terça-feira, 10 de agosto de 2010

Baile do Coração - Jennie Lucas


Baile do Coração




No sedutor calor do Carnaval do Rio de Janeiro, Ellie sucumbiu ao charme de seu carismático chefe, Diogo Serrado. No entanto, depois de possuí-la, o bilionário brasileiro não a quis mais... até descobrir que ela estava grávida. E Diogo não aceitaria nada menos do que o casamento. As noites com seu marido são passionais, mas o casa¬mento é vazio, e Ellie logo se descobre sem saída. O passado de Diogo enrijeceu seu coração de pedra... Será que ele conseguirá retribuir seu amor?
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CAPÍTULO UM


Grávida.
Enquanto Ellie Jensen subia as escadas do metrô, seu corpo ainda estava trêmulo. Ela ouvia os sons abafados dos motoris¬tas de táxi gritando palavrões e buzinando. Os ambulantes já montavam nas calçadas seus carrinhos de cachorro-quente e pretzels. Depois de um longo inverno, Nova York finalmente se rendera ao calor de maio.
Mas Ellie sentia frio até os ossos. Seus dedos dos pés esta¬vam dormentes havia horas, desde que fizera o teste de gravi¬dez, naquela manhã, e vira aquelas duas listras paralelas, cor de rosa.
Grávida.
Ela ia se casar em seis horas e estava grávida.
Do filho de outro homem.
O bebê de seu chefe.
Ellie parou subitamente na frente do edifício Serrado. Ela esticou o pescoço para olhar acima, o 13° andar, e o pânico a invadiu.
Diogo Serrado, o cruel magnata do aço, que a empregara ao longo do último ano, seria pai.
Não posso deixá-la grávida, querida. Ela ainda lembrava de sua voz sexy, naquela noite, ao som do batuque sensual do car¬naval do Rio. Ele sussurrara junto à sua pele: Não se preocupe, é impossível.
E ela acreditara nele!
Como é que ela pôde ser tão imbecil? Com sua história, como poderia ter caído no clichê mais antigo do mundo: uma garota inocente do interior, indo para a cidade grande e sendo seduzida por seu patrão arrogante, rico e sexy?
Ela deveria ter deixado a empresa no Natal, quando Timothy partiu. No mínimo, ela deveria ter dado o aviso prévio semanas antes, como prometera fazer. Mas estava sempre adiando, como se algo a impedisse de perder de vista a cidade que tanto amava, a vida que ela amava. O homem que ela...
Ela parou subitamente, diante de uma idéia.
Havia sido apenas uma paixão passageira. Uma paixão avas¬saladora, depois veio a sedução...
O coração de Ellie se contraiu quando ela olhou acima, para o céu azul, e viu os pássaros cantando. O ar estava quente. Era um mundo novo.
Mas a notícia de sua gravidez não transformaria Diogo em um pai, ela já sabia disso. O conhecido playboy só escolhia mulheres lindas e brilhantes. Ele saía com elas, as tratava como deusas, depois as descartava como se fossem sobras da noite anterior. Se mulheres assim não prendiam a atenção dele, não era de admirar que ele já tivesse esquecido Ellie, uma garota que abandonara o colégio ainda no ensino médio e usava roupas baratas, além de não ter nada de notável em sua aparência!
Diogo Serrado, um pai decente?
O cenário mais provável seria oferecer dinheiro para que ela fizesse um aborto.
— Oh... — Cobrindo o rosto com as mãos, ela o xingou em voz alta, fazendo com que os pedestres passassem apressados, desviando-se dela na calçada.
Por mais inconveniente que fosse o choque com a gravidez, Ellie já passara a amar imensamente o bebê. A criança era sua, sua família.
Mas Diogo tinha o direito de saber. Não?
Ellie cerrou os dentes. Ela atiraria de volta em seu rosto a mentira que ele dissera!
Empurrou a porta giratória do prédio e pegou o elevador até o 13a andar. Sua determinação a deixou rija ao passar pelas por¬tas de vidro do corredor.
— Está atrasada — disse Carmen Alvarez, quando ela passou por sua mesa. — Os números que você me deu, ontem à noite, estão todos errados. O que está havendo com você, menina?
Ellie sentiu o chão se mover sob seus pés, com uma onda de náusea. Ela quase passou mal duas vezes: no metrô e no trajeto quando vinha de seu minúsculo apartamento, em Washington Heights. Andava meio enjoada há meses. Isso deveria tê-la aler¬tado, mas ela dizia a si mesma que seu ciclo deveria estar desregulado. Ela não podia estar grávida. Diogo Serrado dera sua palavra! Não posso engravidá-la, querida.
— Está passando mal? — perguntou a sra. Alvarez, com os olhos estreitos. —Andou festejando a noite inteira?
— Festa? — Ellie deu uma risada fraca. Naquela manhã, quando ela finalmente conseguira fechar o zíper da saia preta risca de giz e abotoar a blusa branca, fora até a drogaria 24 horas para comprar um teste de gravidez com a garota cheia de espi¬nhas que ficava no caixa. — Não, nada de festa.
— Então, é algum homem — disse a mulher mais velha.
— Eu já vi isso antes. Espere bem aí. — Erguendo o dedo em alerta, a secretária executiva atendeu ao telefone. — Escritó¬rio de Diogo Serrado — disse ela, alegremente, virando para o lado.
Uma das secretárias juniores se aproximou e deu um tapinha no ombro de Ellie.
— Você viu a foto do sr. Serrado no jornal esta manhã? — perguntou Jessica, com seu sotaque meigo de sulista. — Ele levou a lady Allegra Woodville ao evento beneficente de ontem à noite. Ela é tão elegante e bonita, você não acha? Mas, também, ela vem da alta classe, como ele. Bem que minha mãe diz: a classe está no sangue. Ela sempre disse que é luxo... — ela olhou para Ellie, e continuou — ... ou lixo.
Ellie trincou os dentes. Ela nunca deveria ter confessado que tinha uma queda por Diogo, nem sua tristeza após o Rio.
Jessica só via seu emprego como um passatempo, até encon¬trar um marido rico, e já fazia tempo que ela estava de olho em Diogo. Ellie vinha tentando alertá-la, com sua própria mágoa.
Mas, em vez de aceitar o alerta, Jessica começou a espalhar boatos maliciosos pelo escritório. Ellie agora era desprezada por toda a equipe, que a achava uma vigarista querendo dar o golpe do baú. Ellie, uma vigarista! Ela, que nunca beijara um homem. Diogo a pegara, no Rio!
Graças a Deus que ela finalmente desistira de seu sonho. Acabou percebendo que a avó estava certa. Seu coração não era tão duro, nem moderno o suficiente para sobreviver à vida na cidade. Ela desistira.
Três semanas antes, finalmente dissera sim a Timothy.
No Natal, ele deixara sua prestigiada função de consultor geral de Diogo Serrado, subitamente decidindo atuar como ad¬vogado em sua pequena cidade natal. Ele pressionara Ellie para que partisse com ele, mas ela se recusara.
Porém, depois de hoje, ela nunca mais teria de ver Nova York outra vez. Nem Diogo. Ela estaria casada com um homem segu¬ro e respeitável, que a amava. Um homem em quem ela poderia confiar.
Isso presumindo que Timothy ainda fosse querê-la depois de saber que ela estava grávida, esperando o filho de outro homem.
A sra. Alvarez desligou o telefone e se virou para Ellie:
— Eu não sei o que você tem feito em seu tempo livre, mas seu trabalho está inaceitável. Essa é sua última chance...
A voz profunda de Diogo a interrompeu, vindo pelo interfone sobre a elegante escrivaninha de madeira escura.
— Sra. Alvarez, venha de uma vez.
Uma onda de pânico percorreu Ellie, diante do som da voz dele, fazendo com que seu coração quase pulasse do peito.
— Sim, senhor — respondeu a secretária executiva, depois soltou o botão do interfone. Seus olhos críticos varreram o rosto pálido e suado de Ellie. — Preciso que você elabore um rela¬tório da Changchun Steel, em dólares. — Como Ellie não se moveu, ela disse. — Ande logo, menina.
— Não — sussurrou Ellie.
A sra. Alvarez se virou de volta, surpresa e zangada.
— O que foi que você disse?
Trêmula, porém determinada, Ellie encarou a mulher mais velha.
— Eu realmente preciso vê-lo.
Ela pareceu aturdida.
— Certamente, não!
— Deixe-a ir — sussurrou Jessica, entredentes. — Quando ele a vir com esse vestido fuleiro, vai despedi-la, com certeza.
Ignorando o comentário maldoso, Ellie foi andando em dire¬ção à porta do escritório.
— Pare aí mesmo! — Transbordando de ódio, a mulher mais velha entrou na frente dela, com o dedo em riste para Ellie. — Essa foi a gota d'água. Não sei quem você pensa que é; mas não é ninguém. Já estou cheia de sua incompetência, de sua insolência! Pegue suas coisas. Você está despedida!
Desesperada, Ellie empurrou a sra. Alvarez para passar e en¬trar no escritório de seu bilionário chefe.

Diogo Serrado estava numa semana infernal.
Depois de trabalhar ininterruptamente e gastar milhões de dólares, sua oferta para a aquisição da Trock Nickel Ltd. aca¬bara de fracassar.
Porque ele havia perdido seu aliado no quadro de diretores deles. Porque perdera uma reunião importante. Porque sua se¬cretária júnior anotara o horário errado.
E esse havia sido apenas o erro mais recente de Ellie Jensen. Ao longo das últimas semanas, ele vira sua performance profis¬sional despencar a níveis ridículos. Ele a vira chegar tarde, sair cedo, tirar longos horários de almoço e passar tempo demais no banheiro, se escondendo.
Provavelmente, chorando.
Xingando entredentes, Diogo levantou de sua mesa e começou a andar de um lado para o outro, em frente às vidraças com vista para os arranha-céus do sudeste de Manhattan e o Battery Park. Por um instante, ele encostou a testa no vidro fresco, olhando para a baía de Nova York, vendo a Estátua da Liberdade, ao longe, contornada pelo céu claro da manhã. Apesar da inexperiência da srta. Jensen e da forma como ele a contratara, sem sequer conhecê-la, segundo a recomendação de seu advogado, ela lhe pareceu ter potencial sufi¬ciente para que ele a levasse para o Rio, para um negócio importan¬te, quando a sra. Alvarez havia ficado doente. Ellie Jensen estava se tornando um patrimônio valioso em seu escritório.
Foi pena que ele cometera o engano de seduzi-la.
Diogo cerrou os dentes. Biskreta, ele jamais deveria tê-la le¬vado para o Rio. Deveria tê-la despedido no Natal, junto com aquele ex-advogado traiçoeiro.
Seu corpo ficou tenso só em lembrar da expressão no rosto claro de Timothy Wright quando Diogo descobriu o que ele ha¬via feito.
— Deveria me agradecer, sr. Serrado — disse ele, astutamen¬te. — Eu lhe poupei milhões de dólares.
Agradecer? Aquele homem merecia arder no inferno.
Diogo também deveria ter despedido Ellie. Por que confiar numa mulher que era amiga de Wright? Mas a consciência de Dio¬go não lhe permitiu despedi-la, por achar que isso seria injusto.
E talvez, ele se forçou a admitir, talvez ele gostasse de tê-la no escritório. Ao contrário da maioria das secretárias, ela sem¬pre agia alegremente, e era gentil. Não era inclinada à fofoca. Iluminava o escritório.
Até que ele dormiu com ela.
Diogo trincou os dentes. Ele soubera que a garota acabara de chegar do interior, porém, como ela tinha 24 anos, nunca lhe ocorreu que ainda fosse virgem. Se soubesse, ele jamais a teria tocado. Virgens estão fora de questão. Elas levam o sexo a sério demais. Vêem isso como um relacionamento, geralmente são tediosas na cama.
Mas Ellie Jensen fora docemente deslumbrante. Com aque¬les olhos azuis, os cabelos louros angelicais e o corpo cheio de curvas, como uma modelo de trajes de banho, ele naturalmente
maeinou que ela tivesse experiência. No calor e na cobiça do carnaval do Rio, ele agira por impulso. Ah, mas foi uma noite e tanto... Ficara excitado, só em pensar.
Mas não, acabou. Há muitas mulheres bonitas no mundo, e ele não tinha o menor interesse em partir corações inocentes. Nem de incentivar garotas ingênuas do interior a pensarem que podiam domá-lo.
Ele ouviu uma confusão na porta do escritório. Irritado, aper¬tou o botão do interfone pela segunda vez.
— Sra. Alvarez, qual é o motivo do atraso?
A porta subitamente foi escancarada, batendo ruidosamente contra a parede. Ele olhou acima, com o maxilar contraído.
— Finalmente. Por favor, faça uma carta...
Mas em vez de sua secretária competente Diogo viu a ruína de sua existência. A mulher cuja beleza e inocência lhe custara um negócio de 1 bilhão de dólares.
— Preciso lhe falar! — disse ela, ofegante, relutando com a sra. Alvarez. — Por favor!
— Srta. Jensen — disse ele, severo, depois a olhou mais atentamente.
Seus cabelos louros estavam presos num rabo de cavalo em desalinho e havia olheiras em seus olhos, como se ela não tives¬se dormido. Sua testa estava pálida, como se estivesse doente. Ela estava com uma aparência realmente horrível, e seu vestido largo a fazia parecer ter engordado 10 quilos da noite para o dia. O que acontecera com sua caprichosa secretária júnior?
Por dentro, Diogo se retraiu. Ele deveria ter esperado por isso. Sem dúvida, a garota pretendia, chorosa, confessar seu amor por ele, depois implorar por um compromisso.
Exatamente o que ele queria evitar. Ele até gostaria de man¬tê-la como amante por mais tempo, mas se negara a esse prazer. Ele propositalmente a ignorara, torcendo para que ela percebes¬se que eles não tinham qualquer possibilidade de um futuro.
Isso havia sido difícil para ele, trabalhando no mesmo escri¬tório. Ao vê-la em seu cubículo, não havia nada que ele quisesse mais do que arrastá-la para seu escritório e fazer amor com ela em cima da escrivaninha, junto à parede, em seu sofá de couro. Mas ele se continha, estava tentando ser nobre. E esse fora o resultado: três meses sem uma mulher em sua cama, e agora um negócio de 1 bilhão fracassado.
— Eu sinto muito, senhor — disse a furiosa Carmen Alvarez, ofegante, ainda puxando a manga da moça. — Tentei impedi-la...
— Deixe-nos, sra. Alvarez — disse ele, baixinho.
A mulher mais velha ficou de queixo caído.
— Mas senhor...
Ele lançou um olhar que a fez imediatamente sair e fechar a porta.
Diogo colocou as pontas dos dedos sobre a mesa de madeira escura.
— Sente-se, srta. Jensen.
A moça nâo se mexeu. Cruzando os braços, ela o olhou, amarga.
— Acho que pode começar a me chamar de Ellie, não acha? Ellie?
Ele jamais seria tão pouco profissional referindo-se a um membro de sua equipe pelo primeiro nome. A sra. Alvarez já era sua secretária executiva há mais de dez anos mas ele nem so¬nhava em chamá-la de Carmen. Mas, por outro lado... ele nunca havia se apoderado de seu corpo, no calor do carnaval do Rio, beijando-a, no meio da loucura coletiva cheia de sensualidade... Ele afastou esse pensamento.
— Sente-se — repetiu ele, e dessa vez a menina obedeceu. Os joelhos dela tremiam quando ela sentou na poltrona de couro, de frente para a escrivaninha dele. Ela estava de braços cruzados, parecendo infeliz, até doente. Isso o deixou inquieto. A expressão nos olhos dela o perturbou, o fez se sentir culpado.
Ele lamentou essa sensação. Droga, ele não sabia que ela era virgem! Se soubesse, jamais a teria tocado!
No entanto, seria melhor falar agora. Obviamente, seu silên¬cio não passara o recado. Nem o fato de que ele saíra com outras mulheres, embora tivesse sido em eventos de caridade, nada de prazer.
Ele teria de ser bruto. Informá-la de que não tinha qualquer intenção de se fixar com mulher alguma, por mais meiga e pura, ou boa na cama, que ela fosse.
Com alguma sorte, Ellie aceitaria sua decisão. Ela voltaria a ser uma secretária competente. Ele tinha que lhe dar uma chan¬ce... Apesar disso, se outro membro de sua equipe tivesse come¬tido um erro que lhe causasse um prejuízo de 1 bilhão de dóla¬res, ele teria despedido a pessoa, sem nem ao menos pensar!
Mas ele não conseguiu fazer isso com Ellie. Não depois de tê-la seduzido no Rio. Não depois de ter tomado a inocência da única moça de coração puro que ele conhecera em Nova York.
Ele a olhou, abaixo.
— O que deseja discutir comigo, srta. Jensen? O que é tão importante que a fez quase brigar com a sra. Alvarez?
Ela engoliu em seco.
— Eu preciso... lhe dizer algo.
— Sim?
Ele se preparou para ouvi-la dizer que o amava, que não po¬dia viver sem ele e queria que fossem morar juntos, ou alguma tolice desse tipo. Já ouvira tudo isso antes.
Em vez disso...
— Eu estou indo embora. — Ela lambeu os lábios. — Pedin¬do minha demissão. Imediata.
O alívio o percorreu, depois... Profundo arrependimento.
Arrependimento? Mas que ridículo. Ele estava apenas surpre¬so, só isso. E lamentava muito perder uma secretária competente. No entanto... Ele se sentou pesadamente na cadeira.
— Lamento ouvir isso. Mas compreendo por que quer ir em¬bora. Eu vou lhe escrever uma carta de referência e você será contratada por qualquer empresa na cidade.
— Não. — Ela sacudiu a cabeça. — Não entende. Não preci¬so de suas referências. Eu vou me casar.
Ele a encarou, chocado.
— Casar? — O centro do peito dele ficou frio. — Quando?
— Esta tarde.
Cedo assim? As mãos dele se contraíram.
— Mas que rápido.
— Eu sei.
Ele respirou fundo. Durante todos esses meses ela não estava chateada por causa dele. Ele não havia magoado Ellie ao sedu¬zi-la. Desde então, ela só estivera distraída por algum romance novo e inflamado. Diogo deveria estar contente.
Mas algo como uma fúria repentina percorreu seu corpo. Sem qualquer motivo, ele subitamente teve o ímpeto de dar um soco no homem que em breve teria Ellie Jensen na cama, todas as noites, murmurando seu nome. Dando a ele seu corpo... Ele contraiu o maxilar.
— Quem é ele?
Ela endireitou a postura na cadeira.
— Você realmente se importa?
— Não. — Ele contraiu o maxilar novamente. — Não me importo.
Ela o encarou por um longo instante.
— Realmente não se importa mesmo, não é? — sussurrou ela, depois sacudiu a cabeça. — As mulheres são permutáveis para você. São úteis apenas para organizar sua agenda, fazer seu café e esquentar sua cama.
Esquentar a cama dele? Se ele tivesse seguido seus próprios desejos, ele a teria tido em sua cama todas as noites pelos úl¬timos três meses. Diogo tentou lembrar por que não o fizera. Algo relacionado a ser nobre. Ele xingou entredentes. Deveria tê-la desfrutado. Agora perdera essa chance, para sempre.
Ele fora substituído com tanta facilidade!
Diogo jamais havia passado pela experiência de ser deixado por uma mulher que ainda desejasse. Essa era a recompensa por fazer a coisa certa? Ver seu prêmio sendo levado por outro homem?
Ele se inclinou à frente, contendo sua fúria, pressionando os dedos sobre a mesa.
— Útil, srta. Jensen? Sua distração com seu caso de amor acaba de me causar a perda do negócio com a Trock...
— Eu lhe disse para me chamar de Ellie! — gritou ela. — E eu não terminei!
Sentindo-se como um santo, ele cruzou os braços e se forçou a esperar.
Lentamente, ela se levantou. Havia um brilho de lágrimas nos seus olhos. Ela pareceu oscilar com a emoção.
— Eu lamento sobre o negócio com a Trock, Diogo. Mas há algo que você precisa saber. — Ela falou tão baixinho que ele mal conseguiu ouvir. — Eu... vou ter um bebê.
O choque que ele sentiu passou a ficar insuportável. Um bebê?
Ellie estava grávida. Do bebê de outro homem.
Por um segundo, ele não conseguia nem respirar. Ele escutou o eco de uma voz feminina, muito tempo atrás, implorando, em português.
— Case-se comigo, Diogo. Você se casa? — Depois, a voz de um homem, na mesma língua. — Receio que ela esteja mor¬ta, senhor. Apanhou até morrer...
— Diogo?
A voz de Ellie o trouxe de volta ao presente. Grávida. Isso certamente explicava o peso que ela ganhara e o tempo que passava no banheiro. Ela não estava sofrendo, aos prantos. Era enjôo matinal.
Grávida. Ellie estivera na cama com outro homem. As per¬nas dela haviam se entrelaçado às dele, enquanto o puxava para ela, gritando de prazer e êxtase. Quantas vezes eles teriam feito amor para que ela estivesse grávida? Três vezes por semana?
Três vezes por dia?
A raiva voltou com força total, superando o choque que ainda reverberava. Desde que haviam regressado da viagem, ele se mantivera celibatário, como um monge, empenhando-se noite e dia para montar o negócio com a Trock. E enquanto ele esta¬va se culpando por tirar a virgindade da pobre moça inocente, ela havia tranqüilamente passado de sua cama para um caso de amor ardente com outro homem. Como se sua noite com Diogo tivesse sido apenas um simples passo para coisas melhores. Ela estava grávida.
Noiva.
E ia se casar apressadamente.
Subitamente, ele viu a situação sob uma nova perspectiva. E puxou o ar. Virando-se para encará-la, curvou os lábios, numa expressão de escárnio.
— Ellie, você representou bem, não? Fazendo o papel de ga¬rota meiga e inocente. Mas quando percebeu que me dar sua vir¬gindade não valeria a pena, rapidamente passou para o homem seguinte, não foi? Você acidentalmente engravidou. Imagino que ele seja muito rico. Parabéns!
O queixo dela caiu. Ela o encarava chocada, com os olhos imensos e azuis, como uma tempestade sobre o Atlântico.
— Acha que eu engravidei de propósito? — sussurrou ela. — Que eu forçaria um homem a se casar comigo por causa de um bebê?
— Acho você esperta — disse ele, friamente. — Todo esse tempo eu a achei muito diferente do restante, mas você é apenas melhor no jogo. Biskreta, você é a atriz mais talentosa que eu já conheci.
— Como pode pensar isso?!
— Estou apenas curioso para saber quem é o pobre tolo — disse ele, cruelmente. — Diga-me. Quem é o idiota que caiu em sua armadilha?
Ele viu as lágrimas nos olhos dela. E endureceu o coração diante das falsas lágrimas, que ela sem dúvida fabricava confor¬me sua vontade. Ele não a deixaria fazê-lo de tolo. Nunca mais! Por três meses ele se preocupara com seus sentimentos. Até se negara a levá-la para a cama, pois estava tentando protegê-la. E todo o tempo ela estivera apenas tramando para ter um anel de diamante no dedo!
Os olhos azuis o fitavam, em meio a uma nuvem de lágrimas.
— Acha que somente um idiota se casaria comigo? — disse ela, engasgando.
— Isso mesmo — disse ele, friamente. — Somente um tolo se casaria com uma mulher que deliberadamente o colocou numa armadilha, usando uma gravidez.
As lágrimas transbordaram.
— Mas que atriz — disse ele, asperamente. — Uma bela performance.
Olhando diretamente para ele, ela deu uma risada amarga em meio às lágrimas.
— Você nunca vai engravidar uma mulher, não é, Diogo? — disparou ela. — Você se assegurou disso.
— Sim, é verdade. — Ele mostrou os dentes, no que pareceu um sorriso. — Nunca conheci uma mulher em quem pudesse confiar por mais tempo do que demorei para seduzi-la.
Ela puxou o ar pela boca.
— E isso é tudo que tem a me dizer? — sussurrou ela. — De¬pois de ter me seduzido e tirado minha virgindade? Depois de três meses de silêncio, você não tem nada a me dizer, exceto insultos?
Um tremor de emoção indesejada percorreu Diogo. Ele afas¬tou esse sentimento. Ellie Jensen queria dar o golpe do baú. Se¬ria ridículo da parte dele ficar tão surpreso com isso. A cidade era cheia dessas mulheres que estavam apenas fingindo ter uma carreira enquanto tentavam encontrar um homem rico.
— Eu tenho uma pergunta, sim — disse ele. — Por que você ainda está aqui, em meu escritório? Pediu demissão de seu emprego sem dar aviso prévio. Ótimo, pois se tornou uma péssima secretária. Fico contente que vá embora. Então, por que ainda está aqui? Teme que seu casamento seja insatisfató¬rio e já quer arranjar um amante? Lamento, mas não saio com mulheres casadas.
Ela limpou as lágrimas, enfurecida.
— Você é asqueroso!
— Não, querida. Você é. Como minha funcionária, eu a res¬peitei. Mas estava errado. — Errado sobre muitas coisas. Pri¬meiro, por conta de Timothy Wright, agora, sobre Ellie. Subita¬mente exausto, Diogo esfregou a nuca. — Vá, Ellie, apenas vá.
Ela recuou, como se fosse um prenuncio antes da tempestade.
— Não se preocupe, Diogo — disse ela, baixinho. — Você nunca mais me verá.
A acusação em seus adoráveis olhos azuis o fuzilaram. Ele se sentiu perturbado de uma forma que não saberia explicar. Mas o momento foi interrompido por uma batida na porta. Um guarda de segurança estava ali.
— A srta. Alvarez me chamou, sr. Serrado.
— Sim. Acompanhe a srta. Jensen até a saída — disse Diogo, desviando o olhar. — Saia, Ellie. Boa sorte.
— Boa sorte — repetiu ela. — Adeus.
Ele olhou para cima, mas a porta já tinha se fechado atrás dela. Sozinho em seu escritório, ele respirou fundo e apoiou a cabeça nas mãos. Tentou trabalhar, mas não conseguiu. Depois de uma hora, desistiu. Ligou para uma linda atriz e a convidou para almoçar.
Quando estava no meio de seu martíni e filé, ocorreu que o filho de Ellie poderia ser dele.

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Proposta Irrecusável - Abby Green


Após ser ignorada em suas tentativas de entrar em contato com Dante D'Aquanni, Alicia Parker aparece em sua villa na Itália acompanhada pela imprensa e afirmando que ele é o responsável pela gravidez de sua irmã. Dante fica furioso. Ele conhece o tipo dela, e a fará pagar pelo insulto!

Ao descobrir que Dante não era o amante de sua irmã, Alicia precisa compensá-lo de alguma forma, e ele quer mais do que meras desculpas. Ele quer a própria Alicia.

Ele a leva para seu mundo de glamour, mas a ardente atração entre os dois não é suficiente para impedi-la de partir... pois Alicia está se apaixonando por um homem por quem jamais será amada...


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CAPÍTULO

— Se tivesse engravidado alguém, eu saberia. Mesmo assim, não seria da sua conta, já que é uma completa estranha. Agora tire as mãos de cima de mim!
Alicia Parker ficou assustada com a reação violenta do homem e afastou a mão que repousara em um braço dele para forçá-lo a parar. Ao mesmo tempo encarou o rosto que exibia feições contrariadas e quase perdeu o fôlego: era o homem mais bonito que já vira em toda sua vida! Alto, forte, moreno e... sexy. Muito sexy!
Os olhos escuros a olhavam com frieza e perplexidade. Provavelmente indignado com a ousadia daquela mulher e suas ridículas acusações. Ela nem mesmo pertencia ao seu círculo social! Deveria tratar-se de uma completa maluca para abordá-lo daquele jeito.
Só o olhar furioso daquele homem arrogante seria o suficiente para intimidar qualquer um. Mas não Alicia. Ela não estava disposta a desistir tão facilmente.
Ela apenas observou quando Dante D'Aquanni, de maneira calma e desdenhosa, alisou a manga do paletó com a palma de uma das mãos para apagar as marcas dos dedos femininos que marcavam o tecido de altíssima qualidade. Em seguida, acenou para os seguranças e prosseguiu no caminho para fora do edifício gigantesco onde ficavam seus escritórios em Londres.
Alicia foi cercada imediatamente pelos guarda-costas e num piscar de olhos estava sozinha e no meio da chuva.
O que acabara de acontecer lhe parecia fruto da imaginação ou um pesadelo.

Infelizmente, o encontro com Dante D'Aquanni, uma semana antes, não se tratava de nenhum sonho ruim. Era a mais pura realidade. Tanto que era o principal motivo pelo qual ela agora seguia a estrada com destino ao lago Como, na Itália, com um carro alugado pelo hotel onde se hospedara e que ficava próximo da região. Enquanto dirigia, Alicia ainda se lembrava do frio que sentira quando suas roupas ficaram encharcadas por causa da chuva que apanhara no dia do último encontro com o homem que nem sequer lhe dera ouvidos. Mas agora tinha certeza de que o obrigaria a escutar o que precisava lhe dizer.
O sol já havia se escondido no horizonte, mas o firmamento ainda mantinha uma coloração violeta-alaranjada.
O momento mágico em que o dia se transforma em noite raramente é admirado nas cidades. Mas ali, na vastidão das planícies que cercavam a rodovia, a beleza da hora ficava exposta em toda a sua magnitude.
Alicia estava apavorada, mas não se deixaria abater por causa da influência e do poder financeiro de Dante D'Aquanni. Encontrava-se em um lugar estranho, onde nem imaginaria estar naquele momento, mas nada no mundo a faria desistir.
Ela piscou algumas vezes para afugentar o sono dos olhos cansados pela noite mal dormida. Estava exausta e à beira de um estresse. Mas não podia se dar ao luxo de descansar, antes de tirar toda a história a limpo. O vexame que ele a fizera passar servira para aumentar a coragem de procurá-lo novamente.
E também não haveria outra maneira de forçá-lo a assumir a responsabilidade pela gravidez da irmã. A imagem da pequena Melanie, com as faces tão pálidas quanto à alvura dos lençóis de Unho da cama do hospital, não lhe saíam da mente, por mais que se esforçasse. As lágrimas quase lhe saltavam dos olhos ao recordar os tubos e aparelhos ligados ao corpo miúdo e indefeso. Se o pior lhe acontecesse... Alicia seria capaz de...
Não. Ela não permitiria que nada de pior acontecesse, nem que para isso precisasse ir até o final do mundo para falar com aquele homem. E Alicia estava desesperada. Precisava de dinheiro para poder proporcionar o melhor tratamento para salvar a irmã e a criança. E Dante D'Aquanni haveria de fazer parte da seqüência de acontecimentos que envolveram Melanie, ainda que fosse apenas com a questão financeira.
A irmã havia sofrido um terrível acidente de carro quando dirigia para ir ao encontro de Dante D'Aquanni. Felizmente ela sobrevivera, embora com algumas fraturas e ferimentos internos. Pelo fato de estar grávida, o quadro se tornava mais complicado e a solução mais segura seria a de transferi-la para o centro especializado em recuperação de grávidas acidentadas, que ficava em Londres, mas que não aceitava planos de saúde. Alicia sabia muito bem o quanto deveria custar um tratamento particular em uma clínica daquele gabarito.
Sem nenhuma família além da irmã e sem amigos que pudessem bancar uma soma de dinheiro tão alta, a única solução seria a de convencer Dante D'Aquanni a assumir a paternidade da criança e financiar o gasto com a recuperação de Melanie e do filho que estava para nascer.
A enfermeira que cuidava de Melanie era uma antiga colega de Alicia, dos tempos de treinamento em enfermagem, e havia lhe assegurado que o quadro da irmã era estável. Diante da promessa da amiga em ligar imediatamente em caso de qualquer alteração, Alicia teve a coragem de se aventurar no encalço do homem responsável pela gravidez da irmã.
Logo pela manhã, já havia estado na mansão que ele mantinha nos arredores do lago Como. Ele não se encontrava lá e a única pessoa que ela avistara nos degraus da entrada do palacete era uma moça morena e de beleza estonteante.
Mais tarde, quando soube que ele estava em um hotel luxuoso na beira daquela mesma rodovia, seguiu para lá e estacionou num local estratégico de onde pudesse ver os hóspedes muito bem vestidos que entravam ou saíam através da porta dupla envidraçada que dava acesso ao salão de recepção do hotel. Aguardou por horas.
Nada.
Alicia beliscou o lábio inferior, orando para que não o tivesse perdido.
De repente, o olhar ansioso captou a imagem do manobreiro estacionando um carro prata na entrada principal. Era o carro dele! Ela remexeu-se no assento e apurou a visão: Dante D'Aquanni, usando um smoking e acompanhado da linda morena que agora trajava um vestido longo vermelho e que a deixava ainda mais deslumbrante, desciam as escadas na direção do carro.
Alicia ficou revoltada. Sabia que Melanie era uma moça bonita, mas nem ela e nem a irmã poderiam sequer imaginar que poderiam fazer frente a uma moça com o estilo daquela morena. E estavam muito longe de alcançar o patamar social do homem extremamente poderoso e carismático. Não era à toa que ele havia descartado Melanie com tanta facilidade!
O manobreiro abriu a porta do carro conversível. Após entregar discretamente uma gorjeta ao rapaz e dar um beijo rápido no rosto da acompanhante, Dante D'Aquanni entrou no veículo e saiu acelerado.
Com as mãos trêmulas, Alicia ligou a ignição do motor de seu carro e apressou-se na perseguição dele. Antes, porém, teve oportunidade de observar as feições contrariadas da morena que subia os degraus de volta à suíte, de onde, provavelmente, os dois teriam saído pouco antes.
E agora, ao cair da noite, ela dirigia novamente em direção ao lago Como, para onde o carro esportivo de cor prata que ela avistava adiante se encaminhava. Lembrava-se da maneira fria como ele havia descartado a moça morena. Aquele homem deveria ter uma pedra no lugar do coração. Deveria achar que poderia destruir os sentimentos de qualquer mulher e sair da situação sem o menor remorso.
Naquele instante, o celular posto no banco do passageiro tocou insistentemente. Alicia verificou que não conhecia o número identificado, mas mesmo assim atendeu:
— Apenas me escute — uma voz masculina soou. — Conversarei com você quando chegarmos perto da mansão de Dante D'Aquanni.
Alicia olhou no retrovisor e, ao ver que um carro a seguia, praguejou baixinho. Havia se esquecido dos seguranças. Mas não estava disposta a permitir que estragassem seus planos. Não poderia fraquejar agora. Não depois de ter tido tanto trabalho em descobrir onde Dante D'Aquanni iria passar os feriados, dentre suas inúmeras casas de veraneio.
A lua cheia banhava a região com seus raios prateados e promovia uma fantástica visão, porém Alicia não podia distrair a atenção das lanternas do carro que seguia adiante do dela, nem mesmo por um minuto.
Assim que se aproximaram dos muros que cercavam a mansão, ela observou o carro prata entrar e os portões serem trancados. Dirigiu-se para o lugar onde estacionara pela manhã, parcialmente escondido pela copa frondosa e baixa de uma árvore e desligou o motor. Aguardou por alguns momentos até avistar que o carro que a seguia se aproximava.
Enquanto isso, os pensamentos devanearam para o dia em que descobriu o que havia acontecido com a irmã. Ela nem mesmo sabia da gravidez de Melanie até o dia em que retornou da África e seguiu direto para o hospital, após uma série de mensagens alarmantes em seu celular e na secretária eletrônica do telefone fixo do apartamento.
Desde que a melhor amiga de Melanie, que sabia tudo a respeito dela, estava viajando em férias, a equipe do hospital teve dificuldade em localizar Alicia para informar-lhe do ocorrido.
Os pensamentos de Alicia se concentraram nas únicas palavras que conseguira ouvir da irmã, em pleno delírio febril. E era por isso que estava ali com tanta convicção.
— Preciso lhe contar, Alicia. Eu estava indo para ver... para falar com Dante D'Aquanni... Ele é o...
— Está querendo me dizer que ele é o responsável pela sua gravidez?
Melanie afundara a cabeça no travesseiro mais uma vez. As frases eram entrecortadas e quase sem sentido.
— Eu sairia da empresa se ele quisesse... só esperava que... — Ela fechou os olhos por alguns segundos e as faces se tornaram mais pálidas. — Preciso que você o encontre. Preciso que ele... Oh, Lissy! Eu o amo tanto e ele o mandou embora...
A febre estava tão alta que a pobre irmã provavelmente estaria dizendo coisas incoerentes, pensara Alicia. Era óbvio que Melanie queria dizer que ele a mandara embora. Os fatos eram confusos, mas Alicia conseguira reunir os pedaços do quebra-cabeça, sem muita dificuldade: A irmã tivera um caso com Dante D'Aquanni, o dono da empresa, e agora, ele queria livrar-se dela, inclusive exigindo que abandonasse o trabalho na firma.
O que mais Alicia lamentava era não ter estado ali quando a irmã mais precisara dela. Talvez até tivesse evitado o acidente. Pelo menos se tivesse ligado mais vezes... Só sabia que Melanie tinha alguém na empresa onde trabalhava e por quem estava apaixonada. Nunca dissera o nome dele para proteger a privacidade do homem que lhe roubara o coração... e a inocência.
Após tentar em vão entrar em contato com a melhor amiga de Melanie, para poder saber algo mais sobre o amante secreto que a irmã sempre tentara proteger e que não passava de um hipócrita da pior espécie, Alicia recorreu à Internet para se informar sobre os hábitos de Dante D'Aquanni.
O ruído do motor do veículo que a seguia e que agora estacionava atrás do seu carro, interrompeu-lhe os devaneios. Ela jogou os cabelos para trás, apanhou a bolsa e enfiou o celular dentro. Depois, muniu-se de um bastão de beisebol e saiu do carro. Reunindo toda a coragem que possuía e com a visão da irmã em sua mente, caminhou decidida na direção dos dois homens que a aguardavam do lado de fora do outro veículo.

Dante D'Aquanni freou bruscamente na porta de entrada da mansão. Alguns cascalhos do pavimento voaram com o impacto. O sentimento de alívio que ele sentia era enorme. Saltando do carro sem nem sequer abrir a porta, ele apressou-se em subir os poucos degraus da entrada da mansão e, após trocar algumas palavras com a governanta que o aguardava na entrada, sentiu-se feliz em adentrar no lugar que considerava seu refúgio favorito.
Recordou das súplicas de Alessandra para trazê-la junto com ele para a mansão. Inclusive dos sussurros eróticos e promessas de prazer que ela lhe confidenciara, enquanto desciam a escadaria do hotel. Porém, aquilo só fez com que ele a dispensasse mais rápido.
Servindo-se de um drinque, ele seguiu para o terraço dos fundos da sala, onde a vista do lago era belíssima e funcionava como um bálsamo para sua mente atribulada. Alessandra Macchi era, sem dúvida, uma das mulheres mais bonitas de toda a Itália. E ela não fazia nenhuma questão de esconder seu interesse em Dante D'Aquanni.
Ele comprimiu os lábios em sinal de censura. Interesse em seu dinheiro, isso sim!
Alguns dias antes, logo que chegou ao lago Como e se dirigira a um quiosque próximo para tomar um refresco, Alessandra apareceu e aproximou-se dele com a velha história do "será que o conheço de algum lugar"! Ele deveria estar cego ou coisa parecida para acreditar naquele chavão. O fato é que naquela tarde acabou cedendo a um impulso e foi até o hotel onde Alessandra se hospedava para levá-la para jantar. Depois permitiu que ela o seduzisse.
Desolado, alisou com dois dedos de uma das mãos a profunda ruga que se instalara entre as espessas sobrancelhas.
O que havia de errado com ele? Normalmente nunca se arrependia de nada que fazia. Sempre pesava os prós e contras de cada decisão que tomava. Alessandra era exatamente o tipo de mulher que o agradava. Bonita, educada e experiente. Não estava atrás de compromissos, pelo menos era o que ela dissera. Então por que razão o encontro foi para ele tão enfadonho, tão mecânico e... insatisfatório?
E quando ela aventou a hipótese de vir com ele para a mansão, um arrepio de repulsa percorreu-lhe a pele só com o pensamento. Com certeza ela não ficara feliz com a rejeição dele, mas agir de maneira rude seria a única alternativa que produziria o efeito que ele desejava. Além do mais, sabia que mulheres como Alessandra são capazes de superar com facilidade esses episódios.
Congratulando a si mesmo pela escapada estratégica, sorveu o último gole da bebida e abandonou a varanda. Ao entrar na sala ouviu o som de vozes alteradas e a governanta no vão da porta de entrada protestando com veemência. Quem estaria querendo entrar em sua casa sem ser convidado?
Dante ficou em estado de alerta e todos os músculos do corpo enrijeceram. Era algo que não lhe acontecia há muito tempo. Sem querer lembrou-se dos constantes perigos que enfrentara nas ruas escuras de Nápoles, onde morara. Mas tudo aquilo fazia parte de um passado distante e que agora ele fazia questão de esquecer.

Alicia estava tentando resolver as coisas com calma, mas o repórter e o fotógrafo que estavam com ela não tinham a mesma polidez. A pobre governanta parecia tão amedrontada que se esforçava para não bater a porta na cara deles. O que mais Alicia desejava no momento seria saber falar no idioma italiano para poder tranqüilizar a mulher e explicar que a única coisa que queriam era falar com Dante D'Aquanni.
E Alicia sabia que precisaria agir rápido. Era uma questão de tempo para que os seguranças aparecessem. Embora eles tivessem entrado através de um buraco no muro que ela havia descoberto antes, e caminhado em meio aos arbustos em total silêncio, o vozerio que se instalara agora, na certa chamaria a atenção dos guardas.
De repente, Dante D'Aquanni surgiu e com algumas palavras dispensou a governanta e assumiu o controle da situação. A presença imponente do homem bastou para que todos se calassem. Ele avançou um passou e fechou a porta atrás de si. Depois cruzou os braços frente ao peito e aguardou pelas explicações. Os olhos escuros finalmente repousaram nos dela.
Alicia sentiu as palavras se entalarem na garganta ao deparar com o olhar intimidante dele e engoliu a saliva por várias vezes. Será que ele a reconhecera?
O repórter resolveu quebrar o silêncio:
— Signor D'Aquanni, por acaso conhece essa mulher?
Dante afastou qualquer hipótese de perigo. Ele conhecia bem os paparazzi da região. Só estava indignado com a audácia de invadirem sua propriedade daquela maneira. E, com certeza a culpa seria daquela mulher. Porém, quando repousou os olhos nela, recordou que era a mesma pessoa que o assediara na saída do edifício onde ficavam seus escritórios, em Londres. Ela emergira por detrás de uma coluna e lhe barrara o caminho. A moça era tão miúda que ele quase a atropelou. Ficou admirado de ter gravado a imagem dela, uma vez que considerado o aspecto feminino, ela não lhe despertara a mínima atração. A única coisa que ele notava somente agora eram os olhos bonitos e acastanhados, perfeitamente delineados por longos cílios. E que no momento o olhavam com espanto e não ameaça.
— Sim. Eu a conheço — respondeu Dante, lacônico. Então ele a tinha reconhecido, concluiu Alicia. Será que também se lembrava do que ela lhe havia dito? Ela sacudiu a cabeça para afastar a insegurança que o olhar frio daquele homem lhe provocava e decidiu que iria despejar toda a história. Esse era o melhor momento. Mesmo que ele os expulsasse dali, daria tempo para que as fotos fossem tiradas. O repórter teria sua história e Dante seria obrigado a tomar conhecimento de tudo que ela precisava falar. Seria forçado a pensar em Melanie e da maneira como a dispensara. Provavelmente como fizera com ela própria e a morena que o acompanhava no hotel naquela tarde. Ela abriu a boca para começar a falar, mas antes disso o repórter se adiantou:
— Sua pequena amiga disse que tem uma ótima história para nos contar.
Dante enrijeceu as feições ao perceber o olhar da mulher se enfurecer, e num relance ele se lembrou das acusações que ela lhe fizera naquele desastrado encontro, quando saía do escritório, em Londres: "Você engravidou minha irmã e se pensa que vai se sair disso sem arcar com suas responsabilidades está muito enganado". Aquela acusação era tão absurda que ele nem mesmo tomou conhecimento. E nem precisava se preocupar. Não havia namorado ninguém em Londres. E tinha certeza de que nenhuma de suas amantes mantinha qualquer relação com aquela mulher. Afinal, ele era um bilionário e suas escolhas muito bem feitas para evitar qualquer tipo de escândalo. Inúmeras mulheres já haviam tentado lhe dar algum tipo de golpe, como provavelmente ela estaria fazendo. Contudo, não havia tempo para averiguar imediatamente quem ela era ou de onde tinha vindo. Talvez fosse uma das funcionárias de seus escritórios...
Assimilando essas idéias em questão de segundos, ele também deduziu que se ela o seguira até ali evidentemente se tratava de algum tipo de chantagem e ela não iria desistir tão fácil. E o pior seria o quanto ela poderia prejudicar sua imagem com aquela tola audácia.
Ele precisava encontrar um jeito de impedi-la. E rápido.
— Esse homem... — Alicia começou a falar com firmeza. Porém sentiu que a voz saiu muito baixa. E, para piorar, um cão começou a latir. Ela girou a cabeça e viu que um dos seguranças se aproximava acompanhado de um cachorro enorme que ele se esforçava para manter seguro na coleira. Ela não tinha muito tempo para dizer o que tinha em mente. Empinou o nariz e encarando Dante D'Aquanni, tentou outra vez: — Esse homem é responsável por...
Antes que terminasse a frase, seus lábios foram atracados com fúria por uma boca masculina que a calou imediatamente. A surpresa foi tão grande que ela ficou desorientada e sentiu o chão sumir. Literalmente. Dante D'Aquanni a suspendeu com seus poderosos braços e aninhou-a no peito imenso, não lhe dando a mínima chance de reação.
Quem sabe se por sentir o odor masculino ou a rigidez do tórax colado ao seu peito, ou então, o sabor do beijo quente e úmido, a verdade foi que Alicia percebeu que toda a indignação desaparecera e que ela começava a se derreter naqueles braços gigantes.
Quando Dante abandonou o beijo e baixou o olhar para o rosto miúdo e notou os arranhões provocados pelos arbustos contra a pele sedosa, as razões que o levaram a tomar aquela atitude agora lhe pareciam confusas. Os olhos grandes e de um castanho cristalino, agora vistos mais de perto, eram a coisa mais linda que já presenciara em uma mulher. Os lábios róseos e cheios exibiam uma sensualidade inacreditável. De onde surgira aquela ninfa? Será que enlouquecera em questões de segundos?
O segurança gritou algumas palavras e o som daquela voz fez com que Dante recuperasse a sanidade de repente. Ao perceber que segurava a mulher contra o peito e no ar, instintivamente pretendeu devolvê-la ao chão. Entretanto, agiu de maneira tão brusca que ao relaxar a força dos braços, o corpo dela deslizou sobre o dele até pôr os pés no chão. Foi só aí que ele percebeu o quanto estava excitado ao sentir o roçar da maciez feminina sobre sua rigidez.
Dante sabia que por mais que quisesse mandar a estranha se reunir aos paparazzi algo inexplicável o impedia. Também não conseguia explicar por que instintivamente resolvera calar a moça usando um beijo como única opção.
Um segurança de físico avantajado surgiu e, agarrando os jornalistas pela nuca, começou a conduzi-los para fora da entrada da mansão. O repórter ainda gritou:
— O senhor foi visto hoje com Alessandra Macchi. O que está acontecendo? Não vai nos contar quem é sua nova namorada? Não irá demorar em descobrirmos e...
Dante preferiu nada responder. Porém de uma coisa estava certo: não poderia cometer a tolice de permitir que aquela mulher fosse embora. Não desta vez. Primeiro precisaria ir até o fundo da questão e descobrir a origem das acusações que ela lhe fazia. E também evitar a todo custo uma publicidade negativa da imprensa que pudesse atrapalhar os negócios que seriam concluídos na semana seguinte.
Repassando na mente os recentes acontecimentos, ainda não entendia a razão de ter agido de maneira tão fora de propósito ao beijar a estranha. Ainda bem que a essa altura os seguranças já deveriam ter confiscado as câmeras dos jornalistas e deletado as fotografias. Porém, com o constante avanço da tecnologia, Dante não poderia ter certeza se os paparazzi não se utilizaram de outros meios para obter as imagens que não através das câmeras.
Como um raio que atravessa os céus em milésimos de segundos, Dante caiu na realidade: Ele beijara a mulher na frente deles! Nem seria preciso a foto!
— Espere! — A voz dele saiu em tom de comando e o segurança estacou.
Alicia queria dizer alguma coisa, mas o beijo de Dante a deixara tão atordoada que ela permanecia imóvel ao lado dele.
— Sabe de uma coisa, jornalista? Saí com Alessandra Macchi apenas para provocar ciúmes em minha nova namorada. — E, inclinando a cabeça, ele roçou os lábios nos de Alicia para provar suas palavras. Depois ostentou um sorriso maroto e exclamou: — E posso garantir que funcionou!
Os repórteres ficaram boquiabertos.
Alicia permanecia calada por conta da surpresa. Dante D'Aquanni merecia ganhar um "Oscar" por conta da atuação, ela pensava. Mas não deixou de notar no brilho dos olhos dele um misto de indignação e frieza.
— Como a conheceu? — gritou um dos jornalistas.
— Bem, um homem tem direito a manter algumas coisas em segredo. E foi por isso que consegui manter por muito tempo esse relacionamento distante da mídia.
Depois que o segurança conduziu os repórteres para fora da mansão, Dante suspirou aliviado. Pelo menos tinha lhes dado uma história que não lhe traria conseqüências desastrosas. Só então ele se dirigiu de maneira severa para Alicia:
— Acho que é desnecessário dizer que essa é a última vez que invade a minha privacidade.
Alicia sentiu as pernas bambearem. Como pôde ser tão ingênua a ponto de pensar que seria fácil pressionar um homem como Dante D'Aquanni?

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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Renascer da Esperança - Sandra Marton

Noivas de Bilionários 2

Ivy Madison afirma estar esperando um filho do poderoso príncipe Damian Aristedes... O único pro­blema é que ele nunca a viu antes! Ela deve ser apenas mais uma mulher gananciosa querendo se aproveitar de sua vontade de ter um herdeiro... Porém, ele descobre que Ivy realmente está espe­rando um filho seu: como mãe de aluguel! Damian fica furioso, mas decide não deixá-la partir. Afinal lhe foi negado o prazer de conquistá-la a seu modo...


Adendo: Está é uma série de 3 livros. Três amigos que encontram o verdadeiro amor. Dos três livros esse foi o que eu mais gostei.
Para baixar o livro clique Aqui

Clique em leia mais para ver 1º capitulo

CAPÍTULO UM

Damian saía do táxi quando a viu pela primeira vez.

Ele estava de péssimo humor, algo comum nos últi­mos três meses, tanto que já não notava mais qualquer indício de beleza.

Mas um homem precisaria estar morto para não notar aquela mulher.

Atraente, foi a primeira coisa que Damian pensou. Ao menos o que podia ser visto. Grandes óculos escuros co­briam boa parte do rosto, mas os lábios eram sedutores o bastante para fazer um monge pensar em abandonar seus votos.

O cabelo era longo. Parecia sedoso. Uma mistura de fios castanhos e dourados que caiam descuidadamente sobre os ombros.

E a mulher era alta. Devia ter cerca de l,75m, pa­recia uma modelo. Também se vestia como modelo. Usando uma cara jaqueta de couro caramelo, uma calça preta de corte reto e botas pretas de salto alto, era como se tivesse saído diretamente das páginas da Vogue.

Poucos meses antes, ele teria feito mais do que olhar. Teria se aproximado com um sorriso, perguntado se ela também iria almoçar no Portofino's...

Mas não hoje.

Nem no futuro próximo, Damian pensou, estreitando os lábios.

Não importava a aparência por trás daqueles óculos escuros, não estava interessado.

Damian virou-se, entregou algumas notas ao taxis­ta. Um motorista parado atrás do táxi buzinou; Damian olhou para o carro, passou por ele, subiu a calçada...

E viu que a mulher tinha tirado os óculos escuros. Es­tava olhando diretamente para ele.

Ela não era atraente. Era espetacular.

O rosto era perfeitamente oval, as faces salientes, o nariz reto e aristocrático. Os olhos eram incríveis. Amendoados. Verdes. Cílios longos.

E ainda havia a boca. As coisas que aquela boca po­deria fazer...

Droga!

Damian não acreditava ter ficado excitado tão rá­pido, mas também já estava há três meses sem uma mulher.

Nunca tinha ficado tanto tempo sem sexo desde que tinha sido apresentado aos seus mistérios aos 16 anos, no Natal, quando uma das muitas namoradas do pai o seduzira.

A diferença era ser um garoto na época.

Agora era um homem. Um homem com ódio no cora­ção e nenhuma vontade de ter uma mulher em sua vida. Ao menos não por enquanto, mesmo que aquela mulher bonita e desejável...

— Ei, cara, isso aqui é Nova York! Acha que a calça­da é sua?

Damian se virou, pronto para uma briga, e viu quem falava... então sentiu a tensão desaparecer.

— Reyes — disse, sorrindo. Lucas Reyes sorriu também.

— O próprio.

Damian estendeu a mão, mas acabou puxando o velho amigo para um forte abraço.

— É bom ver você.

— Sinto o mesmo. — Lucas recuou, o sorriso hesitan­te. — Pronto para almoçar?

— E não estou sempre pronto para almoçar no Portoflno's?

— Sim. Claro. Eu só... só quis dizer... — Lucas lim­pou a garganta. — Está tudo bem?

— Estou bem.

— Você devia ter ligado. Quando li sobre o... acidente...

Damian ficou tenso.

— Esqueça isso.

— Deve ter sido terrível, amigo. Perder a noiva...

— Eu já disse, esqueça...

— Eu não a conheci, mas...

— Lucas, não quero falar sobre isso.

— Se é o que quer...

— É exatamente o que quero — disse Damian, com tanta convicção que Lucas achou melhor desistir.

— Ok — ele disse, forçando um sorriso. — Nes­te caso... Pedi que Antônio nos reservasse a mesa dos fundos.

Damian se esforçou para sorrir.

— Ótimo. Talvez tenham Trippa alia Savoiarda no cardápio de hoje.

Lucas estremeceu.

— Qual o seu problema, Aristedes? Não basta comer massa?

— Mas tripa é uma delícia — afirmou Damian e logo ambos começaram com as brincadeiras comuns a ami­gos de longa data.

— Como nos velhos tempos — disse Lucas.

Nada seria como nos velhos tempos novamente, Da­mian pensou, mas sorriu e deixou o comentário passar sem resposta.

O compartimento dos fundo estava confortável como sempre. Havia tripa no menu, mas Damian não fez o pe­dido. Nunca fazia. Compartilhava com Lucas a aversão pelo prato.

A provocação era apenas parte da velha amizade.

Mesmo assim, depois de fazerem seus pedidos, de­pois das bebidas já estarem na mesa, os dois continua­vam em silêncio.

— Então — disse Lucas —, quais as novidades?

Damian deu de ombros.

— Nada demais. E você?

— Ah, sabe como é. Estive no Taiti na semana passa­da, vendo uma propriedade na praia...

— Que inconveniente — Damian comentou e sorriu.

— Sim, mas, alguém precisa fazer o trabalho duro.

Mais silêncio. Lucas limpou a garganta.

— Vi Nicolo e Aimee no fim de semana. Naquele jan­tar. Todos lamentaram sua ausência.

— Como eles estão? — perguntou Damian, ignoran­do deliberadamente o comentário.

— Muito bem. O bebê está ótimo também. Silêncio novamente. Lucas tomou um gole de uísque. — Nicolo disse que tentou te ligar, mas...

— Sim. Recebi os recados.

— Eu também tentei. Durante semanas. Fico feliz que tenha decidido atender o telefone ontem.

— Tem razão — respondeu Damian, embora não se sentisse exatamente satisfeito. Estava ali há dez minutos e já estava arrependido de ter concordado em encontrar Lucas.

Mas enganos assim podiam ser remediados, pensou, olhando para o relógio.

— Só que surgiu um imprevisto. Não sei se posso fi­car para almoçar. Vou tentar, mas...

— Mentira.

Damian ergueu a cabeça.

— O quê?

— Você ouviu, Aristedes. Eu disse "mentira". Não existe imprevisto algum. Você só quer escapar do que está por vir.

— E isso seria...?

— Uma pergunta.

— Faça a pergunta, então.

— Por que não contou nada para Nicolo ou para mim? Por que deixou que soubéssemos através destes malditos jornais mexeriqueiros?

— São duas perguntas — comentou Damian calma­mente.

— Sim. E tem uma terceira. Por que não confiou em nós? Não precisava passar por tudo isso sozinho.

— "Tudo isso" o quê?

— Dá um tempo, Damian. Sabe do que estou falando. Droga, homem, perder a mulher que amava...

— Você fala como se eu fosse o culpado — respondeu Damian, a voz fria e monótona.

— Sabe que não foi isso que eu quis dizer. Mas é que eu e Nicolo conversamos e...

— É tudo que você e Barbieri têm para fazer? Fofocar feito duas velhinhas?

Damian viu Lucas estreitar os olhos. Por que não o faria? Estava menosprezando a preocupação de Lucas, mas não se importava. A última coisa que queria era de­monstrações de solidariedade.

— Nós nos preocupamos com você — disse Lucas. — Só queremos ajudar.

Damian deu uma risada melancólica.

— Ajudar a superar a dor, é o que quer dizer?

— Sim, droga. Por que não?

— A única maneira de me ajudar — disse Damian calmamente — seria trazendo Kay de volta.

— Eu sei. Eu compreendo. Eu...

— Não, não sabe. Não compreende. Não a quero de volta para curar minha dor, Lucas.

— Então, o que...

— Eu queria dizer para Kay que descobri que tipo de pessoa ela era. Uma...

Os amigos ficaram em silêncio quando o garçom trouxe a segunda dose dupla de vodca para Damian. O garçom colocou o copo sobre a mesa e olhou para Lucas, que não demorou nem um segundo para se decidir.

— Outro uísque — disse. — Duplo.

Esperaram a bebida ser servida. Então Lucas conti­nuou:

— Olha, sei que está amargurado. Quem não estaria? Sua noiva, grávida. Um motorista bêbado, uma estrada estreita... — Ergueu o copo e tomou um longo gole. — Deve ser difícil. Bem, não conheci Kay, mas...

— É a segunda vez que diz isso. E está certo, você não a conhecia.

— Bem, você se apaixonou, não demorou a pedi-la em casamento. E...

— Amor não tem nada a ver com isso.

Lucas arregalou os olhos.

— Não?

Damian encarava o amigo. Talvez fosse a vodca. Tal­vez fosse a maneira como seu velho amigo o encarava. Talvez fosse a lembrança da mulher do lado de fora do restaurante, da época em que não desprezaria a si mesmo por desejar uma mulher.

Quem sabia a razão? Só sabia que estava cansando de manter a verdade enterrada dentro dele.

— Não a pedi em casamento. Ela estava morando co­migo, aqui em Nova York.

— Sim, e...

— Estava grávida — afirmou Damian. — Depois per­deu o bebê. Ao menos foi o que ela disse.

— O que está querendo dizer?

— Ela nunca esteve grávida — Damian fechou a cara. — O bebê foi uma mentira.

Lucas ficou pálido.

— Ela o enganou?!

Se houvesse uma nota sequer de pena naquelas pala­vras, Damian teria saído do restaurante. Mas não havia. Tudo o que ouviu na voz de Lucas foi choque, indigna­ção e uma agradável pitada de raiva.

De repente, os sons abafados das vozes e das risadas, o tilintar de copos e talheres, lhe pareciam terrivelmente importunos. Damian se levantou, largou algumas notas sobre a mesa e olhou para Lucas.

— Comprei um apartamento. Fica a poucas quadras daqui.

Lucas estava de pé antes que Damian terminasse de falar.

— Então vamos.

Naquele instante, pela primeira vez desde que tudo se passara, Damian começava a imaginar que a vida volta­ria a normalidade.

Horas mais tarde, os dois amigos estavam sentados, um de frente para o outro, na sala de estar do dúplex de 15 cômodos de Damian. A vodca e o uísque tinham cedido espaço ao café forte.

As três paredes de vidro proporcionavam uma visão magnífica, mas nenhum deles prestava atenção. Só im­portava saber a visão que Damian tinha da alma de uma mulher ardilosa.

— Então estavam saindo há algum tempo.

Damian assentiu.

— Sempre que eu estava em Nova York.

— E você tentou terminar o relacionamento.

— Sim. Ela era bonita. Muito sexy. Mas quanto mais a conhecia... Pode parecer loucura, mas era como se Kay usasse uma máscara e aos poucos a deixasse cair.

— Não é loucura — disse Lucas um tanto sério. — Existem mulheres por aí que fariam qualquer coisa para agarrar um homem com dinheiro.

— Ela começou a mostrar um lado que eu não tinha visto antes. Só se importava com posses, tratava as pes­soas feito lixo. Taxistas, garçonetes... — Damian bebeu um pouco de café. — Eu quis sair dessa.

— Quem não sairia?

— Pensei em parar de ligar, mas sabia que não seria correto. O mais decente seria dizer que tudo tinha aca­bado. Então liguei, convidei Kay para jantar. — O rosto ficou impassível. Damian foi até uma das paredes envidraçadas e olhou para a cidade. — Bastou uma frase para que ela começasse a chorar. Disse que estava esperando um filho meu.

— Acreditou nela?

Damian voltou-se para Lucas.

— Éramos amantes há alguns meses, Lucas. Você te­ria feito o mesmo.

Lucas suspirou e levantou-se.

— Tem razão. — Ficou calado por um instante. — Então, o que você fez?

— Disse que a sustentaria. Ela disse que se eu real­mente me importasse com o bebê, a convidaria para mo­rar comigo.

— Meu Deus...

— Sim, eu sei. Mas ela estava esperando um filho meu. Ao menos era o que eu acreditava.

Lucas suspirou novamente.

— Claro.

— Foi um pesadelo — disse Damian, estremecendo. — Acho que ela se imaginou segura para deixar a más­cara cair completamente. Travava meus criados feito es­cravos, gastou uma fortuna na Tiffany... —- Ele cerrou o queixo. — Eu não queria nada com ela.

— Nada de sexo? — perguntou Lucas de pronto.

— Nada. Para começar, eu nem conseguia compreen­der porque tinha dormido com ela. Kay achou que eu tinha perdido o interesse por causa da gravidez. — Fez uma careta. — Começou a falar como as coisas seriam diferentes se não estivesse grávida...

Damian rumou para a mesa onde estava o serviço de café. Antes de chegar à mesa, resmungou qualquer coisa em grego e tomou a direção de um armário na parede.

— O que quer beber?

— O que você servir.

A resposta trouxe um arremedo de sorriso aos lábios de Damian. Ele serviu quantidades generosas de conha­que num par de copos de cristal e estendeu um para Lu­cas. Ambos beberam.

— Semanas depois, ela me disse que tinha sofrido um aborto. Eu me senti... não sei o que senti. Triste, com a perda do bebê. Bem, para mim já era um bebê, não um amontoado de células. — Damian meneou a cabeça. — Para ser sincero, depois de tudo que passei, fiquei aliviado. Finalmente poderia terminar a relação.

— Mas ela não queria que a relação acabasse.

Damian deu uma risada amarga.

— Você é mais esperto do que eu fui então. Ela ficou histérica. Disse que eu tinha feito promessas, implorado para que passássemos a vida juntos.

— Mas você não tinha prometido nada.

— Exatamente. A única coisa que nos unia era o bebê. Certo?

— Certo. — disse Lucas, embora não precisasse ter dito nada.

Damian já estava contando tudo.

— Ela parecia ter se afundado em depressão. Ficava na cama o dia inteiro. Não comia. Disse que foi ao obstetra, que a aconselhou a engravidar novamente.

— Mas...

— Exatamente. Eu não queria um filho, não com ela. Queria sair daquilo. — Damian tomou outro gole de conhaque. — Ela implorou para que eu reconsiderasse. Vinha para o meu quarto no meio da noite...

— Vocês estavam em quartos separados?

Havia uma luz fria nos olhos de Damian.

— Desde o começo.

— Claro, claro. Desculpe. Você dizia...

— Mas ela era boa no que fazia. Tenho que admi­tir. Na maioria das noites, eu a despachei, mas teve uma vez... — Um músculo saltava no queixo de Damian. — Não me sinto nada orgulhoso disso.

—Não se torture, homem. Se ela o seduziu...

— Usei preservativo. Ela ficou louca. "Quero um fi­lho seu", ela dizia. Então...

Damian ficou em silêncio. Lucas se aproximou.

— Então?

Damian respirou fundo.

— Então ela me disse que tinha ficado grávida. O mé­dico tinha confirmado.

— Mas o preservativo...

— Ela disse que rasgou quando... quando o tirou...

— Ele limpou a garganta. — Bem, por que duvidar? Es­sas porcarias sempre rasgam. Todos sabem disso.

— Então... então ela estava grávida novamente.

— Não — respondeu Damian. — Não estava grávida. Ah, ela mostrava todos os indícios. Enjôos matinais, sor­vete com picles no meio da noite. Mas não estava grávi­da. — A voz ficou grossa. — Nunca esteve. Nem antes, nem naquele momento.

— Damian, não pode ter certeza...

— Kay queria meu nome. Meu dinheiro. — Damian deu uma risada. — Meu título, essa coisa de "realeza" que nós dois sabemos que não passa de bobagem. Kay queria tudo. — Ele respirou fundo. — E mentiu dizendo que estava grávida para conseguir.

— Quando você descobriu?

— Quando ela morreu — respondeu Damian. Tomou o resto da bebida e encheu o copo novamente. — Eu estava em Atenas a negócios. Ligava todas as noites para saber como estava a gravidez. Depois descobri que ela tinha arranjado um amante, que estava com ele quando eu estava fora.

— Diabos! — resmungou Lucas.

— Estavam em Long Island. Uma estrada estreita e sinuosa no Estreito, ao longo da Costa Norte. Ele estava dirigindo, os dois tinham consumido álcool e cocaína. O carro passou por cima do parapeito. Nenhum dos dois sobreviveu. — Damian ergueu a cabeça, os olhos vazios. — Você falou de dor, Lucas. Eu realmente sofri, não por ela, mas por meu filho que não tinha nascido... até re­mexer os papéis de Kay, tentando organizar as coisas, e encontrar um artigo recortado de uma revista falando sobre todos os sintomas de gravidez.

— Isso não significa...

— Fui ao médico dela. Ele confirmou. Kay nunca es­teve grávida. Nem na primeira vez, nem na segunda. Foi tudo mentira.

Os dois amigos ficaram em silêncio até o sol desapa­recer no horizonte. Por fim, Lucas limpou a garganta.

— Queria ter algo inteligente a dizer.

Damian sorriu.

— Você me fez falar. Não sabe o quanto isso me fez bem. Estava com tudo preso aqui dentro.

— Tenho uma idéia. Aquela minha boate, lembra? Vou lá me encontrar com alguém interessado em com­prá-la.

— Mas já?

— Sabe como são as coisas em Nova York. A sensa­ção de hoje é o traste de amanhã. — Lucas relanceou o relógio. -— Vamos ao centro comigo, tome um drink en­quanto falo de negócios e depois saímos. — Ele sorriu. — Vamos jantar lá na Spring Street. Dois solteiros na cidade, como nos velhos tempos.

— Obrigado, amigo, mas não seria uma boa compa­nhia esta noite.

— Claro que seria. E não ficaremos sozinhos por mui­to tempo. —- Outro sorriso. —Antes que você perceba, vai ter um par de belas mulheres nos rodeando.

— Ficarei longe de mulheres por enquanto.

— Posso entender, mas...

— É o que preciso agora.

— Tem certeza?

Inexplicavelmente, a imagem de uma mulher de olhos verdes e cabelos claros de sol surgiu diante de Damian. Não queria ter prestado atenção nela, muito menos lem­brar dela...

— Sim — afirmou bruscamente —, tenho certeza.

— Sabia que é preciso montar o mesmo cavalo quan­do se é jogado no chão? — comentou Lucas, sorrindo.

— Eu disse quase a mesma coisa para Nicolo no ano passado, na noite em que ele encontrou Aimee.

— E?

— E foi um bom conselho, mas não me serve. A situa­ção é diferente.

O sorriso de Lucas arrefeceu.

— Tem razão. Só preciso ligar para esse camarada que vou encontrar hoje...

— Não, não faça isso. Prefiro ficar sozinho esta noite. Pensar um pouco, começar a deixar esse assunto para trás.

Lucas meneou a cabeça.

— Não é problema nenhum, Damian. Posso me en­contrar com ele amanhã.

— Fico agradecido, mas, sinceramente, já me sinto bem melhor agora que conversamos. E, Lucas... Obri­gado.

Por nada — respondeu Lucas, sorrindo. — Ligo amanhã, tudo bem? Talvez possamos jantar juntos.

— Eu adoraria, mas volto para Minos amanhã pela manhã — Damian apertou o ombro do amigo. — Cuide-se, Jilos mou.

— Você também. — Lucas franziu a testa. Damian pa­recia melhor, mas ainda havia um ar estranho nos olhos dele. — Queria que mudasse de idéia quanto hoje à noi­te. Esqueça o que eu disse sobre mulheres. Podemos ir à academia. Levantar um peso. Correr um pouco.

— Acha mesmo que vencê-lo novamente faria com que eu me sentisse melhor?

— Você só me venceu uma vez, anos atrás em Yale.

— Um pequeno detalhe.

Os dois riram. Damian passou o braço pelo pescoço de Lucas enquanto caminhavam até a porta.

— Não se preocupe comigo, Reyes. Vou tomar um longo banho, tomar outro conhaque e então, graças a você, ter uma noite de sono decente depois de meses.

Apertaram as mãos. Damian fechou a porta, apoiou-se nela e desfez o sorriso.

Tinha dito a verdade para Lucas. Sentia-se melhor. Desde a morte de Kay, três meses atrás, evitava amigos e conhecidos; tinha dedicado cada minuto de seus dias aos negócios na esperança de livrar-se da raiva.

Por que sentir raiva de uma mulher morta?

— Não faz sentido — murmurou Damian enquanto subia a escada para o quarto. — Sentido nenhum.

Kay o enganara. E daí? Homens sobreviviam a coisas piores. E se, nas profundezas da alma, ainda lamentava a perda de uma criança que jamais existiu, uma criança que nem queria, bem, teria de lidar com isso também.

Tinha 31 anos de idade. Talvez fosse hora de sossegar. Casar. Ter uma família.

Thee mou, estava louco?

Para casar e ter filhos, precisaria de uma esposa. E não arranjaria uma esposa tão cedo.

Lucas tinha razão.

O melhor remédio para sua aflição seria uma mulher. Um corpo suave e condescendente. Uma boca ansiosa. Uma mulher sem nada a esconder, sem outros planos se­não prazer...

Lá estava ela. A mesma imagem. A mulher de olhos verdes e cabelos claros de sol. Droga, tinha perdido uma bela chance! Mesmo de mau humor, tinha percebido o que aquele olhar significava.

A dama estava interessada.

A verdade era que as mulheres geralmente ficavam interessadas por ele.

Ele também tinha ficado interessado... ou melhor, te­ria ficado interessado se não estivesse ocupado sentindo pena de si mesmo. Sim, era isso o que estava sentindo. Raiva, com certeza, e um bocado de autocomiseração.

Já tinha se lamentado o suficiente.

Ligaria para Lucas. Diria que os planos para a noi­te pareciam bons. Jantar, bebidas, um par de mulheres bonitas. E daí que uma delas não tivesse olhos verdes, cabelos claros de sol...

A campainha tocou.

Damian ergueu as sobrancelhas. Um elevador particu­lar era o único acesso ao apartamento. Ninguém entrava sem permissão do porteiro, que dependia da permissão de Damian.

Amenos que...

Damian sorriu.

— Lucas — murmurou, descendo rapidamente a es­cada. O amigo devia ter voltado

Damian chegou à porta dupla.

— Reyes — ele disse contente enquanto abria a por­ta —, aprendeu a ler mentes? Eu ia mesmo ligar para você...

Mas não era Lucas quem esperava no vestíbulo de mármore.

Era uma mulher. A mesma mulher que estava em frente ao Portofino's.

A beldade de olhos verdes que não saía de sua cabeça.

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