. Ele a apelidou srta. Fortuna, esperando fazê-la rir, mas a tristeza nos olhos dela apenas se tornou mais profunda.
Mas não se fora, mesmo depois que uma pequena multidão curiosa se reunira para vê-lo ganhar cada mão, as apostas cada vez mais ousadas. O pessoal da segurança apareceu, observou cuidadosamente os movimentos de Dev, mas ele não estava roubando. Nem se incomodava de perder ou ganhar, queria apenas continuar a jogar.
A mão seguinte foi distribuída e Dev ergueu os cantos das cartas, um valete e um cinco, o tipo de mão que qualquer pessoa sensata consideraria suficiente, deixando que o carteador determinasse o resultado, mas Dev teve uma inspiração. As chances seriam de ele receber uma carta alta, ultrapassando o 21.
Mas recebeu um 6. Vinte e um. Era esse tipo de noite.
A srta. Fortuna abaixou a cabeça sobre seu ombro.
— Eu realmente preciso ir. Parabéns.
Ele voltou a cabeça, os rostos quase se tocando.
— Jante comigo.
— Não posso. — E saiu.
Teria de fazê-la parar à força, o que era tentador, mas apenas a olhara até que ela desapareceu na multidão, imaginando qual seria sua história, desejando poder pôr as mãos naquele corpo incrível.
A emoção do jogo desapareceu. Reuniu suas fichas, levantou-se e trocou-as.
E agora? Impossível dirigir para casa até a Filadélfia, não depois de quatro uísques. Mas podia se hospedar no hotel, pedir alguma coisa ao serviço de quarto, reler a carta e lidar com suas lembranças…
Hesitou, o que era raro. Geralmente, tomava decisões claras e rápidas em qualquer situação. Mas esta exigia que fizesse uma avaliação de sua vida, e não se sentia à vontade. Maldito seja você, Hunter. Foi ao balcão do hotel, conseguiu um quarto no 21° andar, seguiu para os elevadores e, quando a campainha de um deles tocou, aproximou-se da porta, esperando.
As portas de abriram. A srta. Fortuna estava nele.
Mais do que uma coincidência, pensou. Destino.
Ela não fez menção de sair. Ele entrou, apertou o botão do seu andar, as portas se fecharam. Um nó apertado se formou em seu peito quando viu aquela dor nos olhos dela.
— Quem partiu seu coração? — perguntou. Os olhos dela se encheram de lágrimas.
— Deixe-me consertá-lo — disse com suavidade. Sem dizer palavra, tomou-a nos braços e puxou-a gentilmente para junto dele. Ela resistiu um pouco, depois pressionou o rosto contra seu ombro e abraçou-o, apertando-o com força, deixando escapar um pequeno soluço. Ele lhe roçou a têmpora com os lábios. As portas se abriram depressa demais.
— Venha — murmurou. — Fique comigo esta noite. Depois de um momento ela acenou e saiu do elevador. Ele lhe tomou a mão.
— Qual é o seu nome?
— Nicole.
— Eu sou Devlin.
Caminharam pelo corredor de mãos dadas.


CAPÍTULO 1

1º de maio, Sterling Palace Hotel e Cassino, Stateline, Nevada

Onde estava a srta. Fortuna quando precisava dela?
Devlin Campbell observou o salão do cassino, o equilíbrio prejudicado pelas luzes de neon e o barulho incessante das máquinas caça-níqueis. Não conseguira ganhar uma só mão no 21. Não era supersticioso, não atribuía suas perdas à ausência de seu antigo talismã da sorte.
Sabia que a responsabilidade era da diferença do fuso horário.
Assim, em vez de se concentrar nas cartas, preferiu olhar as pessoas que passavam, embora não houvesse motivo para procurar continuamente por ela… a srta. Fortuna. Nicole. Afinal, encontrara-se com ela do outro lado do país, navios que se cruzavam à noite… ou, mais adequadamente, porto durante uma tempestade, encontrando conforto e refúgio nos braços um do outro por motivos que nenhum deles havia revelado.
Nunca tivera uma noite como aquela, antes ou depois, embora tivesse voltado duas vezes, esperançoso…
Sim, fuso horário. Com três horas de diferença da Filadélfia, já perdera um dia inteiro.
Sem mencionar os dias em que trabalhara 14 horas seguidas no último mês, preparando-se para esta viagem.
Dev observou o carteador distribuir as cartas, depois virar um rei para ele. Olhou as cartas, um 7 e um 5.
Não sabia por que fora ao cassino. A geladeira da casa de campo onde se hospedava fora bem abastecida por Mary, a zeladora, que o encontrara com a chave da casa. Poderia ter esquentado uma das refeições de um restaurante local e depois ido para a cama. Mas nem mesmo desfizera as malas ou se dera ao trabalho de percorrer a espetacular casa de madeira e pedra.
— Mais uma, senhor? — o carteador perguntou.
Acenou que sim e uma rainha caiu sobre suas cartas. Vinte e dois!
Perdedor. Não era uma palavra que combinava com o nome Devlin Campbell. Nunca!
Pegou as fichas que ainda restavam e se retirou da mesa, sentindo fome. Comeria alguma coisa simples e rápida e voltaria para a casa de campo, para dormir por pelo menos dez horas.
Os aparelhos de televisão transmitiam um jogo de basquete. Pediu uma cerveja e um hambúrguer com batatas fritas, levantou o copo de cerveja e olhou a sala. Uma mulher passava pela entrada. Uma mulher usando o uniforme do Sterling Palace. Uma mulher que o fez lembrar de…
A cerveja derramou sobre suas mãos quando deixou o copo com força sobre o balcão e correu para fora. Ela estava a menos de 10 metros à frente, andando depressa. Os mesmos cabelos brilhantes e castanho-claros, desta vez numa trança. Um corpo espetacular, pernas sexies que haviam abraçado seu corpo com força. Chamou:
— Nicole!
Ela se voltou, olhou para ele, hesitou, virou-se e andou mais depressa. Que diabos?
Estava fugindo dele? Por quê?
Não era uma ameaça, nem mesmo sabia seu sobrenome. Não que isso importasse, já que não tivera um segundo encontro ou uma segunda noite com uma mulher nos últimos dois anos, mesmo que ela fosse bela e sexy.
Mas… quisera uma segunda noite com Nicole, tão apaixonada e intensa quanto ele, afirmativa e exigente de uma forma que o fizera esquecer tudo naquela noite.
Até a chegada da carta.
Alcançou-a, segurou-lhe o cotovelo, fazendo-a parar.
— Está treinando para uma maratona? — perguntou.
O olhar dele abaixou para a etiqueta de identificação no uniforme: Nicole, Sacramento, Califórnia. Não sabia que era funcionária do Palace, não estava usando uniforme quando se encontraram.
— Oh, oi — disse ela. — Um…
— Devlin — informou, surpreso. Ela esquecera! — Janeiro? Atlantic City?
Ela fechou a jaqueta, libertando-se ao mesmo tempo de sua mão. Era ainda mais voluptuosa do que ele se lembrava. A memória não falhara. E, definitivamente, queria uma repetição daquela noite em Atlantic City.
— Eu me lembro — disse, sorrindo suavemente, mas, como da primeira vez em que se encontraram, o sorriso não chegava aos olhos dela.
— Você trabalha aqui.
— Sou subgerente do hotel.
Em circunstâncias normais, já teria saído e não teria se encontrado com Devlin. Mais uma vez, as mãos do destino a agarraram e não a soltaram. Era cedo demais.
Não estava pronta…
— Nic?
Sorriu para Ann-Marie.
— Estarei bem até o fim do plantão.
A jovem sorriu e voltou para o balcão. Nicole a seguiu. Era noite de terça-feira e havia pouca probabilidade de uma chegada em massa de hóspedes, mas era possível que Devlin quisesse um quarto e ela ficou junto ao balcão, esperando.
Alguns minutos antes das 21h, ele chegou e apontou para um lugar onde poderiam conversar sem serem ouvidos.
— Se não quer jantar, vamos tomar uma bebida?
Ela sacudiu a cabeça, esforçou-se para sorrir.
— Estarei aqui todas as noites até você dizer que sim.
— Todas as noites? Por quanto tempo…
— Está aqui a negócios?
— Não sei bem como responder a isso. Deveria ser por prazer, mas é a idéia de prazer de outra pessoa, não minha. Ficarei um mês.
Um mês! Segurou o balcão com força. Tudo estaria diferente em um mês. E agora?
O que deveria lhe contar? E quando? Precisava pensar no que dizer.
Mas não nesta noite. Não nesta noite. Amanhã seria pouco. Nada muda de uma hora para outra.
— Quer uma carona para casa?
— Tenho meu carro, obrigada.
— Vou acompanhá-la até ele.
Seu tom era mais de ordem que de oferecimento. Nunca aceitara ordens muito bem.
— Tenho algumas coisa a fazer antes. Tenho certeza de que nos encontraremos outra hora.
Entenda uma indireta, sr. Campbell. Está dispensado. Ela se voltou e deu alguns passos.
— Do que está com medo, Nicole? — perguntou, a voz bem alta para fazer Ann-Marie olhar para ele.
Ela se voltou para ele.
— Por que está me pressionando?
— Aquela noite que passamos juntos foi inesquecível. Então queria uma repetição. O que esperava? Amor à primeira vista?
— Isso foi naquele momento. Boa noite.
Ela se afastou, refugiando-se de novo no escritório e vigiando o lobby pela parte de vidro da porta. Segundos depois, o viu dirigindo-se para a saída do estacionamento.
Alguém balançou a mão para cima e para baixo na frente do vidro, depois mostrou o rosto sorridente. Sorriu de volta e abriu a porta. Juan Torres era o homem mais gentil da face da Terra.
— Muito obrigado por cobrir parte do meu plantão — disse Juan pregando o crachá de subgerente na lapela do paletó. — Fico devendo.
Ela lhe entregou uma folha de papel com a lista de problemas que haviam ocorrido durante seu plantão e apontou para um em particular.
— O hóspede do 1.015 já trocou de quarto três vezes desde que chegou às 18h.
— Qual é o problema?
— Quarto perto demais dos elevadores. A vista é horrível. Vizinhos barulhentos.
— Ah, o de sempre. Tentando conseguir hospedagem grátis.
Ela começava a responder quando viu o sr. Quarto 1.015 se aproximando do balcão, o olhar fixo, o andar determinado, claramente voltando para exigir novo quarto.
— Salva pelo gongo — murmurou Nicole com alívio. — Até amanhã, Juan.
Pegou a bolsa, despediu-se do pessoal do balcão, contente por estar a caminho de casa. Precisava ficar sozinha, pensar nas palavras certas para dizer a Devlin Campbell.
— Espere — disse Ann-Marie, correndo para alcançá-la. — Quero ter certeza de que chegará bem ao carro.
Não pôde deixar de sorrir. Ann-Marie, cinco anos mais nova, tentava protegê-la.
— Estou bem. — Pôs uma das mãos sobre o ventre, enfatizando: —Estamos bem.
— Deixe que eu vá com você, vamos pelo mesmo caminho.
Alguns segundos depois chegaram à porta de saída para o estacionamento. Devlin apareceu, assustando-a, bloqueando sua passagem. Os olhos verdes eram frios e duros quando olhou dentro dos dela, depois abaixou o olhar para seu ventre.
— Eh… vá na frente — disse a Ann-Marie, que olhou de Nicole para Devlin.
— Tem certeza? Quero dizer…
— Estou ótima, até amanhã. — Fez um movimento com a mão, indicando a porta a Ann-Marie, e esperou que Devlin falasse, tentando ficar calma, sem conseguir. Destino. Não conseguia escapar daquele homem.
Ele se aproximou.
— É meu?

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