sábado, 17 de julho de 2010

Entre o Amor e a Vingaça - Jacqueline Baird



Para Jake d’Amato, Charlote Summerville não passava de uma bela alpinista social. E ele estava determinado a fazê-la pagar por isso. O plano era simples: a vingança seria na cama! Na verdade, as intenções de Charlie eram puras e inocentes como ela. No entanto, ela se viu casada com um homem que parecia desejá-la e odiá-la. Só que agora ela está grávida de um filho dele!
Meu comentário: Este romance é muito bonito que realmente vale a pena ler, o mocinho fica dividido entre o seu amor ou vingança.
Leia o 1º capitulo em Leia mais ou
CAPÍTULO UM

— Com licença, Charlotte. — Ted Smith, dono da prestigiada Art Gallery de Londres, sorriu para a mu¬lher ao seu lado. — O comprador italiano de "A mu¬lher que espera" acabou de chegar. Preciso falar com ele e pedir sua assinatura.
— Claro. — Charlotte Summerville, Charlie para os amigos e filha do artista cujas obras estavam sen¬do expostas na Art Gallery, observou Ted desapare¬cer na multidão e suspirar aliviado.
Finalmente, só. Ela olhou ansiosamente em direção à saída. O senhor calvo que a olhou de soslaio de¬via ser o tal comprador italiano. Misturar-se aos grandes escalões do mundo da arte londrina não era seu estilo. Agora seria uma boa hora de sair dali, de¬cidiu subitamente, e esgueirou-se pela multidão.
Jake d'Amato saiu da sala de Ted Smyth com o quadro comprado. Chegara a Londres da Itália a tra¬balho havia algumas horas. Deparou-se na recepção do hotel com uns panfletos anunciando os eventos da cidade, e o nome de Robert Summerville chamou sua atenção. Abriu um que anunciava uma exposição dos últimos trabalhos do artista e a imagem de sua irmã de criação Anna lhe chamou a atenção.
Descobriu que o advogado do artista detinha os di¬reitos autorais e legalmente não havia nada que Jake pudesse fazer para impedir a exposição. Frustrado, percebeu que era tarde demais para impedir que a tela fosse exposta, mas telefonou imediatamente para o dono da galeria e a reservou.
Quando chegou à galeria, já havia controlado os ânimos. Sabia que Summerville tinha uma filha jo¬vem e que o advogado tinha o direito de vender as pinturas em benefício dela.
Mas Jake se surpreendeu ao saber que a própria fi¬lha havia organizado a exposição. Ela não era a menininha egoísta que Anna descrevera, mas uma execu¬tiva astuta. Robert Summerville estava morto e fora da jogada, mas uma filha madura tomava a situação mais complexa.
— Então, quem é a filha do artista? — perguntou Jake a Ted. — Gostaria de conhecer e oferecer a ela minhas condolências pela triste perda do pai.
E perguntar o que pretendia fazer com a quantida¬de de dinheiro que herdaria. Nem precisaria pergun¬tar ganância, pura e simples, era a motivação dela. Por que mais iria expor aquelas telas?
Ele odiava Robert Summerville, embora nunca o tivesse conhecido. Mas, pelo menos, teve a decência de manter as telas em segredo. Diferente da filha.
Charlotte Summerville devia ser apontada publi¬camente como a mulherzinha gananciosa que era.
- Aquela é Charlotte, a loura ali de preto, perto do quadro que você acabou de comprar. Venha, vou apresentar vocês. Posso tirar a tela agora mesmo e enviar para sua casa, se quiser.
Em vida, seu pai era pintor de paisagens, e foi ape¬nas após a morte que sua coleção particular de nus ar¬tísticos foi revelada. De repente Robert Summerville ficou famoso — ou talvez infame fosse a melhor pa¬lavra, pois havia rumores de que havia sido amante de todas as mulheres que retratou.
Por mais que amasse o pai, não tinha como negar o fato de que foi o homem mais ocupado consigo mes¬mo que conheceu. Alto, louro e bonito, com bastante charme para convencer uma freira a largar o hábito, ele viveu plenamente a vida de um artista boêmio. Mas jamais amou uma mulher de verdade.
Não, estava sendo injusta. Seu pai a amava, ela sa¬bia. Depois que a mãe de Charlie morreu, quando ela tinha 11 anos, seu pai insistia que todo ano ela pas¬sasse uma temporada de férias com ele em sua casa na França. E deixou para ela tudo o que possuía.
Charlie sabia de uma das telas de nu, mas desco¬briu sobre as restantes ao arrumar o estúdio do pai. Foi como um choque, mas nenhuma grande surpresa. Aquilo se deveu, em parte, à primeira visita ao pai na França após a morte da mãe. Ao entrar no estúdio um dia, sem ser convidada, Charlie flagrou o pai nu ao lado da nova namorada e viu a tela que ele estava pin¬tando. Dali em diante ele sempre mandava as aman¬tes embora quando Charlie estava de visita.
Ted examinou as telas e sugeriu organizar uma ex¬posição. A princípio, Charlie se recusou. Não preci¬sava do dinheiro. Já se sustentava sozinha desde que o avô morrera e assumiu a administração do hotel da família no Lake District, que foi sempre o negócio da família e seu lar. Mas ela conhecia milhares de pes¬soas que precisavam desse dinheiro. Ao menos algo bom resultaria da morte do pai.
Chegando à saída, as últimas telas chamaram sua atenção por um instante. A mulher retratada tinha ca¬belos impressionantemente longos e escuros, deli¬neando seus ombros e caindo quase até as coxas. Mas foi o rosto da mulher que de fato perturbou Charlie. O artista captou o amor e a carência nos olhos escuros a um ponto que chegava a ser doloroso de ver.
Coitada, pensou Charlie com os lábios curvados em um raro cinismo. Como foi que a mulher não se deu conta de quanto Robert Summerville era paquerador? Das trinta pinturas da galeria, dez eram estu¬dos de nu de mulheres. Balançou a cabeça ao virar-se e foi. embora.
Os olhos de Jake d'Amato não se desgrudaram da mulher para a qual Ted apontara. Devia medir pouco mais que l,75m, avaliou: pernas longas e bem tor¬neadas, um vestido preto e simples de lã moldando o corpo e delineando seios firmes e arrebitados e uma curva delicada nos lábios e nas coxas. O cabelo era de um louro cinza e estava armado em um coque no alto da cabeça. Os olhos escuros de Jake brilharam com uma apreciação masculina primitiva. Ela usava pou¬ca maquiagem e mesmo assim estava bela. Obvia¬mente herdara a aparência do pai, mas de forma inocente e atenuada.
O corpo de Jake enrijeceu-se e os olhos escuros flamejaram de raiva. Anna tinha razão. Charlotte Summerville se recusou a conhecer Anna, e seu des¬prezo pela última amante do pai ficou óbvio pelo sor¬riso cínico que se desenhou nos lábios dela, seguido de um movimento de desdém ao se afastar do retrato.
— Charlotte, querida — a voz de Ted soou alta e clara—, tem alguém querendo conhecer você.
Charlotte se enrijeceu, praguejando baixinho. Re¬lutante, ergueu o rosto, resignada em tentar agir de forma educada com um velho rico e gordo que foi apenas ver pinturas de mulheres peladas. Tudo em busca de fortuna.
— Aqui está Jake d'Amato. Um grande admirador da obra de seu pai. Acabou de comprar uma tela.
Os olhos azuis de Charlie, ainda iluminados de ca¬pricho, encontraram-se com os de Ted.
— Sim, claro.
Seus olhos fixaram-se como que hipnotizados por aquele homem. Não era o velho gordo que pensara — nada disso.
Da pele bronzeada saltavam os ossos do rosto até o nariz retilíneo e a boca firme logo abaixo. E, final¬mente, com um queixo quadrado e bem definido, aquele homem era surpreendentemente atraente. Alto, cerca de l,80m, ombros largos, ele irradiava uma aura de confiança suprema e poder masculino que apagava qualquer outro homem no recinto. Com os cabelos negros bem ajeitados e caídos sobre as sobrancelhas largas e os olhos escuros, ele certamente era de origem mediterrânea. Era o homem mais atraente que havia conhecido e ele sorria para ela.
— Charlotte. Encantado em conhecê-la e sinto muito pela perda do seu pai.
De alguma forma, Charlie sentiu a pequena mão sendo envolvida por um aperto masculino forte que não a soltava. E a intensidade com que os olhos escu¬ros do homem penetravam nos seus chegava quase a assustar.
— Obrigada, sr. d'Amato.
— Por favor, me chame de Jake. Não quero forma¬lidades com você. — Ele apertou a mão dela com de¬licadeza.
O calor da mão dele transmitia uma onda de alerta por todo o seu corpo. Um arrebatamento tomou seu corpo, o que a deixou com mais dificuldade de falar, conseguindo apenas encará-lo.
— O fato de seu pai ter lhe deixado um acervo ex¬traordinário de obras deve ser um grande consolo.
— É. Obrigada — concordou, desviando os olhos para as mãos unidas dos dois. Céus, controle-se, re¬preendeu a si mesma, tentando dominar as batidas do coração.
— É um prazer — afirmou gentil, dando um rápi¬do beijo na mão dela, antes de soltá-la. — É uma hon¬ra conhecê-la. Gostaria de sua sincera opinião sobre a tela que comprei. — E a conduziu pela cintura até o retrato. — Encantador, não? — Jake estava decidido a fazê-la encarar o rosto de Anna, a mulher que Charlie insultou em vida, mas que teve prazer em explorar após a morte.
O som da voz grave e melodiosa provocou outro arrepio em Charlie. Ela franziu o cenho. Não era dada a fantasias e se assustou com aquilo, ainda mais por¬que a impressão que tinha a respeito do italiano esta¬va marcada pela aversão que sentia por ele ter com¬prado uma das telas de nu. Controlando-se, disse:
— Encantador mesmo, sobretudo se você tiver uma queda por quadros de moças nuas.
— Mostre-me um homem que não tenha, Charlot¬te, e provo que não passa de um mentiroso — afir¬mou, passando os olhos pelo rosto dela e descendo até os seios provocantes. — Embora eu tenha de ad¬mitir que prefiro a versão viva.
Ela não podia acreditar. Jake d'Amato estava fler¬tando com ela. Sentiu os seios enrijecerem-se sob o sutiã de renda e, envergonhada, enrubesceu.
Jake d'Amato calou-se. A atração sexual visível daqueles olhos azuis e o convite dos mamilos aponta¬dos marcando o vestido provocavam um efeito ines¬perado em seu corpo. Fazia tempo que uma mulher não o excitava daquela forma. O fato de ser aquela mulher o chocava.
Estava determinado a apontá-la em público como egoísta, parasita interesseira, e ir embora. Mas, de re¬pente, o cenário mudou. Ele se viu imaginando o gosto dos lábios de Charlotte, os seios firmes e empina¬dos, a boca... E a única coisa que desejava agora era despi-la sobre a cama.
Devia estar enlouquecendo. A família Summerville foi responsável pela morte prematura de Anna Lasio e pela tristeza da família. Constranger Charlotte não era nada comparado ao tumulto que os Summerville causaram à sua família.
Ele estava ali a negócios com uma reunião atrás da outra pelas próximas duas semanas. Pela primei¬ra vez, combinar negócios e prazer parecia uma idéia muito atraente. Modéstia à parte, sabia que era um bom amante e seria interessante seduzir a adorá¬vel Charlotte aos pouquinhos até que ela implorasse para dormir com ele, como o pai fez com sua irmã de criação...
Fazendo-se ainda mais charmoso, murmurou sua¬vemente:
— Vejo que a deixei envergonhada, Charlotte. Deve achar que sou um velho libertino que passa o dia babando por mulheres nuas. Vou lhe deixar em paz. Sou acima de tudo um homem de negócios e quando vejo um bom, eu o agarro, seja ele uma empresa ou arte. A pintura é um investimento. Não quero parecer insensível, mas você deve saber bem que a obra de um artista falecido é muito mais vendável que a de um artista vivo.
Charlie sabia que essa avaliação cínica estava correta.
— É — murmurou, recobrando a voz.
— E vou dizer mais uma vez — a voz aguda en¬grossou quando se virou para a pintura — essa é a única pintura que quero ter. Creio que seja a última e a melhor de seu pai.
Charlie examinou mais uma vez a pintura, em que o pai foi capaz de captar perfeitamente a essência da mulher.
— É linda mesmo — concordou. Embora pudesse ser a melhor, sabia que não era a última. Havia um retrato semi-acabado de uma ruiva em seu poder... — Mas não é a última, acho.—Estava prestes a falar so¬bre o último caso de Robert, esperando manter o inte¬resse de Jake. Mas o esforço foi em vão; ele não a ou¬via mais. Viu os olhos escuros petrificados e a reali¬dade lhe deu um soco na cara. O homem estava como que hipnotizado pelo retraio.
Seu primeiro julgamento sobre Jake d'Amato fora precipitado. Certamente, ele não era um velho gordo. Muito pelo contrário. Um homem mais admirável se¬ria difícil de encontrar. Mas quanto ao resto, ela tinha razão. Ele era rico e do tipo que gosta de olhar para quadros de mulheres nuas.
Não era o tipo de homem para ela. Pegou a bolsa e, dando um passo rápido para trás, aumentou o espaço entre eles.
— Bem, desejo felicidades por sua compra, sr. d'Amato. Prazer em conhecê-lo, mas estou de saída. — E embrenhou-se pela multidão antes de parecer mais tola que já parecia.
O único motivo pelo qual Charlotte existia era porque Robert Summerville, aos dezenove anos e es¬tudante de arte, engravidou sua mãe, e os pais insisti¬ram para que se casassem. Provavelmente foi a pri¬meira e única vez que Robert foi coagido a fazer al¬guma coisa. Quando se formou dois anos depois, já havia deixado esposa e filha com os avós maternos em Lake District e saído em busca de sua "verdadeira alma de artista". Charlie e a mãe só o viram três anos depois, à ocasião do inevitável divórcio.
Charlie pensou que tudo de que precisava era um simples jantar e dormir cedo, e não ficar fantasiando sobre um homem desconhecido. Endireitando os om¬bros, saiu do prédio apressada.
Esperava quase no meio-fio e olhava pela rua. Ne¬nhum táxi à vista.
— Droga — resmungou.
— Isso é jeito de uma moça falar? Que vergonha, Charlotte — zombou uma voz grave.
— Sr. d'Amato — disse fria, mas sem conseguir disfarçar o rubor das faces.
— Jake — corrigiu ele. — Qual é seu problema, Charlotte? Talvez eu possa ajudar.
A forma acentuada com que pronunciou seu nome foi suficiente para causar arrepios.
— Costumam me chamar de Charlie, e estou ten¬tando pegar um táxi para casa.
— Charlie não é nome para uma bela mulher e me recuso a usá-lo. Quanto ao táxi, isso não é problema. Meu carro está aqui. — E apontou para um carro azul-marinho estacionado a dez metrôs de distância. — Levo você aonde quiser.
— Não, não posso...
— Talvez jantar, é claro que você pode.
Cinco minutos depois lá estava ela sentada no lu¬xuoso carro, enquanto Jake dirigia, após tê-la con¬vencido a jantar com ele em um famoso restaurante de Londres.
— Você sempre consegue o que quer? — indagou Charlie seca.
— Nem sempre — respondeu, encarando-a. Es¬tendeu o braço e virou o rosto de Charlie em sua direção. — Mas se for algo ou alguém que eu realmente desejo, sempre consigo.
Charlie engoliu em seco e pensou em uma resposta inteligente, mas lhe faltaram palavras, enquanto ele escorregava os braços por seus ombros. Os lábios de Jake cobriram os seus, persuadindo-a a abri-los à suave invasão de língua. A paixão cada vez mais for¬te do beijo incendiou Charlotte por dentro, uma sen¬sação totalmente nova para ela. De repente, ela o de¬sejou com tanta avidez que ergueu as mãos para abra¬çar aqueles largos ombros, sem alcançá-los.
— Dio Mio! — exclamou Jake estremecido, afas¬tando-se dela. Seus olhos escuros miraram o rosto de Charlie e os lábios suavemente intumescidos.— Que mulher!
Por um momento, Charlie pensou ver raiva nos olhos que a examinavam. Em seguida recebeu um leve beijo na ponta do nariz.
— Prometi o jantar, o resto terá de esperar. — Ele lançou um sorriso sedutor, deu a partida no carro e partiu.
Charlie não abriu a boca. Mal podia acreditar no que acontecera; não era do feitio dela. Onde estava seu bom senso, seu conhecido autocontrole? Esque¬cidos em um beijo. Seu corpo inteiro estava tomado por uma estranha excitação vibrante que ela nunca imaginou sentir. O mais inacreditável, porém, era ver Jake tão cativado por ela quanto ela por ele. Sentiu isso pelas batidas do coração de Jake, seus tremores, pela reação ao interromper o beijo.
Agora o jantar que ela tanto recusou se tornou uma atraente idéia.

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