sábado, 17 de julho de 2010

INADEQUADO, MAS IRRESISTÍVEL! - Anne Gracie



Inglaterra 1816

Nos braços de um libertino!
Cansada da tirania do avô, Prudence Merridew foge com suas irmãs para Londres. Uma delas precisa se casar, e para viajar como acompanhante das irmãs, Prudence simula um noivado secreto com um duque recluso. Mas quando o duque inesperadamente chega em Londres, ela é obrigada a contar com a ajuda dele para evitar uma situação desastrosa...
Aristocrático, bonito e charmoso, Gideon entra de bom grado no jogo de Prudence, já que a encenação lhe possibilitará roubar alguns beijos da adorável dama. Habituada a conviver apenas com as irmãs e com pessoas idosas, Prudence fica fascinada com aquele homem charmoso e sedutor. E então seu plano começa a ir drástica e deliciosamente por água abaixo...

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Adendo: Está uma série de quatro livros, sobre as irmãs Merridew, que ao fiacaram orfans, fogem da tirania e maldade do avô, encontram o amor e felicidade onde menos imaginam. "Inadequado, mais irresístivel" é cheio de humor aventura e muita emoção vale a pena ler.
Leia o 1º capitulo em leia mais ou


Capítulo I



Dereham Court, Norfolk, Inglaterra, 1816

― Prue! Prue! Corra! Ele está surrando Grace lá no sótão!
Ao ouvir os gritos de Hope, sua irmã de dezessete anos, Prudence Merridew largou a pena sobre o livro de registros. O gesto apressado lançou pequeninos borrões de tinta sobre as contas da casa em que ela trabalhava, mas Prudence nem percebeu: já havia disparado porta afora.
No corredor, passou por Hope e também por Faith, irmã gêmea de Hope. Com os olhos esbugalhados, as duas se puseram nos calcanhares da irmã mais velha.
— O que deu nele desta vez? — perguntou Prudence por sobre o ombro.
— Charity disse que ele encontrou Grace no sótão fazendo um presente para você. — Hope arquejou.
— Charity tentou contê-lo — interveio Faith. — Mas ele bateu nela também.
— Eu quis ir lá socorrer Grace, mas como iria ajudar com o braço neste estado? — Hope ergueu a mão esquerda, em cujo punho ainda eram visíveis as marcas deixadas pela corda. — Além do quê, ele trancou a porta.
— Pode deixar, tenho as chaves aqui comigo. James! James! O robusto e leal criado foi alcançar as três irmãs quando elas já se achavam no segundo piso do casarão.
— Depressa! Lorde Dereham está batendo em Grace lá em cima! — explicou Prudence, antes de se lançar ao terceiro pavimento e dali em direção ao estreito lance de escada que levava ao alojamento dos criados e ao sótão.
Num daqueles degraus estava sentada Charity. Entre soluços, ela quis explicar:
— Oh, Prue, eu tentei...
Com um gesto zeloso, Prudence afastou a mão com que a irmã cobria uma das faces. Dois vergões avermelhados maculavam a pele muito clara da jovem de dezenove anos de idade. Oh, como ele pudera...? Charity era a meiguice em forma humana!
— Você foi muito corajosa, querida. — Virando-se para Faith, a mais tímida delas e que agora tremia da cabeça aos pés ante mais aquele assomo de fúria do avô, Prudence instruiu: — Faith, leve Charity para o meu dormitório, depois vá pedir um pouco de bálsamo ou ungüento à sra. Burton. Charity cuide dessas marcas no seu rosto e deixe tudo pronto para Grace.
Enquanto as duas mocinhas punham-se escadaria abaixo, Prudence continuou a galgar os degraus em direção ao sótão na companhia de Hope e James. Assim que chegaram ao último piso, ela se deteve.
— Entraremos sem fazer barulho, então deixem que eu me ocupe dele. Vocês cuidam de levar Grace para baixo.
O jovem lacaio fez um gesto afirmativo, porém Hope protestou:
— Mas ele está furioso, Prue! Vai acabar batendo em você também!
— Ela tem razão, srta. Prue — concordou o criado, um brilho irado no olhar. — E melhor que eu cuide dele.
— Não, ele o mandaria embora daqui ou... ou coisa pior. E se ele me bater, bato nele de volta! — retrucou Prudence. — Já estou farta de tanto maus-tratos e de toda essa violência abominável.
Haviam chegado à porta do sótão. Ela então baixou a voz num sussurro.
— Hope, vá com Grace para o meu quarto. Não saiam de lá. Prudence levou a chave à fechadura. O cuidado com o ranger da porta estreita foi desnecessário já que, completamente tomado por um surto colérico, Theodore Dereham, avô das irmãs Merridew, parecia alheio a tudo à sua volta. Em pé, ele açoitava sem dó nem piedade a indefesa Grace, que tinha as mãos sobre a cabeça como se isso pudesse protegê-la de alguma maneira.
— Sua pagãzinha imunda! Vapt! Obscena, ordinária, é o que você é! Vapt! Sua herege! Vapt!
A cada insulto, o braço ainda firme do idoso homenzarrão descia em direção à menina de dez anos de idade, fazendo o chicote estalar contra o corpo todo encolhido no chão, junto à parede.
— Deixe minha irmã em paz, seu... brutamontes sem coração!
Avançando pelo pequeno aposento com o ímpeto de uma bala, Prudence investiu contra o avô como se esquecida de que, além de muito alto, ele possuía o físico ainda bastante forte devido aos exercícios da caça, da pesca e da vida ao ar livre. E também, obviamente, das surras que dava nas netas.
Pego de surpresa, Theodore cambaleou e, aproveitando-se disso, Prudence tornou a empurrá-lo para longe de sua irmã caçula. Após tropeçar num baú com roupas velhas das gêmeas e da própria Grace, o velho sentou-se na tampa de madeira na busca de recuperar o fôlego. Sem perda de tempo, James ajudou a menina a erguer-se do chão e a conduziu para fora do sótão para então, agarrando Hope pela mão, levar as duas para longe dali.
Quando se pôs em pé novamente, Theodore, com o rosto arroxeado pela raiva e as veias da testa e do pescoço que pareciam prestes a estourar, pegou o chicote do chão e avançou em direção a Prudence.
— Sua vadia atrevida! Vou lhe ensinar a me desrespeitar! Os olhos dela eram a expressão do mais absoluto desprezo.
— Como tem coragem de usar do seu chicote de montaria para surrar uma criança?
— Aquela pequena bruxa estava metida com heresias e idolatria ao mal, mas eu vou tirar a imundície de dentro dela nem que seja a última coisa que faço em vida!
Heresia? Idolatria ao mal? Prudence olhou para a mesa de três pernas onde Grace estivera envolvida em sua tarefa. Sobre o tampo estavam uma grande carteira feminina feita de cartolina e várias das velhas revistas que a vizinha, a sra. Otterbury, tinha lhes dado longe da vista de lorde Dereham. Naquela ocasião, as irmãs haviam se encantado com os desenhos egípcios em um dos exemplares, ilustrações que representavam criaturas estranhas e irreais como a Esfinge e outras que também eram metade animal e metade humana.
Ao se lembrar do quanto elogiara as ilustrações, Prudence sentiu um assomo de culpa lhe apertar o coração. Grace usara aquelas figuras para ornamentar a carteira de papelão com a qual pretendia presenteá-la no seu aniversário.
— Isso não tem nada a ver com heresia nem idolatria ao mal; trata-se de... de uma extravagância da moda. Grace ainda é criança, é natural que essas figuras despertem a curiosidade dela!
— Esses desenhos são uma blasfêmia, isso sim! E essa... essa coisa que Grace fez tem os sinais do demônio. Isso deve ser queimado e ela tem de ser purificada de todo o mal.
Com um movimento do braço, Theodore derrubou ao chão tudo o que havia sobre a mesa.
Correndo a apanhar a carteira, Prudence levou-a de encontro ao peito.
— Não há nada, absolutamente nada de errado com Grace. Ela é uma criança meiga e adorável que...
— Ela tem o estigma do mal! Assim como você!
— Nossos cabelos não são estigma de coisa alguma, vovô! — Prudence tomou uma de suas mechas cacheadas entre os dedos. — São apenas cabelos, nada mais! Grace e eu não escolhemos a cor dos nossos. Nossa mãe tinha cabelos avermelhados, como o senhor bem sabe.
— Proíbo você de falar daquela meretriz sob meu teto! — Theodore tornou a erguer o chicote. — Ela era uma desavergonhada que seduziu meu filho e o levou para longe de mim, e tanto você quanto aquela menina trazem o estigma daquela mulher!
— Se o senhor tornar a encostar um dedo que seja em Grace ou em Hope ou em qualquer uma de minhas irmãs, nem sei do que sou capaz! Hope não escolheu ser canhota, Grace e eu não escolhemos a cor de nossos cabelos! E tudo isso não passa de desculpa para que o senhor nos surre a torto e a direito! Só que eu não vou mais admitir esse ódio e essa violência contra qualquer uma de nós, compreendeu?
— Sua sirigaita insolente! Sou seu tutor e exijo que você me respeite e me obedeça, do mesmo modo como fazem suas irmãs!
— Ah! Respeito não se conquista com sovas, vovô. O senhor vê a obediência de minhas irmãs como demonstração de respeito; saiba, porém, que tudo o que conseguiu despertar nelas foram o medo e o ódio. Quanto a mim... De mim o senhor não terá nem respeito, nem temor, nem obediência, nem nada!
A resposta veio na forma de uma sibilante chicotada que foi atingir Prudence bem no rosto. Num gesto instintivo, ela levou a mão à face. E quando viu que tinha sangue nos dedos, não conseguiu se controlar:
— Não pense que isso irá fazer com que eu me acovarde, vovô. Essas agressões vão ter fim, ah, se vão! Dentro de oito semanas, quando eu fizer vinte e um anos, terei a tutela de minhas irmãs e aí então tudo será bem diferente!
— É o que veremos, menina. Você poderá ter a guarda de suas irmãs, sim, mas ainda serei eu quem controlará o dinheiro até o dia do seu casamento. — Ele resfolegou, um ruído feio e pesado. — Você não receberá um só pêni a menos que se case, e eu me encarregarei de fazer com que tal casamento nunca venha a acontecer!
— Conto com recursos dos quais o senhor não faz a menor idéia, mas isso não vem ao caso agora. Assim que eu atingir a maioridade, todas nós iremos embora deste lugar para sempre!
Prudence sentiu uma pontinha de satisfação. Seu avô tinha lhe tirado boa parte das jóias que ela herdara da mãe anos atrás, logo que as irmãs chegaram a Dereham Court. Contudo, naquela ocasião a menina de onze anos que acabara de perder os pais, cedendo a um apelo do coração, recusara-se a entregar as peças prediletas da mãe ao homenzarrão que tão rudemente as exigia. E agora as jóias escondidas haveriam de salvar as cinco irmãs.
— Vadia! Andou vendendo seu corpo, foi? Isso não me surpreende! Mas não pense que vai escapar e envergonhar ainda mais esta família!
Tomado por novo acesso de cólera, o avô avançou contra ela. Antes que o pior acontecesse, Prudence correu a deixar o sótão e precipitou-se pela escada estreita o mais rápido que pôde. Entre insultos e pragas, Theodore foi atrás dela, os braços agitando-se no ar na tentativa de golpeá-la com o chicote e também com a mão. O açoite chegou a atingi-la mais algumas vezes e, ao chegar ao exíguo patamar, Prudence tropeçou nas saias e caiu de joelhos.
Lorde Dereham assistiu ao tombo da neta com uma risada triunfante. Mas, na pressa de alcançá-la, ele próprio acabou por desequilibrar-se, terminando por despencar pela escada numa avalanche de impropérios, o chicote a espocar de encontro aos degraus e ao gradil. Colando-se à parede, Prudence se esquivou como lhe foi possível do corpo que rolava pelos degraus de madeira numa pavorosa sucessão de baques secos.
A curvatura da escada pôs um fim à queda do velho homem. E o casarão então mergulhou num silêncio assustador.



— Sou eu, Hope. Pode abrir.
A porta entreabriu-se com um rangido, e Hope espiou pela fresta.
— Prudence! Seu rosto! Foi ele quem lhe fez isso?
— Não foi nada. — Ela tocou a face esquerda de leve. Com tudo o que havia acontecido, até já se esquecera do machucado. — Como está Grace?
Hope apontou a cama, onde Charity e Faith tentavam consolar a irmã caçula. Ainda aos soluços, abraçando as próprias pernas, Grace tinha o rosto escondido entre os joelhos e os braços marcados por vários vergões avermelhados.
Escorregando pela cama, Prudence passou o braço ao redor da menina.
— Graciela? — Era esse o apelido pelo qual a mãe delas a chamava.
Grace ergueu a cabeça. Seu rostinho pálido, banhado em lágrimas, ficou ainda mais tristonho quando ela viu o ferimento na face da irmã mais velha.
— Oh, Prue... Ele machucou você também. — A menina atirou-se aos braços de Prudence. — Desculpe-me.
Prudence obrigou-se a não odiar ainda mais o homem que fazia a pobrezinha sentir-se responsável por algo de que não tinha a mínima culpa.
— Não se preocupe com isso, querida. Acredite, não está doendo nada, nada. E no final das contas, quem levou a pior foi o vovô.
A observação fez com que as meninas se sentassem ao redor dela.
— O que quer dizer com isso? — indagou Faith.
— Ele tropeçou e rolou pela escada. — Prudence estremeceu. Ainda tinha vivido na mente o ruído de carne e ossos chocando-se contra os degraus e a parede. E depois aquele silêncio medonho...
Hope colocou em palavras o que ia pelo pensamento de suas irmãs:
— Ele morreu?
— Não. Se bem que, por alguns instantes, chegamos a pensar que estivesse morto. Ele ficou deitado ali, imóvel... Os criados que vieram acudir nem sabiam o que fazer. — Prudence respirou fundo. — Vocês sabem como ele é forte.
— Que pena... — Hope deixou escapar.
— Nosso avô foi levado para seus aposentos, e agora o dr. Gibson está lá com ele. Seja como for, prometo que ele nunca mais machucará nenhuma de nós.
O silêncio que tomou conta do dormitório expressava o que as meninas não ousavam dizer: não havia como Prudence cumprir aquela promessa.
— Prue, por que ele me odeia tanto? — perguntou Grace.
— Ah, querida, ele confunde a você e a mim com nossa mãe. Porque nós duas temos os cabelos avermelhados como os dela.
— Mas a mamãe não era má.
— Claro que não! Nossa mãe era um anjo. Mas acontece que, quando se apaixonou por ela, papai deixou Dereham Court para nunca mais voltar. Por causa disso, vovô jamais a perdoou.
— Conte-nos a história de mamãe e papai de novo, Prue — pediu a menina.
Os pais delas haviam morrido quando Grace era ainda um bebê; as gêmeas também eram pequenas; Charity tinha nove anos e Prudence, onze. Como mal se lembrassem da figura materna e paterna, as irmãs mais novas sentiam-se imensamente reconfortadas ao ouvir, vezes sem conta, as histórias que diziam respeito a seus pais.
— Mamãe era muito linda, e todas vocês se parecem com ela. À exceção dos cabelos loiros, Charity é igualzinha a ela. E as gêmeas e Grace também se parecem demais com mamãe. Vocês herdaram a beleza da família de nossa mãe, os formosos Ainsley. Eu tive o azar de puxar o nariz empinado e os olhos sem graça dos Merridew.
— Seu nariz não é feio — disse Faith.
— É um nariz muito bonito — Grace defendeu-a num tom ardoroso. — E seus olhos são lindos, cinzentos e muito suaves e...
— Ah, não era de mim que falávamos, e sim de mamãe. — Com um sorriso, Prudence as trouxe para junto de si. — De nossa linda mãe que, pobrezinha, veio de uma família de comerciantes. Mas bastou a papai pousar os olhos nela e, pronto, já estava apaixonado. E embora ela tivesse uma centena de admiradores, e papai não fosse nem o mais belo nem o mais rico de todos, mamãe também se apaixonou por ele à primeira vista.
As cinco suspiraram.
— Mas tanto os Ainsley como os Merridew foram contra o casamento, então mamãe e papai fugiram para a Itália e lá se casaram e tiveram a nós — lembrou Grace. — Continue, Prue. Fale dos cabelos de mamãe.
Prudence recostou-se nos travesseiros, então esperou que as irmãs se achegassem para dizer:
— Os cabelos dela brilhavam como se saídos da fornalha de uma oficina de ferreiro... Como os seus, Grace. Ah, papai amava tanto aqueles cabelos! Ele vivia brincando com as madeixas de mamãe e se encantava com o modo como se enrolavam ao redor de seus dedos. Um dia, Grace, você irá encontrar um homem que ame você, e seus cabelos, da mesma forma como papai amava nossa mãe.
— Do mesmo jeito como Phillip ama você? — perguntou a menina.
— Quem sabe? — Prudence sorriu, e pôs-se a afagar os cachinhos da irmã caçula. — Ela não era apenas bonita... Mamãe possuía a voz mais suave e melodiosa que já ouvi. Como a voz de Faith. Ela costumava cantar para nós por horas a fio. E quando ria, era como se um raio de sol...
— Eu me lembro da risada de nossa mãe — interrompeu Charity. — Era um riso tão feliz!... Dava-me vontade de rir com ela.
— Ah, é verdade! — continuou Prudence. — Mamãe e papai se adoravam. E os dois também nos amavam muito. Viviam para nos agradar, só pensavam na nossa felicidade.
As quatro jovenzinhas voltaram a suspirar. Aqueles eram tempos que em nada se pareciam ao ambiente frio e sem amor em que haviam crescido.
Percebendo o que ia pelo pensamento das irmãs, Prudence apressou-se em dizer:
— Nunca se esqueçam de que nós não pertencemos ao mundo sombrio em que vive nosso avô. Nascemos na Itália, numa casa repleta de sol, de alegria, de amor e de felicidade, e eu prometo a vocês que, custe o que custar, um dia voltaremos a viver como vivíamos naquela época. Com sol, risadas, amor e felicidade.
Lá fora, o vento insistente fustigava a aba do telhado do casarão como a zombar das palavras dela. Prudence o ignorou. Já tinha um plano para fazer de sua promessa uma realidade.
Após largar sua valise sobre a mesa, o dr. Gibson sentou-se.
— A queda de Lorde Dereham foi bem feia. O tornozelo dele sofreu várias fraturas.
— Ele vai se recuperar? — perguntou Prudence, servindo-lhe uma xícara de chá. Ainda que desprezasse o avô, não queria vê-lo irremediavelmente machucado.
— Os ferimentos que ele sofreu são graves, mas acredito que não lhe afetaram as faculdades. — O médico sorveu um longo gole da bebida tépida. — Seu avô irá se recuperar, sim, mas isso vai levar tempo.
— Quanto tempo? — Olhos fixos nos dele, Prudence lhe estendeu um pratinho com bolinhos de aveia.
Tomando um dos petiscos, o dr. Gibson mastigou-o ruidosamente antes de responder:
— O machucado na cabeça levará alguns dias, talvez uma semana para cicatrizar. Nesse tempo, lorde Dereham tem de ficar acamado num quarto escuro, no mais absoluto silêncio. — Após mais um gole de chá, o médico prosseguiu: — O tornozelo é que vai demorar a sarar, porque está fraturado em vários lugares. Seu avô terá de manter a perna completamente imobilizada por seis ou sete semanas, no mínimo.
Seis ou sete semanas! Já antevendo a solução para seu problema, Prudence mal foi capaz de dissimular a satisfação. Aquele período de tempo seria suficiente para colocar seu plano em ação. Um plano ousado, arriscado... mas que podia dar certo. Deixando sua xícara de lado, ela respirou fundo.
— Dr. Gibson, por acaso o senhor sabe como foi que se deu o acidente com meu avô?
— O criado que foi me chamar contou uma história meio desarrazoada, mas você sabe que os serviçais têm certa tendência a exagerar. — O médico serviu-se de mais um bolinho.
— Não, por certo ele não exagerou. O senhor ainda não ouviu comentários sobre os assomos de fúria de meu avô?
— Tenho mais que fazer do que dar ouvidos aos mexericos que correm por aí.
— Pois saiba que tais mexericos são a pura expressão da verdade. E nós não podemos continuar a viver assim.
— Eu sempre soube que lorde Dereham era um homem severo e que...
— Severo? O problema não é esse, posso lhe garantir. A pobre Hope passa a maior parte do tempo com a mão esquerda amarrada às costas para que não possa usá-la, já que meu avô acredita ser essa a mão do demônio. Faith morre de medo de, distraída, pôr-se a assobiar baixinho, pois isso pode lhe custar uma boa sova. E o senhor precisava ver o modo como ele trata minha irmã caçula, Grace, agora que enfiou na cabeça que os cabelos dela são um estigma do mal.
O médico olhou para os cabelos dela.
— Sim, o mesmo acontece comigo, dr. Gibson. Desde que eu tinha onze anos, meu avô me espanca no propósito de afugentar o diabo do meu corpo. — Sem perceber que o fazia, Prudence ergueu o tom de voz. — Mas eu não vou mais permitir uma coisa dessas, o senhor compreende? Não posso deixar que ele trate minha irmã da forma como tem me tratado!
— Olhe, Prudence, é muito difícil encontrar alguém que não cisme de corrigir pessoas canhotas como Hope. Agora, Faith e Grace são meninas tão quietinhas, tão boazinhas...
— Grace fez isto para mim. — Ela lhe estendeu a carteira de papelão.
Com a testa franzida, o médico examinou a peça por alguns instantes, depois afirmou:
— Esses objetos com motivos egípcios estavam em voga em Londres uns anos atrás. Lembro-me bem, pois minha esposa foi uma das que acompanhou esse modismo.
— Sua esposa é uma pagã imunda? Uma bruxa herege? É dada a idolatrar o mal?
— Mas o que...
— Pois foram essas as acusações que vovô fez a Grace por conta dessa carteira, enquanto a surrava impiedosamente com seu chicote de montaria até que eu aparecesse para impedi-lo. Foi assim que se deu o acidente com ele, dr. Gibson. Vovô corria pela escada atrás de mim, com o chicote na mão, quando tropeçou e rolou pelos degraus.
Bastante impressionado, o médico colocou a carteira sobre a mesa.
— Meu avô bate em nós por qualquer motivo, doutor. Por isso, quero que o senhor nos ajude a ir embora daqui.
— Prudence, você sabe que não posso fazer isso. Lorde Dereham não é um homem fácil, quem há de negar?, mas eu sou o médico dele, menina! Como irei olhá-lo nos olhos e mentir para ele?
— Dr. Gibson, esta não é a primeira vez que apanhamos por um pretexto tolo. Nunca nos foi permitido chamar o senhor para que viesse cuidar de nossos ferimentos, mas, agora que está aqui, eu gostaria de lhe pedir que fosse dar uma olhadinha em Grace. Veja por si mesmo o que aquele monstro fez à menina.
Com um suspiro profundo, o médico deixou a xícara sobre a mesa e pôs-se em pé.
— Vou ver como está a menina, sim, só que não posso lhe prometer nada.
O dr. Gibson examinou Grace em austero silêncio e, mentalmente, tomou nota também das marcas no rosto de Faith e de Prudence. Quinze minutos depois, bastante abalado, deixou-se cair outra vez sobre a poltrona onde antes estivera sentado.
— Lamento muito, minha menina. Do fundo do coração. Eu não podia imaginar uma coisa dessas.
Decidida a esquecer o passado e concentrar todas as atenções no futuro, Prudence declarou:
— O testamento de meu pai diz que quando eu fizer vinte e um anos, o que ocorrerá daqui a oito semanas, serei a tutora de minhas irmãs. No entanto, só teremos acesso ao dinheiro que herdamos quando nos casarmos. No momento, tudo o que temos dá para nos manter por uns poucos meses; depois disso, se meu avô não nos der a herança de nossos pais, acabaremos passando necessidades. — Ela buscou olhar no fundo dos olhos do médico. — Acontece, dr. Gibson, que vovô não só não nos dará o dinheiro de modo algum, como também nunca irá permitir que nenhuma de nós se case. Foi ele mesmo quem me disse tudo isso. Com todas as letras.
— Que situação...
— Precisamos fugir daqui, o senhor entende? Esse período de tempo no qual ele tem de ficar acamado nos veio como uma bênção dos Céus. Mas para que vovô não venha a descobrir que fomos embora no momento seguinte ao da nossa partida, é preciso que o senhor nos ajude.
— Muito bem, menina. O que você quer que eu faça?



Prudence tentou avaliar as palavras que acabara de escrever com um olhar crítico. A caligrafia meio espremida, difícil de entender, pareceu-lhe bastante boa. Todos os "tês" estavam cortados por um traço bem forte e os pingos nos "is" eram firmes. Vovô fazia questão de pingos precisos e bem nítidos sobre os "is".
— O médico já se foi? O que ele disse? — indagaram suas irmãs ao entrar na sala.
— Para quem você está escrevendo? — quis saber Grace, que foi espiar por sobre o ombro dela. — Para Phillip, de novo?
— Ora, e quem quer saber de Phillip? — reclamou Faith. — O que foi que o dr. Gibson disse a respeito do vovô, Prue?
— Esta carta não é para Phillip — esclareceu Prudence, secando o excesso de tinta com o Mata-borrão. — E para nosso tio-avô Oswald.
— Tio Oswald? — Hope admirou-se. — Isso quer dizer que vovô vai morrer?
— Não, ele estará restabelecido dentro de seis ou sete semanas.
— Então por que você escreveu uma carta para tio Oswald?— perguntou Charity. — Ele não virá velar pela recuperação do vovô, já que os dois não se dão.
— É com isso que estou contando: que tio Oswald nem sonhe em vir para cá — observou Prudence. — Quanto à carta... Eu a escrevi fazendo-me passar pelo vovô.
— O quê?! — ecoou um coro de vozes. Ela então leu o que colocara no papel:
Meu prezado Oswald,
Sei que raras vezes concordamos um com o outro, como dois irmãos deveriam fazer, no entanto, pelo bem das meninas, resolvi relegar ao passado o que pertence ao passado.
Prudence ergueu a carta entre dois dedos e pôs-se a abaná-la com a outra mão, fazendo a tinta secar, explicando:
— Em resumo: Vovô escreveu para pedir ao irmão que nos dê guarida em Londres e nos ajude a encontrar maridos. — Ela tornou a colocar a carta sobre a escrivaninha. — Nós vamos fugir. E nunca mais retornaremos a Dereham Court!
— Prudence! — exclamou Charity. — Essa carta é... é um embuste!
— Sim, mas que outra escolha nos resta? Estou determinada a nunca mais permitir que vovô torne a encostar um dedo que seja numa de nós.
— Isso é errado, Prue — observou Faith num sussurro.
— Vovô sempre diz que sou má, não diz? Pois então, pela primeira vez na vida darei a ele um motivo concreto para fazer tal afirmação. Bem, o fato é que iremos para Londres e levaremos Lily e James conosco; Lily porque tio Oswald é viúvo e talvez não tenha criadas em casa, e James porque vovô nunca irá perdoá-lo pela ajuda que nos deu hoje.
Estarrecidas ante a ousadia do plano, as irmãs se entreolharam enquanto Prudence escrevia o endereço de tio Oswald num envelope.
— Vovô nunca que irá nos permitir deixar esta casa — disse Hope.
— Ele não ficará sabendo. Irá pensar que nos mudamos para a edícula.
— Aquele lugar velho e bolorento! Por que...
— Porque quando as dores de cabeça dele tiverem melhorado, Grace, nós estaremos com escarlatina, isoladas, em quarentena. O dr. Gibson irá nos ajudar com essa pequena farsa. Além do mais, vocês sabem que vovô tem horror a doenças contagiosas e por isso nem pensará em chegar perto de nós. A sra. Burton disse que, por ser a governanta da casa, tem como fazer com que os demais criados cooperem conosco. Ela e o dr. Gibson se encarregarão de dar ao vovô as notícias, ainda que falsas, de nosso estado de saúde.
As quatro irmãs mais novas estavam boquiabertas. Prudence prosseguiu:
— Enquanto isso, ficaremos hospedadas com nosso tio-avô, conheceremos todos os pontos turísticos da capital, iremos a festas, usaremos vestidos bonitos... Ah, vamos a todos os lugares que valham a pena, até mesmo à ópera! E, se tivermos sorte, quando vovô tiver se restabelecido uma de nós já terá encontrado um marido e eu estarei com vinte e um anos, o que significa que todas terão o direito legal de morar comigo.
Enquanto as outras exultavam ante as inúmeras perspectivas que as aguardavam, Hope, sempre a mais prática das irmãs Merridew, observou:
— Como faremos tudo isso se não temos dinheiro, Prue? O que temos conosco não dá nem para que uma só de nós viaje até Londres.
— Você se esqueceu das jóias da mamãe? — retrucou Prudence. — Só o bracelete de granadas já dá para pagar as passagens numa carruagem. Eu... Bem, vendi o bracelete no mês passado, para o caso de uma oportunidade como esta.
— Então temos como ir para Londres! — Charity arfou.
— Temos, sim. — Prudence sorriu.
— Oh, tudo isso é maravilhoso! — exclamou Hope. — Quem sabe você também não encontra um marido bem bonito por lá, Prue?
— Hope! Por acaso esqueceu de Phillip? — Charity a censurou.
— Ah, é, Phillip... — Hope tentou corrigir-se. — Quanto tempo faz que ele não lhe escreve, Prue?
— Seis meses, mas vocês sabem que o serviço postal da índia é extremamente lento e pouco confiável. Só a viagem de cá para lá e de lá para cá já leva meses, e se o navio que trazia a carta de Phillip por acaso foi a pique, então... — Prudence esforçou-se para dar dignidade à voz. — Mas quando ele retornar, nós dois nos casaremos e todas estaremos livres de qualquer perigo. Bem... Ah, ia me esquecendo! Ouçam isto.
Ela leu mais um trecho da carta:
Caro irmão, como sabemos que a música e a dança são abomináveis obras do demônio, não é demais pedir-lhe que cuide para que as meninas não sejam expostas a tais males enquanto estiverem na cidade. Eduquei-as segundo os padrões da mais absoluta correção de comportamento, mas como são mulheres, e conseqüentemente tolas, frívolas e facilmente influenciáveis, o melhor que você tem afazer é mantê-las sob estrita vigilância. Além de guardá-las das tentações, providencie também para que encontrem maridos ajuizados e respeitáveis, com sólidos princípios morais e boa situação financeira.
Instaurou-se uma balbúrdia de protestos e reclamações de todos os tipos, o que fez Prudence correr a se explicar:
— Meninas, meninas, temos que levar várias coisas em consideração. — Ela se pôs a contar nos dedos. — Primeiro: como mora há muitos anos era Londres, tio Oswald deve gostar muito de lá e nem um pouco daqui. Segundo: de acordo com o que a mãe de Phillip nos disse, tio Oswald vai sempre à ópera, aprecia modismos e freqüenta uma infinidade de festas. Terceiro: sabemos também que ele tem sérias desavenças com o vovô, que sempre se refere ao irmão mais novo como cão descrente, poço de vaidades e outros insultos ainda piores.
— Nossa cozinheira diz que se lembra do jovem senhor Oswald como uma pessoa alegre e com um coração imenso — observou Charity.
— Exatamente — disse Prudence, num tom triunfante. — Se tio Oswald for como o imagino, então ficará tão ofendido e exasperado com as instruções do vovô que certamente nos levará ao maior número de eventos sociais possíveis só para contrariá-lo!
Em meio ao novo burburinho que se instalou pelo ambiente, Grace deu voz a uma dúvida:
— E se alguma coisa der errado, Prue?
— Bobagem! — Prudence abraçou-a com força. — Garanto a você que pensei em tudo, querida.




— Você falou que iríamos a inúmeras festas quando viéssemos para Londres, Prue! — queixou-se Hope. — A bailes e saraus e desjejuns venezianos!
— E à ópera! — acrescentou Faith.
— Você disse também que eu iria valsar com um rapaz bem bonito — Hope insistiu.
— Ao menos temos tido aulas de dança... — interveio Charity.
— Ora, e quem quer saber de aula de dança? — desdenhou Hope. — Daqui a pouco você vai dizer que monsieur Lefarge é um rapaz bem bonito!
As irmãs trocaram risadinhas à menção do meticuloso e efeminado francês de meia-idade a quem tio Oswald encarregara de ensinar os primeiros passos de dança às suas sobrinhas-netas. Logo a seguir, porém, um silêncio pesado tomou conta da ala nos fundos do sobrado, destinada ao uso das jovens damas pelo período em que permanecessem em Londres. Prudence afundou-se na poltrona. Nem tudo era como ela havia previsto.
De sua parte, tio Oswald fizera jus às melhores expectativas com que uma sobrinha-neta pudesse sonhar. Atencioso, gentil, prestativo, não demonstrara a mínima relutância em acolher as cinco jovens que bateram à sua porta sem maiores avisos. Pelo contrário: o nobre viúvo as recebera em sua espaçosa e elegante residência em Londres com uma satisfação que qualquer um poderia garantir como genuína. E não só isso: horrorizado com os escuros e tristes vestidos feitos em casa que as cinco trajavam, declarou que cuidaria de providenciar um guarda-roupa novinho em folha para cada uma delas.
— Embora seja um prazer imenso hospedá-las comigo e levá-las para passear, não posso e não vou permitir que minhas sobrinhas-netas, lindas como vocês são, saiam por aí nesses trajes pavorosos. Amanhã mesmo iremos visitar costureiras, modistas, chapeleiros, luveiros, armarinhos e tudo o mais.
Ignorando a expressão da mais pura surpresa no rosto das cinco, ele então examinara uma a uma como se experiente conhecedor do universo feminino.
— Ah, como são belas!... Essa pele tão clara e aveludada que todas vocês têm, esse frescor da juventude, esse porte altivo e elegante... Charity, minha querida, você é linda como um diamante! Esses cabelos loiros, esses olhos... E as gêmeas, divinas as duas! Com o tempo aprenderei a distinguir uma da outra, mas no fundo isso nem importa, já que ambas são de uma beleza ímpar! E a pequena Grace, ainda uma menina e já um botão da mais formosa das flores prestes a desabrochar...
―Ah, será um prazer vê-las vestidas com a elegância que a beleza de vocês exige!
Esfregando as mãos, ele as rodeara com um sorriso satisfeito.
— Encontrar maridos para vocês será a tarefa mais fácil do mundo, meninas. Ah creio que esta seja a primeira vez em que quatro jovens tão formosas vieram para Londres ao mesmo tempo!... E pensar que todas são parte da mesma família... a minha família, vejam só!
O olhar do velho senhor fora enfim pousar sobre Prudence. E o sorriso que ele trazia nos lábios definhara de mansinho. Ela tivera vontade de evaporar no ar...
Seus cabelos podiam ser da mesma cor dos de Grace, mas não havia como mantê-los ajeitados quando o tempo estava úmido. Tampouco se comparavam às madeixas loiras, douradas e reluzentes como o sol, de suas outras irmãs. Sua pele era tão clara e acetinada quanto a pele delas, no entanto umas duas dúzias de pequeninas sardas insistiam em lhe macular a quase translúcida suavidade. Além do quê, por que ela tinha de ter os olhos cinzentos, enquanto todos os demais integrantes de sua família possuíam olhos das mais diversas tonalidades de glorioso azul? E aquele nariz empinado...
Mas ainda que se sentisse um patinho feio no meio de quatro esplendorosos cisnes, Prudence dissera a si mesma que havia coisas bem mais importantes do que a própria aparência com que se preocupar.
— O senhor acha mesmo que, ao final da estação, uma de minhas irmãs pode estar casada e feliz, tio Oswald? Oh, seria maravilhoso! Afinal, é exatamente isso o que todas nós queremos. — Eufórica por conta de tão boa expectativa, Prudence o abraçara com força para depois lhe beijar a face corada. — Ah, obrigada! Muito obrigada! O senhor é tão bom, tão generoso... Nem sei como poderemos agradecer-lhe.
— Ora, ora... Não há o que agradecer, uma vez que a presença de vocês em minha casa só traz alegrias a este velho solitário aqui. Afinal de contas, para que servem os tios-avôs, não é mesmo?
Após o susto de ver que o nobre senhor não só não rechaçara a efusiva manifestação de afeto de Prudence, como também parecia ter apreciado um comportamento que outros poderiam considerar atrevido, as demais irmãs se aproximaram do tio-avô para agradecer-lhe com mais abraços e beijos tímidos no rosto e na calva da cabeça.
No quarto dia após a chegada das irmãs Merridew a Londres, tio Oswald escolhera o café da manhã para fazer um comunicado que, aos ouvidos de Prudence, tinha soado como um disparo de canhão contra suas mais doces esperanças. Tomando da carta que seu irmão supostamente lhe escrevera, ele lera um trecho dela em voz alta para as jovens reunidas ao redor da mesa:
Tenho outros planos para Prudence, a mais velha das irmãs, por isso não é preciso que você se preocupe com que ela seja apresentada à sociedade. Prudence pode se ocupar em acompanhar as irmãs e tomar conta delas, além de cuidar dos assuntos que lhes dizem respeito. Desse modo, a tagarelice desenfreada das meninas não irá importuná-lo mais do que o estritamente necessário.
Bufando, o velho nobre olhara diretamente para ela.
— Sabe o que seu avô pretende com isso, não sabe? Nunca passou de um grande egoísta, aquele meu irmão. É bem típico de Theodore almejar por que você não case, já que assim o interesseiro teria quem cuidasse dele até o fim da vida. — Tornando a bufar, tio Oswald deixara a carta de lado. — Tenho visto o carinho com que você trata suas irmãs, mocinha, e... sim, Prudence Merridew, você é uma jovem muito boa e muito doce que... Como direi? Ora, a verdade é que você também merece ter sua chance! Talvez não seja estupendamente bonita como suas irmãs, mas é evidente que conseguiremos encontrar um bom partido para você também. O mundo está cheio de rapazes sensatos que buscam mais do que a beleza perfeita numa mulher. Nós vamos arrumar um marido para você, sim, fique tranqüila. Não permitirei que desperdice sua vida correndo atrás de suas irmãs, muito menos tomando conta de um velho ranzinza e egocêntrico!
— Oh, mas ela já tem um... — começara a dizer Charity, que depois se calara ante o olhar reprovador da irmã mais velha.
— Não precisa se preocupar com isso, tio Oswald — Prudence apressara-se em dizer. — Estou muito feliz com a vida que levo. Gosto imensamente de cuidar de minhas irmãs e estou ansiosa por acompanhá-las em seus passeios. Aposto que será muito divertido.
— Não, não, nada disso. Eu até já tenho a solução para este impasse: irei apresentá-la à sociedade sozinha e antes de suas irmãs, assim a beleza delas não terá como ofuscar a grandeza de seu coração. Depois, quando você estiver devidamente encaminhada, será a vez de revelarmos estes belos diamantes ao mundo. — Satisfeito da vida com o arranjo, ele avançara contra a casca de um ovo cozido.
Atônita, Prudence ficara olhando para as irmãs. E antes que tivesse tempo para pensar em algum argumento para fazer o tio-avô mudar de idéia, um criado viera avisar que a carruagem que iria levá-las às compras estava à espera.
Agora, quando já fazia uma semana desde que elas haviam chegado a Londres, tio Oswald continuava no firme propósito de colocar seu plano em prática: não permitir que Charity, Hope ou Faith fossem apresentadas à sociedade sem que Prudence estivesse a caminho do altar com um excelente partido. E nada do que ela dizia ou fazia parecia capaz de demovê-lo de tais idéias.
— Sinto pelo que vou dizer — Prudence desculpou-se num tom desesperançado, na noite em que elas conversavam na sala de estar nos fundos da requintada residência —, mas por mais bondoso e bem-intencionado que seja, de certo modo nosso tio-avô é tão teimoso e impermeável ao bom senso quanto vovô Theodore!
— Você precisa contar a ele sobre seu noivado com Phillip — observou Hope. — É a única forma de resolver esta questão. Se ele souber que você já está noiva, não terá por que nos manter neste regime de reclusão.
— Só que eu não posso contar nada a ninguém — explicou Prudence, desanimada. — Prometi a Phillip que nunca iria anunciar nosso noivado sem a permissão dele, e vocês sabem muito bem que jamais quebrei uma promessa.
— Então por que não deixa que nós expliquemos a situação a tio Oswald? — sugeriu Faith.
— E melhor não arriscar. — Prudence mordeu o lábio. — Ainda que ele desafie o vovô quanto a questões como aulas de dança e roupas novas... Casamento é um assunto muito sério, meninas. Além do mais, nosso tio-avô por certo irá decidir que Phillip, o filho mais novo de uma família sem distinção nem fortuna, não é um noivo adequado para mim. E quem me garante que ele não irá contar tudo ao vovô? Aí, sim, nossos planos virariam bolhas de sabão. Até o próprio tio Oswald pode acabar prejudicado nessa história toda, já que o vovô poderá deixá-lo sem um pêni por conta de ele ter nos dado refúgio em sua casa. Afinal, nosso avô vive reclamando das extravagâncias do irmão mais novo.
— Já imaginou se ele manda a conta das nossas extravagâncias para vovô Theodore? — Charity olhou ao redor, como a assinalar os lindos vestidos novos que todas usavam. — Seja como for, Prue, tio Oswald parece ser muito romântico; não acha que ele ficaria feliz da vida com o fato de você ter encontrado alguém com quem se casar?
— Talvez. Mas,além de romântico, ele também parece ser ambicioso. E dá muita importância a títulos de nobreza, como vocês já puderam perceber. — Prudence torceu o nariz. — Pobre Phillip, tão trabalhador, tão esforçado... Todos estes anos lá na índia, tentando construir um patrimônio para nós dois... Vocês sabem que, se quiser, o vovô pode usar de suas influências para destruir o futuro profissional de Phillip quando ele regressar. Afinal, quem não daria ouvidos às maledicências de um dos donos da Companhia de Comércio do Oriente?
— Sim, só que tio Oswald não é perverso e mesquinho como o vovô. Por certo ele iria... — começou Hope.
— Não, Hope. — Prudence meneou a cabeça. — Sinto muito, mas há muito em risco nesta história. Tio Oswald é um homem doce e adorável, mas não podemos esperar que coloque nosso bem-estar acima do dele próprio. Você bem sabe como já foi difícil trazer o dr. Gibson para o nosso lado, que só decidiu-se por nos ajudar depois de ver as marcas que trazíamos no rosto e no corpo. De qualquer modo, fiquem tranqüilas, todas vocês. Vou tratar de encontrar uma solução para o nosso dilema. O mais depressa possível.
— Não! Eu já expliquei a situação para vocês uma dezena de vezes, por isso vamos encerrar este assunto definitivamente! — Isso dito, tio Oswald ficou a encarar as duas jovens idênticas que o miravam com uma expressão suplicante.
— Mas acontece que temos permissão para ficar em Londres só até o final da estação — argumentou Hope. — Vovô nos deu apenas umas poucas semanas para que encontrássemos bons maridos, e o senhor sabe que ele não permitirá que continuemos aqui pelo resto da vida. Além do mais, Prudence está praticamente...
— Praticamente com vinte e um anos de idade — Faith correu a consertar o descuido da irmã gêmea.
— Se nós tivermos de continuar esperando, quem nos garante que não acabaremos ficando para tias? — insistiu Hope, mesmo ciente de que tinha os olhos de Prudence sobre si.
— Tolice! — Tio Oswald devolveu o olhar ao jornal que tinha entre as mãos. — Jovens lindas como vocês duas arrebatam todas as atenções na primeira aparição que fazem na sociedade. Deixem de ser egoístas, dêem uma oportunidade à sua irmã mais velha.
— Mas se formos todas juntas...
— Não. Não até que sua irmã tenha encontrado um marido. Nossa Prudence é um doce de pessoa, e um dia surgirá um homem que se encante com ela e a queira só para si... desde que vocês não estejam por perto para deslumbrar o pobre-coitado com toda a beleza que possuem.
Após um momento de silêncio, tempo suficiente para que todas elas contemplassem um futuro um tanto desolador, Hope voltou à carga:
— Prudence tem de casar-se para que Charity possa debutar na sociedade?
Tio Oswald deitou o jornal sobre as pernas num gesto irritado.
— Mocinha, eu já falei...
— Não, o que eu quis dizer foi que... Não bastaria que ela estivesse noiva? — explicou Hope. — Se Prudence estivesse noiva, então Charity, Faith e eu poderíamos nos iniciar na vida social?
— Se Prudence estivesse noiva, não vejo motivos para que isso não acontecesse; mas como Prudence não está noiva, só volte a me atormentar com essa conversa quando ela estiver.
— Viu só? — Hope dirigiu um olhar triunfante à irmã mais velha. — Nós poderíamos fazer nossas estréias na sociedade, sim! Oh, Prue, conte para ele...
Se olhares pudessem matar, Hope jazeria esturricada na poltrona em que se achava. Prudence, porém, manteve-se calada. E como haveria de ser diferente, se a reputação e as chances de futuro sucesso de seu noivo dependiam do seu silêncio? Além disso, ela havia prometido ocultar o noivado de qualquer outra pessoa que não fossem suas irmãs.
Franzindo a testa como que desconfiado, tio Oswald indagou:
— Há algo que você deveria me contar, mocinha?
— Não, titio. Nada — respondeu Prudence, ajeitando a saia de seda vermelha com a mão subitamente trêmula.
— Se você não contar, conto eu — disse Hope com veemência. — Não é justo que sejamos prejudicadas só porque Phill...
— Quieta, Hope! — Prudence pôs-se em pé. — Você não tem o direito de...
— Silêncio! — repreendeu-as tio Oswald, contrariado. — Quer dizer então que existem tramóias e mentiras debaixo de meu teto, é isso? Vocês duas... — Ele apontou o dedo para Faith e Grace. — Podem sair. Agora.
Ambas deixaram a sala como dois pés de vento.
— E então, meninas? — Tio Oswald olhou para Prudence, depois para Hope, depois para Charity. Como as três nada dissessem, foi Hope quem ele interpelou: — Muito bem, senhorita, pode me dizer o que é que sua irmã está escondendo?
A jovenzinha caiu no choro. E não demorou a que Charity fizesse o mesmo.
— Que Deus me ajude! Por que será que as mulheres vivem se debulhando em lágrimas? — resmungou o velho nobre. — Vamos, parem com essa choradeira, meninas... — Acalmados os soluços, ele se dirigiu a Prudence: — Bem, mocinha, creio que cabe a você se explicar. Quem é esse salafrário que a obriga a enganar seu tutor?
Ela deu-se conta de que não haveria escapatória.
— Ele... Trata-se de um cavalheiro bastante honrado, titio.
— Cavalheiros honrados não se metem em noivados dos quais ninguém pode saber, menina.
— Oh, mas é que... Ele é um cavalheiro muito tímido e reservado que não aprecia o espalhafato e o aborrecimento das celebrações públicas.
— Há uma grande diferença entre um compromisso particular e um arranjo clandestino. Agora deixe de fazer rodeios e diga o nome desse pilantra de uma vez por todas, mocinha!
— O nome? — Ela não podia trair Phillip. Não podia! — É...é...
— Ande, Prudence! Estou esperando!
— Bem, ele é... — Como por milagre, Prudence lembrou-se de ter ouvido por acaso, na casa da modista francesa, duas damas falando de um homem que vivia como verdadeiro recluso, um solteirão que nunca aparecia em Londres. — É o duque de Dinstable!
A novidade fez descer sobre o recinto um silêncio que era reflexo da mais completa estupefação. Hope e Charity ficaram olhando para a irmã mais velha com uma expressão aparvalhada enquanto tio Oswald, profundamente admirado, coçava de leve a calva.
Ao cabo de alguns instantes, o elegante nobre repetiu:
— O duque de Dinstable? Você está noiva do duque de Dinstable!
— Sim. — Prudence tratou de sorrir ao mesmo tempo em que tentava, desesperadamente, recordar-se de tudo o que ouvira a respeito daquele homem.
— Aquele sujeito a quem chamam o Ermitão? Ela balançou a cabeça num gesto afirmativo.
— Dinstable? — Tio Oswald continuava perplexo. — Dizem que ele odeia as grandes cidades... Faz anos que aquele homem não é visto em Londres... Ele não vive num lugar onde judas-perdeu-as-botas lá na Escócia?
Satisfeita da vida com a forma como lidara com o problema, Prudence tornou a assentir. O duque de Dinstable, que lembrança mais inspirada! O sujeito podia ter lá suas esquisitices, mas era evidente que todos sabiam tratar-se de um nobre extremamente rico.
E como ele nunca viesse a Londres, tio Oswald não teria como inquiri-lo sobre um tal noivado sigiloso. Bem, a investigação poderia ser feita por meio de correspondência, mas cartas demoravam tanto em chegar a seu destino... E quem garantiria que um duque inclinado ao isolamento se daria ao trabalho de responder a uma carta sem pé nem cabeça, na qual o acusavam de um compromisso secreto com alguém que ele nem sequer conhecia?
Tio Oswald, contudo, não parecia muito convencido:
— E como você foi conhecer esse sujeito, o tal Dinstable, se ele nunca vem à capital? — O velho nobre suspirou. — Ora, imagine só: alguém que não gosta de Londres!
— Ainda que não tenha por costume vir a Londres, nada o impede de ir a Norfolk, titio.
— Que idade você tinha quando concordou com esse compromisso absolutamente contrário às normas sociais?
— Quase dezessete.
— O quê?! Então faz quatro anos que está esperando que esse miserável desse duque aclare essa bendita história e se case com você?
Prudence franziu as sobrancelhas. Quatro anos seria tanto tempo assim? Bem, o fato era que prometera a Phillip esperar por ele, então esperaria o quanto fosse preciso.
— Não é de se admirar que suas irmãs estejam irritadas com tamanha demora. Quatro anos!... Isso não é atitude que alguém tome para com uma de minhas sobrinhas-netas. E por que você não me contou tudo isso antes, menina?
Envergonhada pela mentira que se vira obrigada a pregar num homem tão bom e prestativo, Prudence não conseguia olhá-lo nos olhos, quanto mais responder. Mas quando tudo estivesse resolvido e suas irmãs se achassem a salvo da violenta ira do avô, então ela iria desculpar-se e esclarecer toda aquela história.
— Dinstable, é? — Tio Oswald foi até a lareira. — Ainda que bizarros e eremitas, duques são saem por aí pedindo a mão de mocinhas de dezesseis anos... Você não lhe permitiu fazer alguma coisa que ele não deveria fazer, permitiu, Prudence?
— Ele nunca me tocou — ela se apressou em declarar.
— Hum. Mas por que tanto segredo do compromisso? Afinal, ele não é o filho mais novo de algum capiau sem posses nem títulos, correto?
A descrição perfeita e acabada que seu tio-avô fizera de Phillip provocou um assomo de rubor às faces de Prudence, mesmo assim ela tentou explicar:
— Vovô não permitia que recebêssemos visitas, quanto mais pretendentes.
— Ah, meu irmão Theodore e sua visão tacanha do mundo! Mas pelo menos você e esse duque se correspondiam, não?
— Vovô nunca permitiu que trocássemos cartas com ninguém.
— O que é uma pena, já que as cartas seriam uma boa maneira de comprovar o compromisso. Mas não venha me dizer também que esse duque nunca lhe deu uma prova simbólica de amor?
Após um instante de hesitação, ela tirou de dentro do decote o anel da avó de Phillip que usava, havia quatro anos, preso a uma corrente.
— Hum! — Tio Oswald correu a examinar a jóia. — Uma bobagem e sem o timbre ducal que poderia identificá-lo, mas pelo menos é bastante antiga; coisa de família, sem dúvida. Bem, se ele lhe deu um anel, nem tudo é tão desanimador quanto eu pensava. De qualquer modo, minha pequena, não se preocupe mais com esse assunto, vou tratar de colocar os pingos nos "is" e formalizar esse seu compromisso. Ah, aquele homem tem uma boa fortuna, pelo que ouvi dizer!
Meio atordoada, Prudence fez que sim. Agora lhe restava torcer para que chovesse sem parar sobre as estradas para a Escócia a fim de que a correspondência para lá se atrasasse por semanas. Ou fosse tragada pelo aguaceiro.
Recuperando-se do sentimento de culpa com incrível rapidez, Hope indagou:
— Então agora Charity, Faith e eu podemos fazer nossa estréia na sociedade?
— Como? Bem... Se sua irmã está noiva... ainda que seja do modo mais estapafúrdio de que já ouvi falar, não vejo motivos para que as fabulosas srtas. Merridew não possam começar a deslumbrar a sociedade inglesa. — Quando Hope deu um gritinho de satisfação, tio Oswald acrescentou: — A começar por Charity, depois será a vez das gêmeas. E você, Prudence, pode começar os preparativos para seu casamento ainda hoje. Amanhã cedo irei falar com aquele sujeito.
— C-como assim, titio? — Como que antecipando um desastre, Prudence sentiu o estômago se retorcer. — Com quem... o senhor vai falar amanhã de manhã?
— Com Dinstable, quem mais? Irei tratar das providências para o casamento... que se realizará na igreja de St. George, na praça Hannover. Com toda a pompa e cerimônia de que vocês, damas, gostam tanto. Aquele um pode ter lhe dado um noivado de péssimo gosto, minha pequena, mas nós iremos consertar o serviço malfeito.
Após trocar olhares com as irmãs, Prudence argumentou:
— Mas o duque de Dinstable mora no extremo norte da Escócia, titio. O senhor não tem como ir ao encontro dele logo pela manhã.
— Oh, vai ver acabo de estragar a surpresa romântica que o duque havia preparado para você! — Foi a vez de tio Oswald mostrar-se atarantado. — E pensar que todos os jornais puseram-se a fazer ilações de... Bem, não faz mal. Mas ainda que ele não tenha planejado uma surpresa romântica, eu mesmo me encarregarei de fazer uma surpresinha ao pilantra. Ele que não pense que pode fugir de sir Oswald Merridew! — O velho nobre esfregou as mãos. — As damas casamenteiras ficarão verdes quando souberem... Minha querida Prudence, uma duquesa!
Enquanto as irmãs se entreolhavam, tio Oswald deixava a sala rindo sozinho de tanta satisfação.
— Por que foi dizer tudo aquilo, Prue? — indagou Charity, ao se restabelecer do susto.
— Não sei... — Desolada, Prudence deixou-se cair sobre uma poltrona. — No desespero, agarrei-me à primeira idéia que me ocorreu. As damas que estavam na modista disseram que o duque de Dinstable nunca vem a Londres, e foi por essa razão que mencionei o nome dele... Elas disseram que faz anos que o tal nobre não aparece por aqui!
— Você se arriscou demais — observou Hope.
— Não ouse dizer uma só palavra, sua serpente traiçoeira! — ralhou Prudence. — Se não fosse por você...
— Perdoe-me, Prue, por favor. É que eu estava desesperada!
— Meninas, vocês estão se esquecendo de um ponto fundamental — interveio Charity. — Como tio Oswald pode ir falar com o duque amanhã cedo, se esse homem mora no norte da Escócia?
Relembradas da calamidade que pairava sobre suas cabeças, Prudence e Hope esqueceram-se de suas diferenças.
— Ao falar da surpresa romântica, tio Oswald olhou para o jornal — observou Prudence. — Será que...?
As três correram a pegar o periódico, dividiram-no entre si e puseram-se a vasculhar as notícias.
— Aqui está! — anunciou Charity, ao cabo de alguns instantes. Baixando a voz a um sussurro, ela leu:
Nossa metrópole é agraciada pela rara visita do duque de Dinstable, que enfim deixa seu isolamento no Norte para passar algum tempo na cidade. Rumores dão conta de que o duque esteja considerando a hipótese de casar-se.
— O duque está em Londres? — Prudence tinha perdido a cor. — Como é possível? Fazia anos que ele não vinha para cá! Mas... Deus, o que o duque vai pensar quando tio Oswald for visitá-lo no firme propósito de forçá-lo a casar-se comigo?!
Um silêncio tenebroso tomou conta da sala.
— O que vamos fazer, Prue?
Após avaliar o problema sob os mais diversos ângulos, ela enfim declarou:
— Por mais que eu pense, só consigo enxergar uma solução. Eu mesma irei falar com o duque de Dinstable.
Quando reencontraram a voz, suas irmãs indagaram:
— Mas como fará para encontrar-se com ele?
— E como pretende fazê-lo, se tio Oswald irá à casa do duque amanhã cedo?
Prudence deu um sorriso maroto.
— Então terei de estar lá um pouco mais cedo do que nosso tio-avô, não é verdade?
— Visitar um homem na casa dele? — Charity estava horrorizada. — Sem avisar e sem que tenham sido apresentados adequadamente? Prudence, você não pode fazer uma coisa dessas!
— Não? — Prudence endireitou os ombros. — Pois então me aguarde!

2 comentários:

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  2. esse blog é muito bonitinho

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