terça-feira, 13 de julho de 2010

O morro dos ventos Uivantes - Emily Brontë



O morro dos ventos Uivantes
No início da trama, o patriarca da família Earnshaw resolve fazer uma viagem e traz consigo um pequeno órfão, que todos acham ser um cigano, porém sua procedência não é revelada em hora alguma da narrativa, ao qual denominam Heathcliff. Toda a afeição que o pai logo demonstra pelo menino enciuma seu filho legítimo, Hindley, que acha que está perdendo a afeição do pai para o menino. Sua irmã, Catherine ou Catarina, se afeiçoa por Heathcliff.

Quando o Sr. e a Sra. Earnshaw morrem, Hindley sujeita Heathcliff a várias humilhações. Este passa a ficar bruto e melancólico. Apesar do amor entre ele e Catarina, ela decide casar com Edgar Linton, por esse ter melhores condições de sustentá-la que Heathcliff.

Heathcliff sai do Morro dos Ventos Uivantes e, quando volta, está rico, chamando a atenção de Catarina e despertando ciúmes em seu marido
Meu comentario: eu recomendo e muitooooooo, realmente muito bom.
Este é um dos romances mais apaixonantes que eu já li. O ambiente sombrio e tempestuoso nos transmite um senso de mistério. Uma estória muito intensa e cativante. É uma estória sobre amor não correspondido e vingança. Para ler um pouco do capitulo clique em Leia Mais ou

CAPÍTULO I


1801

Acabei de chegar de uma visita ao meu senhorio — o único vizinho que me poderá incomodar. Que bela re¬gião, esta! Em toda a Inglaterra, acho que não poderia ter encontrado um lugar tão completamente afastado da sociedade humana. Um perfeito paraíso para os misantropos; eu e o Sr. Heathcliff formamos um par bem ade¬quado para dividi-lo entre ambos. Grande sujeito! Não deve ter suspeitado de como simpatizei com ele, assim que vi os seus olhos negros recolherem-se, desconfiados, sob as sobrancelhas, à medida que eu me aproximava, e os seus dedos afundarem ainda mais, com ciumenta determi¬nação, no seu colete, quando anunciei quem era.
— Sr. Heathcliff? — disse eu. A resposta foi um aceno.
— Sou Lockwood, o seu novo inquilino. Tenho a honra de vir falar com o senhor logo após a minha che¬gada, para dizer-lhe que espero não o ter importunado com a minha insistência em solicitar a ocupação da Granja Thrushcross; ouvi dizer, ontem, que o senhor tinha pen¬sado . . .
— A Granja Thrushcross pertence-me — interrom¬peu ele secamente. — Não iria permitir que ninguém me importunasse e, se pudesse me opor a isso. . . Entre!
Esse "entre" foi dito entre dentes e no tom de quem diz: "Vá para o diabo!" Até mesmo a cancela em que ele se apoiava não fez qualquer movimento para acom¬panhar as suas palavras, e acho que foi precisamente isso que me levou a aceitar o convite: sentia-me interessado por aquele homem, cuja misantropia parecia ainda maior do que a minha.
Quando ele viu o meu cavalo empurrar a porteira, estendeu a mão para abri-la e precedeu-me, soturnamente, ordenando, ao entrarmos no pátio: — Joseph, leve o cavalo do Sr. Lockwood; e traga-nos vinho.
"Eis aí toda a criadagem", pensei, ao ouvir aquela dupla ordem. "Não espanta que a grama cresça entre as pedras do caminho e o gado seja o único jardineiro."
Joseph era um homem de idade, ou melhor, um autên¬tico velho; muito velho, talvez, embora saudável e enérgico. — Deus nos acuda! — murmurou com evidente desprazer, enquanto me desembaraçava do cavalo, e ao mesmo tempo me olhava com ar tão sombrio, que eu caridosamente conjeturei que talvez ele precisasse do socorro divino para digerir o seu almoço e sua piedosa exclamação nada tivesse que ver com a minha inesperada visita.
A propriedade do Sr. Heathcliff chama-se, adequada¬mente, Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes, N. do E.), sendo wuthering um significa¬tivo adjetivo provinciano para designar o tumulto atmos¬férico ao qual ela está sujeita em tempo tempestuoso. De fato, ali sempre sopra um ar puro e estimulante; pode-se imaginar a fúria do vento do norte soprando sobre a pro¬priedade, pela excessiva inclinação de alguns enfezados abetos plantados na extremidade da casa e por uma fila de esquálidos espinheiros, todos estendendo os seus mem¬bros na mesma direção, como se pedindo esmolas ao sol. Felizmente, o arquiteto cuidou de fazê-la forte: as janelas, estreitas, estão bem embutidas na parede, e os cantos são defendidos por grandes pedras salientes.
Antes de atravessar a soleira, parei para admirar uma quantidade de grotescos entalhes espalhados sobre a fa¬chada e, principalmente, à volta da porta, por cima da qual, entre uma orgia de grifos semi-esboroados e menininhos despudorados, detectei a data 1500 e o nome Hareton Earnshaw. Tive vontade de fazer alguns comentários e pedir ao proprietário que me fornecesse um breve histórico do lugar, mas a sua atitude parecia exigir que eu entrasse sem mais delongas ou então partisse, e não quis aumentar-lhe a irritação antes de ter entrado.
Um passo e estávamos na sala, sem qualquer vestíbulo ou corredor introdutório; aqui, dão à sala o nome de "casa", e geralmente serve de cozinha e de sala de estar. Mas creio que no Morro dos Ventos Uivantes a cozinha fora forçada a retirar-se para outros quartéis; pelo menos, distingui um barulho de tenazes e utensílios culinários vindo de dentro da casa, e não vi sinais de assados ou cozidos na enor¬me lareira, nem brilho de caçarolas de cobre ou passadores de lata nas paredes. Numa extremidade da sala, porém, a luz e o calor do fogo se refletiam esplendidamente em filas de imensos pratos de estanho, entremeados de canecas e jarras de prata, que se erguiam, sobre um vasto aparador de carvalho, como uma torre, até o teto. Este nunca fora tapado: toda a sua anatomia estava à vista, exceto onde uma prateleira, cheia de bolos de aveia, pedaços de pernas de bois e de carneiros, pernis e presuntos, a escondia. Sobre a lareira viam-se várias armas de fogo antigas, de aspecto terrível, e um par de enormes pistolas, além de três caixas de folhas para chá pintadas com cores vivas e dispostas, à guisa de ornamento, ao longo da beirada da lareira. O chão era de pedra branca e lisa; as cadeiras, primitivas e de espaldar alto, pintadas de verde; uma ou duas, mais pesadas e negras, entreviam-se na penumbra. Sob um arco, debaixo do aparador, repousava uma gran¬de cadela pointer, vermelho-escura e rodeada por uma porção de barulhentos cachorrinhos. Outros cães perambulavam de um lado para outro.
O aposento e a sua decoração não teriam nada de extraordinário se pertencessem a um pacato fazendeiro local, de aspecto teimoso e membros rijos, realçados por calções até os joelhos e polainas. Um tal fazendeiro, sen¬tado na sua poltrona, caneca de cerveja espumejando sobre uma mesa redonda à sua frente, é coisa que se vê em qual¬quer passeio de cinco ou seis milhas por estas colinas, desde que se faça a visita a uma hora certa, logo depois do almoço. Mas o Sr. Heathcliff contrasta singularmente com a casa em que mora e o seu estilo de vida. Na apa-rência, é um autêntico cigano de pele escura; no trajar e nas maneiras, um cavalheiro — isto é, um cavalheiro como o são tantos fidalgos do interior: bastante desalinhado, talvez, mas não desagradavelmente, graças à sua silhueta esbelta e ereta, e também bastante arisco. Possivelmente algumas pessoas veriam orgulho nele; eu tenho com ele uma afinidade que me diz não ser nada disso; sei, por instinto, que a sua reserva vai desde uma aversão às de¬monstrações ostensivas de sentimentos até as manifesta¬ções mútuas de gentileza. Deve amar e odiar igualmente, em silêncio, e achar uma espécie de impertinência no fato de ser amado e odiado. Não, estou me precipitando, atri¬buindo-lhe demasiadamente a minha própria maneira de ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário