segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Renascer da Esperança - Sandra Marton

Noivas de Bilionários 2

Ivy Madison afirma estar esperando um filho do poderoso príncipe Damian Aristedes... O único pro­blema é que ele nunca a viu antes! Ela deve ser apenas mais uma mulher gananciosa querendo se aproveitar de sua vontade de ter um herdeiro... Porém, ele descobre que Ivy realmente está espe­rando um filho seu: como mãe de aluguel! Damian fica furioso, mas decide não deixá-la partir. Afinal lhe foi negado o prazer de conquistá-la a seu modo...


Adendo: Está é uma série de 3 livros. Três amigos que encontram o verdadeiro amor. Dos três livros esse foi o que eu mais gostei.
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CAPÍTULO UM

Damian saía do táxi quando a viu pela primeira vez.

Ele estava de péssimo humor, algo comum nos últi­mos três meses, tanto que já não notava mais qualquer indício de beleza.

Mas um homem precisaria estar morto para não notar aquela mulher.

Atraente, foi a primeira coisa que Damian pensou. Ao menos o que podia ser visto. Grandes óculos escuros co­briam boa parte do rosto, mas os lábios eram sedutores o bastante para fazer um monge pensar em abandonar seus votos.

O cabelo era longo. Parecia sedoso. Uma mistura de fios castanhos e dourados que caiam descuidadamente sobre os ombros.

E a mulher era alta. Devia ter cerca de l,75m, pa­recia uma modelo. Também se vestia como modelo. Usando uma cara jaqueta de couro caramelo, uma calça preta de corte reto e botas pretas de salto alto, era como se tivesse saído diretamente das páginas da Vogue.

Poucos meses antes, ele teria feito mais do que olhar. Teria se aproximado com um sorriso, perguntado se ela também iria almoçar no Portofino's...

Mas não hoje.

Nem no futuro próximo, Damian pensou, estreitando os lábios.

Não importava a aparência por trás daqueles óculos escuros, não estava interessado.

Damian virou-se, entregou algumas notas ao taxis­ta. Um motorista parado atrás do táxi buzinou; Damian olhou para o carro, passou por ele, subiu a calçada...

E viu que a mulher tinha tirado os óculos escuros. Es­tava olhando diretamente para ele.

Ela não era atraente. Era espetacular.

O rosto era perfeitamente oval, as faces salientes, o nariz reto e aristocrático. Os olhos eram incríveis. Amendoados. Verdes. Cílios longos.

E ainda havia a boca. As coisas que aquela boca po­deria fazer...

Droga!

Damian não acreditava ter ficado excitado tão rá­pido, mas também já estava há três meses sem uma mulher.

Nunca tinha ficado tanto tempo sem sexo desde que tinha sido apresentado aos seus mistérios aos 16 anos, no Natal, quando uma das muitas namoradas do pai o seduzira.

A diferença era ser um garoto na época.

Agora era um homem. Um homem com ódio no cora­ção e nenhuma vontade de ter uma mulher em sua vida. Ao menos não por enquanto, mesmo que aquela mulher bonita e desejável...

— Ei, cara, isso aqui é Nova York! Acha que a calça­da é sua?

Damian se virou, pronto para uma briga, e viu quem falava... então sentiu a tensão desaparecer.

— Reyes — disse, sorrindo. Lucas Reyes sorriu também.

— O próprio.

Damian estendeu a mão, mas acabou puxando o velho amigo para um forte abraço.

— É bom ver você.

— Sinto o mesmo. — Lucas recuou, o sorriso hesitan­te. — Pronto para almoçar?

— E não estou sempre pronto para almoçar no Portoflno's?

— Sim. Claro. Eu só... só quis dizer... — Lucas lim­pou a garganta. — Está tudo bem?

— Estou bem.

— Você devia ter ligado. Quando li sobre o... acidente...

Damian ficou tenso.

— Esqueça isso.

— Deve ter sido terrível, amigo. Perder a noiva...

— Eu já disse, esqueça...

— Eu não a conheci, mas...

— Lucas, não quero falar sobre isso.

— Se é o que quer...

— É exatamente o que quero — disse Damian, com tanta convicção que Lucas achou melhor desistir.

— Ok — ele disse, forçando um sorriso. — Nes­te caso... Pedi que Antônio nos reservasse a mesa dos fundos.

Damian se esforçou para sorrir.

— Ótimo. Talvez tenham Trippa alia Savoiarda no cardápio de hoje.

Lucas estremeceu.

— Qual o seu problema, Aristedes? Não basta comer massa?

— Mas tripa é uma delícia — afirmou Damian e logo ambos começaram com as brincadeiras comuns a ami­gos de longa data.

— Como nos velhos tempos — disse Lucas.

Nada seria como nos velhos tempos novamente, Da­mian pensou, mas sorriu e deixou o comentário passar sem resposta.

O compartimento dos fundo estava confortável como sempre. Havia tripa no menu, mas Damian não fez o pe­dido. Nunca fazia. Compartilhava com Lucas a aversão pelo prato.

A provocação era apenas parte da velha amizade.

Mesmo assim, depois de fazerem seus pedidos, de­pois das bebidas já estarem na mesa, os dois continua­vam em silêncio.

— Então — disse Lucas —, quais as novidades?

Damian deu de ombros.

— Nada demais. E você?

— Ah, sabe como é. Estive no Taiti na semana passa­da, vendo uma propriedade na praia...

— Que inconveniente — Damian comentou e sorriu.

— Sim, mas, alguém precisa fazer o trabalho duro.

Mais silêncio. Lucas limpou a garganta.

— Vi Nicolo e Aimee no fim de semana. Naquele jan­tar. Todos lamentaram sua ausência.

— Como eles estão? — perguntou Damian, ignoran­do deliberadamente o comentário.

— Muito bem. O bebê está ótimo também. Silêncio novamente. Lucas tomou um gole de uísque. — Nicolo disse que tentou te ligar, mas...

— Sim. Recebi os recados.

— Eu também tentei. Durante semanas. Fico feliz que tenha decidido atender o telefone ontem.

— Tem razão — respondeu Damian, embora não se sentisse exatamente satisfeito. Estava ali há dez minutos e já estava arrependido de ter concordado em encontrar Lucas.

Mas enganos assim podiam ser remediados, pensou, olhando para o relógio.

— Só que surgiu um imprevisto. Não sei se posso fi­car para almoçar. Vou tentar, mas...

— Mentira.

Damian ergueu a cabeça.

— O quê?

— Você ouviu, Aristedes. Eu disse "mentira". Não existe imprevisto algum. Você só quer escapar do que está por vir.

— E isso seria...?

— Uma pergunta.

— Faça a pergunta, então.

— Por que não contou nada para Nicolo ou para mim? Por que deixou que soubéssemos através destes malditos jornais mexeriqueiros?

— São duas perguntas — comentou Damian calma­mente.

— Sim. E tem uma terceira. Por que não confiou em nós? Não precisava passar por tudo isso sozinho.

— "Tudo isso" o quê?

— Dá um tempo, Damian. Sabe do que estou falando. Droga, homem, perder a mulher que amava...

— Você fala como se eu fosse o culpado — respondeu Damian, a voz fria e monótona.

— Sabe que não foi isso que eu quis dizer. Mas é que eu e Nicolo conversamos e...

— É tudo que você e Barbieri têm para fazer? Fofocar feito duas velhinhas?

Damian viu Lucas estreitar os olhos. Por que não o faria? Estava menosprezando a preocupação de Lucas, mas não se importava. A última coisa que queria era de­monstrações de solidariedade.

— Nós nos preocupamos com você — disse Lucas. — Só queremos ajudar.

Damian deu uma risada melancólica.

— Ajudar a superar a dor, é o que quer dizer?

— Sim, droga. Por que não?

— A única maneira de me ajudar — disse Damian calmamente — seria trazendo Kay de volta.

— Eu sei. Eu compreendo. Eu...

— Não, não sabe. Não compreende. Não a quero de volta para curar minha dor, Lucas.

— Então, o que...

— Eu queria dizer para Kay que descobri que tipo de pessoa ela era. Uma...

Os amigos ficaram em silêncio quando o garçom trouxe a segunda dose dupla de vodca para Damian. O garçom colocou o copo sobre a mesa e olhou para Lucas, que não demorou nem um segundo para se decidir.

— Outro uísque — disse. — Duplo.

Esperaram a bebida ser servida. Então Lucas conti­nuou:

— Olha, sei que está amargurado. Quem não estaria? Sua noiva, grávida. Um motorista bêbado, uma estrada estreita... — Ergueu o copo e tomou um longo gole. — Deve ser difícil. Bem, não conheci Kay, mas...

— É a segunda vez que diz isso. E está certo, você não a conhecia.

— Bem, você se apaixonou, não demorou a pedi-la em casamento. E...

— Amor não tem nada a ver com isso.

Lucas arregalou os olhos.

— Não?

Damian encarava o amigo. Talvez fosse a vodca. Tal­vez fosse a maneira como seu velho amigo o encarava. Talvez fosse a lembrança da mulher do lado de fora do restaurante, da época em que não desprezaria a si mesmo por desejar uma mulher.

Quem sabia a razão? Só sabia que estava cansando de manter a verdade enterrada dentro dele.

— Não a pedi em casamento. Ela estava morando co­migo, aqui em Nova York.

— Sim, e...

— Estava grávida — afirmou Damian. — Depois per­deu o bebê. Ao menos foi o que ela disse.

— O que está querendo dizer?

— Ela nunca esteve grávida — Damian fechou a cara. — O bebê foi uma mentira.

Lucas ficou pálido.

— Ela o enganou?!

Se houvesse uma nota sequer de pena naquelas pala­vras, Damian teria saído do restaurante. Mas não havia. Tudo o que ouviu na voz de Lucas foi choque, indigna­ção e uma agradável pitada de raiva.

De repente, os sons abafados das vozes e das risadas, o tilintar de copos e talheres, lhe pareciam terrivelmente importunos. Damian se levantou, largou algumas notas sobre a mesa e olhou para Lucas.

— Comprei um apartamento. Fica a poucas quadras daqui.

Lucas estava de pé antes que Damian terminasse de falar.

— Então vamos.

Naquele instante, pela primeira vez desde que tudo se passara, Damian começava a imaginar que a vida volta­ria a normalidade.

Horas mais tarde, os dois amigos estavam sentados, um de frente para o outro, na sala de estar do dúplex de 15 cômodos de Damian. A vodca e o uísque tinham cedido espaço ao café forte.

As três paredes de vidro proporcionavam uma visão magnífica, mas nenhum deles prestava atenção. Só im­portava saber a visão que Damian tinha da alma de uma mulher ardilosa.

— Então estavam saindo há algum tempo.

Damian assentiu.

— Sempre que eu estava em Nova York.

— E você tentou terminar o relacionamento.

— Sim. Ela era bonita. Muito sexy. Mas quanto mais a conhecia... Pode parecer loucura, mas era como se Kay usasse uma máscara e aos poucos a deixasse cair.

— Não é loucura — disse Lucas um tanto sério. — Existem mulheres por aí que fariam qualquer coisa para agarrar um homem com dinheiro.

— Ela começou a mostrar um lado que eu não tinha visto antes. Só se importava com posses, tratava as pes­soas feito lixo. Taxistas, garçonetes... — Damian bebeu um pouco de café. — Eu quis sair dessa.

— Quem não sairia?

— Pensei em parar de ligar, mas sabia que não seria correto. O mais decente seria dizer que tudo tinha aca­bado. Então liguei, convidei Kay para jantar. — O rosto ficou impassível. Damian foi até uma das paredes envidraçadas e olhou para a cidade. — Bastou uma frase para que ela começasse a chorar. Disse que estava esperando um filho meu.

— Acreditou nela?

Damian voltou-se para Lucas.

— Éramos amantes há alguns meses, Lucas. Você te­ria feito o mesmo.

Lucas suspirou e levantou-se.

— Tem razão. — Ficou calado por um instante. — Então, o que você fez?

— Disse que a sustentaria. Ela disse que se eu real­mente me importasse com o bebê, a convidaria para mo­rar comigo.

— Meu Deus...

— Sim, eu sei. Mas ela estava esperando um filho meu. Ao menos era o que eu acreditava.

Lucas suspirou novamente.

— Claro.

— Foi um pesadelo — disse Damian, estremecendo. — Acho que ela se imaginou segura para deixar a más­cara cair completamente. Travava meus criados feito es­cravos, gastou uma fortuna na Tiffany... —- Ele cerrou o queixo. — Eu não queria nada com ela.

— Nada de sexo? — perguntou Lucas de pronto.

— Nada. Para começar, eu nem conseguia compreen­der porque tinha dormido com ela. Kay achou que eu tinha perdido o interesse por causa da gravidez. — Fez uma careta. — Começou a falar como as coisas seriam diferentes se não estivesse grávida...

Damian rumou para a mesa onde estava o serviço de café. Antes de chegar à mesa, resmungou qualquer coisa em grego e tomou a direção de um armário na parede.

— O que quer beber?

— O que você servir.

A resposta trouxe um arremedo de sorriso aos lábios de Damian. Ele serviu quantidades generosas de conha­que num par de copos de cristal e estendeu um para Lu­cas. Ambos beberam.

— Semanas depois, ela me disse que tinha sofrido um aborto. Eu me senti... não sei o que senti. Triste, com a perda do bebê. Bem, para mim já era um bebê, não um amontoado de células. — Damian meneou a cabeça. — Para ser sincero, depois de tudo que passei, fiquei aliviado. Finalmente poderia terminar a relação.

— Mas ela não queria que a relação acabasse.

Damian deu uma risada amarga.

— Você é mais esperto do que eu fui então. Ela ficou histérica. Disse que eu tinha feito promessas, implorado para que passássemos a vida juntos.

— Mas você não tinha prometido nada.

— Exatamente. A única coisa que nos unia era o bebê. Certo?

— Certo. — disse Lucas, embora não precisasse ter dito nada.

Damian já estava contando tudo.

— Ela parecia ter se afundado em depressão. Ficava na cama o dia inteiro. Não comia. Disse que foi ao obstetra, que a aconselhou a engravidar novamente.

— Mas...

— Exatamente. Eu não queria um filho, não com ela. Queria sair daquilo. — Damian tomou outro gole de conhaque. — Ela implorou para que eu reconsiderasse. Vinha para o meu quarto no meio da noite...

— Vocês estavam em quartos separados?

Havia uma luz fria nos olhos de Damian.

— Desde o começo.

— Claro, claro. Desculpe. Você dizia...

— Mas ela era boa no que fazia. Tenho que admi­tir. Na maioria das noites, eu a despachei, mas teve uma vez... — Um músculo saltava no queixo de Damian. — Não me sinto nada orgulhoso disso.

—Não se torture, homem. Se ela o seduziu...

— Usei preservativo. Ela ficou louca. "Quero um fi­lho seu", ela dizia. Então...

Damian ficou em silêncio. Lucas se aproximou.

— Então?

Damian respirou fundo.

— Então ela me disse que tinha ficado grávida. O mé­dico tinha confirmado.

— Mas o preservativo...

— Ela disse que rasgou quando... quando o tirou...

— Ele limpou a garganta. — Bem, por que duvidar? Es­sas porcarias sempre rasgam. Todos sabem disso.

— Então... então ela estava grávida novamente.

— Não — respondeu Damian. — Não estava grávida. Ah, ela mostrava todos os indícios. Enjôos matinais, sor­vete com picles no meio da noite. Mas não estava grávi­da. — A voz ficou grossa. — Nunca esteve. Nem antes, nem naquele momento.

— Damian, não pode ter certeza...

— Kay queria meu nome. Meu dinheiro. — Damian deu uma risada. — Meu título, essa coisa de "realeza" que nós dois sabemos que não passa de bobagem. Kay queria tudo. — Ele respirou fundo. — E mentiu dizendo que estava grávida para conseguir.

— Quando você descobriu?

— Quando ela morreu — respondeu Damian. Tomou o resto da bebida e encheu o copo novamente. — Eu estava em Atenas a negócios. Ligava todas as noites para saber como estava a gravidez. Depois descobri que ela tinha arranjado um amante, que estava com ele quando eu estava fora.

— Diabos! — resmungou Lucas.

— Estavam em Long Island. Uma estrada estreita e sinuosa no Estreito, ao longo da Costa Norte. Ele estava dirigindo, os dois tinham consumido álcool e cocaína. O carro passou por cima do parapeito. Nenhum dos dois sobreviveu. — Damian ergueu a cabeça, os olhos vazios. — Você falou de dor, Lucas. Eu realmente sofri, não por ela, mas por meu filho que não tinha nascido... até re­mexer os papéis de Kay, tentando organizar as coisas, e encontrar um artigo recortado de uma revista falando sobre todos os sintomas de gravidez.

— Isso não significa...

— Fui ao médico dela. Ele confirmou. Kay nunca es­teve grávida. Nem na primeira vez, nem na segunda. Foi tudo mentira.

Os dois amigos ficaram em silêncio até o sol desapa­recer no horizonte. Por fim, Lucas limpou a garganta.

— Queria ter algo inteligente a dizer.

Damian sorriu.

— Você me fez falar. Não sabe o quanto isso me fez bem. Estava com tudo preso aqui dentro.

— Tenho uma idéia. Aquela minha boate, lembra? Vou lá me encontrar com alguém interessado em com­prá-la.

— Mas já?

— Sabe como são as coisas em Nova York. A sensa­ção de hoje é o traste de amanhã. — Lucas relanceou o relógio. -— Vamos ao centro comigo, tome um drink en­quanto falo de negócios e depois saímos. — Ele sorriu. — Vamos jantar lá na Spring Street. Dois solteiros na cidade, como nos velhos tempos.

— Obrigado, amigo, mas não seria uma boa compa­nhia esta noite.

— Claro que seria. E não ficaremos sozinhos por mui­to tempo. —- Outro sorriso. —Antes que você perceba, vai ter um par de belas mulheres nos rodeando.

— Ficarei longe de mulheres por enquanto.

— Posso entender, mas...

— É o que preciso agora.

— Tem certeza?

Inexplicavelmente, a imagem de uma mulher de olhos verdes e cabelos claros de sol surgiu diante de Damian. Não queria ter prestado atenção nela, muito menos lem­brar dela...

— Sim — afirmou bruscamente —, tenho certeza.

— Sabia que é preciso montar o mesmo cavalo quan­do se é jogado no chão? — comentou Lucas, sorrindo.

— Eu disse quase a mesma coisa para Nicolo no ano passado, na noite em que ele encontrou Aimee.

— E?

— E foi um bom conselho, mas não me serve. A situa­ção é diferente.

O sorriso de Lucas arrefeceu.

— Tem razão. Só preciso ligar para esse camarada que vou encontrar hoje...

— Não, não faça isso. Prefiro ficar sozinho esta noite. Pensar um pouco, começar a deixar esse assunto para trás.

Lucas meneou a cabeça.

— Não é problema nenhum, Damian. Posso me en­contrar com ele amanhã.

— Fico agradecido, mas, sinceramente, já me sinto bem melhor agora que conversamos. E, Lucas... Obri­gado.

Por nada — respondeu Lucas, sorrindo. — Ligo amanhã, tudo bem? Talvez possamos jantar juntos.

— Eu adoraria, mas volto para Minos amanhã pela manhã — Damian apertou o ombro do amigo. — Cuide-se, Jilos mou.

— Você também. — Lucas franziu a testa. Damian pa­recia melhor, mas ainda havia um ar estranho nos olhos dele. — Queria que mudasse de idéia quanto hoje à noi­te. Esqueça o que eu disse sobre mulheres. Podemos ir à academia. Levantar um peso. Correr um pouco.

— Acha mesmo que vencê-lo novamente faria com que eu me sentisse melhor?

— Você só me venceu uma vez, anos atrás em Yale.

— Um pequeno detalhe.

Os dois riram. Damian passou o braço pelo pescoço de Lucas enquanto caminhavam até a porta.

— Não se preocupe comigo, Reyes. Vou tomar um longo banho, tomar outro conhaque e então, graças a você, ter uma noite de sono decente depois de meses.

Apertaram as mãos. Damian fechou a porta, apoiou-se nela e desfez o sorriso.

Tinha dito a verdade para Lucas. Sentia-se melhor. Desde a morte de Kay, três meses atrás, evitava amigos e conhecidos; tinha dedicado cada minuto de seus dias aos negócios na esperança de livrar-se da raiva.

Por que sentir raiva de uma mulher morta?

— Não faz sentido — murmurou Damian enquanto subia a escada para o quarto. — Sentido nenhum.

Kay o enganara. E daí? Homens sobreviviam a coisas piores. E se, nas profundezas da alma, ainda lamentava a perda de uma criança que jamais existiu, uma criança que nem queria, bem, teria de lidar com isso também.

Tinha 31 anos de idade. Talvez fosse hora de sossegar. Casar. Ter uma família.

Thee mou, estava louco?

Para casar e ter filhos, precisaria de uma esposa. E não arranjaria uma esposa tão cedo.

Lucas tinha razão.

O melhor remédio para sua aflição seria uma mulher. Um corpo suave e condescendente. Uma boca ansiosa. Uma mulher sem nada a esconder, sem outros planos se­não prazer...

Lá estava ela. A mesma imagem. A mulher de olhos verdes e cabelos claros de sol. Droga, tinha perdido uma bela chance! Mesmo de mau humor, tinha percebido o que aquele olhar significava.

A dama estava interessada.

A verdade era que as mulheres geralmente ficavam interessadas por ele.

Ele também tinha ficado interessado... ou melhor, te­ria ficado interessado se não estivesse ocupado sentindo pena de si mesmo. Sim, era isso o que estava sentindo. Raiva, com certeza, e um bocado de autocomiseração.

Já tinha se lamentado o suficiente.

Ligaria para Lucas. Diria que os planos para a noi­te pareciam bons. Jantar, bebidas, um par de mulheres bonitas. E daí que uma delas não tivesse olhos verdes, cabelos claros de sol...

A campainha tocou.

Damian ergueu as sobrancelhas. Um elevador particu­lar era o único acesso ao apartamento. Ninguém entrava sem permissão do porteiro, que dependia da permissão de Damian.

Amenos que...

Damian sorriu.

— Lucas — murmurou, descendo rapidamente a es­cada. O amigo devia ter voltado

Damian chegou à porta dupla.

— Reyes — ele disse contente enquanto abria a por­ta —, aprendeu a ler mentes? Eu ia mesmo ligar para você...

Mas não era Lucas quem esperava no vestíbulo de mármore.

Era uma mulher. A mesma mulher que estava em frente ao Portofino's.

A beldade de olhos verdes que não saía de sua cabeça.

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