domingo, 1 de agosto de 2010

Segredos da Amo r- Nalini Singh



Tudo não passava de um trato diabólico...


De que outra forma poderia ser descrito o pacto entre Jessica Randall e o milionário Gabe Dumont? Em troca de se casar com ele e dar à luz seu herdeiro, Gabe salvaria a família de Jessica da falência total. E o acordo fora friamente preparado, sem deixar de fora qualquer cláusula de segurança.
Porém, segredos e intrigas ameaçam a estabilidade de uma união tão bem planejada. E quando a crescente atração entre Gabe e Jessica supera todas as barreiras impostas pelo trato, esse casamento por conveniência torna-se absolutamente inconveniente.
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CAPÍTULO UM

A última pessoa que Jess Randall esperava encontrar ao che¬gar no portão de desembarque do Aeroporto Internacional de Christchurch era o homem com quem estava para se casar
— Gabriel! O que faz aqui?
— Depois de um ano morando em Los Angeles isto é tudo que tem a dizer?
Aturdida, ela se inclinou para dar um rápido beijo no rosto dele. Era estranho, esquisito.
— Desculpe, só fiquei surpresa. Não está ocupado com o trabalho na fazenda?
— Eu queria conversar com você. Mas uma coisa de cada vez. — Então, sem qualquer aviso, beijou-a na boca.
Depois da atitude inesperada, ela não conseguiu fazer nada senão se agarrar com força à camisa dele para manter o equilíbrio. As batidas do coração eram tão intensas que Jess parecia ouvi-las. Ela estava eufórica. Estava envolvida por Gabriel, um homem que exigia para si tudo que ela tinha.
Foi o beijo mais íntimo que trocaram, e seus corpos nunca estiveram tão próximos. Jess ficou nervosa. Não porque não tivesse gostado, ao contrário.
— Bem-vinda ao lar — disse ele, soltando-a. Seu olhar não deixava dúvida; Gabriel Dumont estava mais do que pronto para sua noite de núpcias.
Sentindo as pernas vacilantes, ela o observou pegar suas malas. Conduziu-a pela área do aeroporto reservada para os vôos domésticos até a pista de aterrissagem dos aviões menores. O Jubilee, um dos dois aviões da Fazenda Angel, os aguardava.
Estava tão sufocada de medo das expectativas de Gabe — principalmente de sua inexplicável reação ao toque dele — que mal se deu conta de ter entrado no avião. Passara o último ano procurando se convencer que seu casamento seria tranqüilo, estável, semelhante a um acordo de negócios, mas jamais con¬siderara o que significaria de fato ser a esposa de Gabriel... ser tocada e requisitada de um modo que destruía a barreira que ela precisava manter para sobreviver ao acordo firmado.
Seu coração batia descompassado enquanto ele se ajei¬tava ao seu lado no banco do piloto. Assumindo o controle. Gabriel sabia o que queria e exatamente como queria, e sua noiva jamais seria ignorada.
Apesar de ele ser alto e indiscutivelmente forte, tinha mus¬culatura delgada, não era um sujeito volumoso. Mostrava-se em pleno vigor; saudável, impressionante e orgulhoso. As cicatrizes desbotadas de queimaduras no braço esquerdo e nas costas não interferiam em nada; talvez até contribuíssem para a devastadora masculinidade que ele exalava. Some-se isso aos olhos verdes e ao cabelo clareado pelo sol e parecia que ele tinha ficado mais bonito após o hiato de um ano... mais errado para ela.
Gabe podia ter a aparência capaz de atordoar as mulheres, mas sua beleza era certamente intocável. Jess pensou, e não pela primeira vez, na insensatez de se casar com Gabriel, um homem que mal conhecia, apesar de ele ter sido seu vizinho desde criança.
— Então, o que você aprendeu em L.A.? — perguntou ele, bem depois que já estavam voando em segurança.
Ainda desconcertada pelo efeito do beijo, foi um esforço para ela manter a voz calma.
— Que sei pintar.
— Já sabemos disso, Jess. Foi por isso que você foi para os Estados Unidos.
— É. — Ela queria estudar com a renomada pintora Genevieve Legraux. — Quis dizer que descobri que posso investir em uma carreira de pintora. — Deve ter sido uma descoberta impactante para uma mulher que passou a vida toda ajudan¬do os pais em sua pequena fazenda de carneiros, dedicando apenas as horas extras à sua arte.
— Genevieve me encorajou a oferecer meu trabalho a al¬gumas galerias. — Ela ousou até mandar um trabalho para Richard Dusevic, um dono de galeria de Auckland muito bem relacionado e que tem o poder de determinar o sucesso ou o fracasso de um artista.
— Você não disse nada disso quando lhe telefonei.
Ela deu de ombros, relembrando aquelas conversas de duas vezes por semana. Não duravam mais que alguns minu¬tos, mas sempre a deixavam perdida e confusa.
— Eu queria lhe mostrar as pinturas. — Até porque sabia que Gabe não acreditava em nada que não pudesse constatar.
— Devem estar chegando em breve; eu as enviei. O sol refletiu nos cabelos dele, que assentiu.
— Vai sentir falta de Los Angeles?
— Não. — Ela olhou pela janela. Estavam passando pela chamada colcha de retalhos de Canterbury Plains. Logo es¬tariam em Mackenzie Country, um estonteante pedaço de paraíso escondido nas sombras dos Alpes do Sul da Nova Zelândia, o único lugar que ela realmente chamava de lar.
— Eu precisava ficar fora daqui, mas não para sempre. Voltei para ficar.
— Mesmo?
Ela percebeu a mudança de tom na voz dele e virou o rosto em sua direção.
— Que pergunta é essa? Nós vamos nos casar... A não ser que tenha mudado de idéia. — Quem sabe não se apaixona¬ra por uma daquelas mulheres sensuais e autoconfiantes que ficavam se oferecendo para ele. Jess fechou os punhos com raiva ao pensar nisso.
— Estou pronto. — Ele fez um pequeno ajuste nos con¬troles. — Minha preocupação é com você.
— Prometi que voltaria para me casar. E voltei. — Te¬merosa pelo duplo golpe da morte do pai e a execução de hipoteca da fazenda Randall, ela não teria forças para ser esposa de ninguém nos últimos 12 meses, menos ainda de um homem como Gabriel.
— Damon e Kayla se separaram. Ela ficou sem palavras.
— O quê? Achei que Kayla estivesse grávida.
— E com uma barriga bem volumosa. Seu namorado a abandonou três meses atrás.
Aquela notícia soou como um tapa. — Damon é meu amigo, nada mais.
— Por mais que você deseje outra coisa? — Ele olhou para ela com olhos tão frios que Jess só conseguiu ver o seu reflexo.
— Sim. Por mais que deseje outra coisa — reconheceu ela, apesar da humilhação. — Ele nunca amou nem a mim nem a Kayla.
— O garoto sai com qualquer pessoa que tenha um par de seios. As palavras bruscas a fizeram corar.
— Nem dá para chamá-lo de garoto. Ele tem a minha ida¬de. — E 26 anos eram mais que suficientes para crescer, e crescer de verdade.
— Ele agora está agindo como criança. — Gabe ignorou o que Jess disse. Com 35 anos, era nove anos mais velho do que ela, e a diferença ficava mais evidente em momentos como aquele.
— Como isso aconteceu? — perguntou ela, com o baru¬lho do motor lhe massacrando a mente. — E por que nunca, me disse? Ele olhou-a de um jeito estranho.
— Damon não disse?
— O quê? — Ela prendeu os cabelos por trás das orelhas — Não, não nos falamos desde que parti.
— Nunca?
— Não — mentiu ela, tentando não pensar no único tele fonema que recebeu de Damon, que ligou de um bar quatro meses atrás. Estava bêbado, mas disse coisas que nenhum homem casado deveria dizer... coisas que ela não devia te escutado. — O problema é sério?
— Parece que vão se divorciar.
— Coitada da Kayla.
— Hipocrisia, Jess? Não esperava isso de você. Ela corou ainda mais.
— Pense o que quiser, mas eu não desejo esse tipo de dor a mulher nenhuma. A não ser que... foi ela quem quis se separar?
— Pela aparência dela, acho que não.
— Não acredito que Damon possa abandonar seu casa¬mento.
— Talvez ele tenha finalmente se dado conta do que abriu mão. — O tom de voz de Gabe foi claramente desafiador — O que você vai fazer?
— Fazer? — Ela ainda estava tonta com as implicações da primeira frase.
— Vamos nos casar amanhã. Portanto, se pretende correr atrás de Damon, é melhor ir dizendo logo.
Jess respirou fundo, meio suspirando, e soltou o ar.
— Como espera que eu decida imediatamente?
— Da mesma forma que decidiu se casar comigo e usar o meu dinheiro para ir para Los Angeles.
— Não me acuse! Você concordou que era melhor eu de¬saparecer por um ano.
No rosto bronzeado dele era visível a tensão no maxilar.
— Responda a droga da pergunta. Você quer casar ou não?
Na verdade, ela não tinha muita escolha. Se recuasse, perderia a única e mínima ligação com o que fora um dia a fazenda Randall.
— Por quanto você venderia a fazenda?
Gabe nunca fez questão da propriedade. Ele só se pronun¬ciou durante a hipoteca porque Jess implorou. Mas agora era o dono. Dono dela.
— Você não tinha uma quantia daquela antes e não tem agora. Nem Damon.
Fatos inquestionáveis. Jess também devia a Gabe o ano que passara em Los Angeles, do qual precisou tão desesperadamente para conseguir crescer. E ela cresceu mesmo. Podia amar Damon, mas fizera uma promessa no leito de morte de seu pai, e estava disposta a cumprir. Os Randall nunca arre¬dariam pé de suas terras.
— Vou casar com você.
— Assinará um termo pré-nupcial. Ela entendeu bem as entrelinhas.
— Não vou tentar ganhar as terras de volta por meio de um divórcio. Você as comprou livre de hipoteca. — E assim salvou-as dos construtores que queriam destruir tudo.
Pagar o preço que ele exigia, ou seja, casar, inicialmente não pareceu um sacrifício tão grande. Principalmente porque ela acreditou que o casamento não lhe exigiria compromis¬so emocional, permitindo que ela resguardasse o corpo e a alma. Nunca lhe passou pela cabeça que Gabe não aceitaria que ela mantivesse essa distância.
Até que ele a beijou.
— Meu advogado trará os papéis amanhã de manhã.
— Ótimo. — Jess jamais cobiçou o dinheiro de Gabriel, de fato. O que ela não agüentava era perder o direito de freqüentar a terra que lhe fora confiada.
Fez-se silêncio na cabine do piloto. Ela encostou a cabeça no banco e tentou dissolver o dolorido nó na garganta. Da¬mon estava separado. Uma pequena parte egoísta de si, a que amaria Damon para sempre, quis dizer a Gabe para cancela o casamento. Mas havia parado de mentir para si há algum tempo. Mesmo que Damon voltasse a agir como solteiro ele jamais a vira com outros olhos senão os de melhor amigo Para rebater tal lógica, sua mente insistiu em relembrar telefonema inesperado de Damon, as coisas que dissera Ela engoliu em seco e procurou pensar que na ocasião ele estava bebendo. Não sabia bem o que estava fazendo. Não teve a intenção. Ela não agüentava pensar o contrário.
— E por que perdeu tanto peso? — A pergunta de Gabe cortou o ar como um punhal.
— Simplesmente aconteceu. — Uma combinação de luto choque e stress dos primeiros meses em uma cidade estranha' — Achei que fosse gostar. — Afinal, suas mulheres sempre foram do tipo lindas e esguias, esbeltas. E ela continuava baixinha e não podia ser chamada de magra.
— Não estou casando com você por causa de seu corpo Ela mordeu o lábio inferior.
— Não.
Apesar daquele beijo devastador, ela sabia que um homem rico, bem-sucedido e extremamente atraente como Gabriel Dumont não estaria se casando com ela por causa de seu físico. Nem por sua sagacidade ou por seu grande conhecimento da vida na fazenda. Gabriel estava se casando com ela por uma razão simples: ao contrário de todas as mulheres que cruzaram seu caminho antes, Jess não nutria qualquer ilusão romântica sobre ele.
Ela não queria nem esperava que ele a amasse, nem agora nem nunca. E por isso ela era forte candidata a se adaptar ao casamento com um homem que não sabia amar e que não queria ser incomodado pelos delírios românticos de uma esposa.
— Comprei um vestido em Los Angeles para o casamento — disse ela, tentando preencher o vazio.
Gabriel não acreditou na aparente calma de Jess.
— Não sente a mínima hesitação?
— Você me deu um ano. Estou pronta agora.
Preciso descobrir quem sou antes de me tornar a senhora Dumont para o resto da minha vida... Nunca aprendi a me conduzir sozinha e agora terei que aprender ao seu lado. Se não aprender, você vai me destruir, mesmo sem querer.
O pedido desesperado que ela fez na noite em que decidi¬ram se casar voltou à mente dele. Resguardada, filha única de pais já não tão jovens, Jess ainda estava sem rumo três meses após a morte do único que lhe sobrara, o pai. Apesar de ser bastante corajosa podia dizer a Gabe o que muitos jamais diriam, ou seja, que ele era capaz de destruir uma personalidade mais suave e menos poderosa que a dele com seu pragmatismo.
A mulher ao lado dele não parecia com a menina arrasada de um ano atrás... a não ser pela coragem subjacente.
— Ótimo — disse ele, sem saber ao certo se gostou da¬quele discreto tom seco. Ele havia escolhido Jess por saber que ela não lhe pediria nada. Tudo o que queria era não per¬der a fazenda da família.
— Você... — disse ela, e parou, e recomeçou. — Você não conheceu outra mulher?
— Quero que você seja minha esposa, Jess. Quero que more na fazenda Randall, tenha meu sobrenome e crie meus filhos. — Ele fez questão de mostrar determinação na voz; já havia decidido e pretendia manter a decisão.
O fato de ela não sentir nada por ele não o desestimulava. Já havia decidido muito tempo atrás que o amor não interfe¬riria em seu casamento.
—Ao contrário de Damon, fiquei com tudo bem guardado dentro das calças desde nosso noivado.
— Você vai ficar falando nele toda vez que conversarmos? Olhou-a ao ouvir a inesperada reprimenda e viu que ela estava de braços cruzados e olhos inflamados. Achou gra¬ça. Ela podia ter crescido um pouquinho, mas Jess ainda era peso-pluma em comparação a ele.
— Quem você quer convidar para o casamento? — perguntou ele.
Ela deu um suspiro de frustração e passou a mão pelo cabelo, remexendo os cachos ruivos. Ele se pegou olhando fixamente para os fios flamejantes. Esta era uma coisa que não havia mudado em Jess: aquela massa revolta de cabe¬lo sedoso que combinava tão pouco com sua personalidade quieta e passiva.
— Gostaria de fazer algo pequeno e convidar apenas pes¬soas de Kowhai — disse ela, referindo-se à cidade mais pró¬xima — e ninguém mais, para não despertar mágoas. Que tal convidarmos apenas o pessoal da fazenda?
— Ninguém mais?
— Não — disse Jess, e pensou se era sua imaginação o tom renovado na voz dele. —As pessoas... ?
— Algumas têm falado no assunto desde que souberam que você estava voltando. — Ele se inclinou para apertar um interruptor e ela ficou fascinada pela força naquela pele dourada escura.
Jess assentiu com a cabeça, incapaz de parar de pensar que em breve as mãos de Gabe estariam tocando partes bem mais íntimas dela que os controles do avião. Pensar nisso reavivou o pânico que sentira antes, mas ela conseguiu se controlar. O dia em que demonstrou temor foi quando perdeu qualquer esperança de fazer seu casamento dar certo. Gabriel jamais respeitaria uma mulher fraca.
— Assim ficará tudo mais fácil.
— Amanhã às quatro está bom para você?
A garganta dela estava tão seca que ela teve de pigarrear para limpá-la.
— OK. — Não havia razão para esperar, já haviam feito o acordo em uma noite chuvosa, um ano atrás.
Agora estava na hora de ela cumpri-lo.

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